A dona de casa Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza Samúdio, já se prepara para o dia em que terá que falar sobre a morte da filha para o neto, Bruninho, de 2 anos. “Bruninho é muito pequeno ainda, mas vai crescer e vai querer saber como tudo aconteceu, como a mãe dele morreu. Sei que esse momento vai chegar e estou me preparando para essa conversa", disse em entrevista ao G1.
(A partir de segunda, dia 19, acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)
Sônia viajará de Mato Grosso do Sul até Minas Gerais para acompanhar o júri popular que, a partir desta segunda-feira (19), julgará o goleiro Bruno Fernandes de Souza e mais quatro réus pela participação na morte e desaparecimento da modelo. Ela disse que não vai levar o neto e preferiu não divulgar a data da viagem.
A mãe de Eliza conseguiu a guarda definitiva do neto no dia 30 de maio de 2012. A família deixou o distrito de Anhanduí, no interior do Mato Grosso do Sul, e agora mora em Campo Grande. Além de Sônia e do Neto, também dividem a casa o marido e um filho de 14 anos, irmão mais novo de Eliza.
Ela diz que Bruninho é uma criança alegre, levada e criativa. Já sabe falar diversas palavras e a chama de mãe. "Ele sabe que eu sou a avó, mas me chama de mãe. Quando mostro a foto dela, ele reconhece e diz que ela é a mãe dele que está no céu", contou a avó.
Após a morte da filha, Sônia passou a fazer tratamento com psicólogos. Neste ano, Bruninho também passou a receber acompanhamento profissional. O menino gosta de brincar, correr, pular e também de jogar bola. "É uma criança normal", disse a avó, que contou ainda que o neto torce para o São Paulo, mesmo time de Eliza, segundo ela.
Sônia contou que já viu o goleiro algumas vezes, mas nunca conversou com ele. Ela admite que o menino tem traços físicos semelhantes aos do pai, mas enfatiza que os olhos, a personalidade e as manias são heranças de Eliza. "Ele também gosta de comer as mesmas coisas que ela gostava, tipo batata frita com ketchup", disse a avó. (Assista acima a entrevistas da mãe de Eliza ao G1 e ao Fantástico.)
O julgamento
O júri popular do caso Eliza Samudio, marcado para começar às 9h desta segunda-feira (19), no Fórum Doutor Pedro Aleixo, em Contagem (MG), será presidido pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. Além do goleiro Bruno, estão no banco dos réus outros quatro acusados de participação: Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão; Marcos Aparecido dos Santos, o Bola; Dayanne Rodrigues, ex-mulher de Bruno; e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do goleiro.
Os réus serão julgados por um grupo de sete pessoas, formado por cidadãos maiores de 18 anos residentes em Contagem (MG), sem antecedente criminal ou parentesco com os acusados. Eles são sorteados um a um ao início da sessão entre 25 pessoas previamente escaladas. A juíza Marixa pediu também que suplentes estejam à disposição.
Ao todo, 30 testemunhas serão ouvidas – cinco de acusação, que são ouvidas primeiro, e 25 arroladas pela defesa (cinco para cada réu). Não há limite de tempo para as oitivas. Cada testemunha é questionada pelo juiz, pelo promotor e pelos advogados de todos os réus.
Encerrada essa fase, que promete ser a mais longa, começa o interrogatório dos cinco réus, que têm o direito de permanecer em silêncio. Depois, acusação e defesa apresentam seus argumentos para tentar convencer os jurados de que os réus são culpados ou inocentes.
Por último, o júri se reúne em uma sala secreta para responder a quesitos formulados pelo juiz com "sim" e "não". Eles decidirão se os réus cometeram o crime, se podem ser considerados culpados e se há agravantes ou atenuantes, como ser réu primário. De posse do veredicto, a decisão final dos jurados, a juíza dosa a pena com base no Código Penal, se houver condenação. Se houver absolvição, o réu deixa o tribunal livre.
O crime
Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, a vítima foi entregue para o ex-policial militar Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado. O bebê Bruninho foi achado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG).
Do total de nove acusados, dois serão julgados separadamente – Elenílson Vitor da Silva e Wemerson Marques de Souza. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, teve o processo arquivado.
Investigações
A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais relata o medo que sentia.
Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse proteção.