Um mês após a tragédia que atingiu o bairro Parque Rodoviário, na Zona Sul de Teresina, Edmilson Pereira da Silva, o Seu Dida, de 61 anos, ainda precisa de uma cadeira de rodas para se locomover. O líder comunitário do bairro contou ao G1 que perdeu todos os seus pertences, desde as roupas até os imóveis de onde tirava seu sustento. “Estou limpo, não tenho mais nada”.
Seu Dida foi considerado morto após ser atendido por uma equipe médica horas depois que a barragem que represava uma lagoa dentro de um terreno vizinho ao bairro ceder. A enxurrada devastou várias casas do bairro. Duas pessoas morreram.
“O médico achava que eu estava morto mesmo. Mas depois de eles fazerem muito movimento, conseguiram me trazer de volta. Ele foi perguntando meu nome, onde eu estava, e nada disso eu sabia, desorientado”, relembra.
Seu Dida contou em entrevista ao G1 que sua renda vinha dos aluguéis de três imóveis que tinha no bairro. As casas, assim como a dele, foram destruídas pela enxurrada. O líder comunitário perdeu móveis, roupas, documentos e até mesmo uma quantia em dinheiro, que economizava para comprar um carro.
O líder comunitário disse que nenhum morador do bairro recebeu qualquer ajuda do poder público, e que o apoio dos vizinhos tem sido fundamental para sua recuperação. “Ainda dói muito, e meus medicamentos são caros. Quem está pagando eles é minha amiga Marilande, que trabalha lavando roupas”, disse.
“O povo do bairro é um pessoal humilde, de bem. Na hora que acontece alguma coisa, todo mundo está rente. É um bairro pequeno, mas é unido”.
O defensor público geral, Erisvaldo Marques dos Reis, através de portaria, determinou que fosse feito um grupo de acompanhamento das vítimas e para eventuais providências jurídicas ou administrativas necessárias. Durante três dias, a Defensoria Pública realizou atendimentos presenciais na quadra do bairro, como a impressão de documentos e ações competentes relacionadas à tragédia. E continuou recebendo moradores nos postos de atendimentos das Defensorias Estadual e da União.
Bomba-relógio
O líder comunitário do bairro Parque Rodoviário, Edmilson Pereira Lima-, disse em entrevista ao G1 que foi mais de uma vez até a Superintendência de Desenvolvimento Urbano da zona para alertar sobre a água represada que causou a tragédia.
“No dia que eu fui lá, disse: ‘rapaz, está próximo de uma bomba explodir’”, relembra Edmilson, conhecido como Seu Dida. “’E se essa bomba explodir, vai matar gente’. Eu repassei e ele sorriu, sabe? E eu disse ‘O negócio é sério’”, disse.
Edmilson contou, em entrevista ao G1, que o aviso foi feito ainda em dezembro de 2018. “Antes eu passei aqui e tirei a medição da água. [...] Deu uma faixa de cinco a seis metros de água, de profundidade. Estava faltando uns quatro a cinco palmos para passar por cima do calçamento que estourou”.
O calçamento a que Seu Dida se refere é uma barragem que represava a água dentro do terreno de um clube vizinho ao Parque Rodoviário. Na noite de 4 de abril, por volta das 21h, essa barragem se rompeu, liberando a enxurrada que atingiu o bairro. Duas pessoas morreram e dezenas ficaram desabrigadas após a força da água destruir várias casas do bairro.
Segundo o líder comunitário, os pedidos não foram atendidos pela SDU. “Eu já tinha reclamado, já tinha dado entrada em ofício. Não tenho mais a cópia, por que a água levou tudo, até meus documentos”, contou.
O promotor de Justiça Fernando Santos, do Ministério Público do Piauí, informou ao G1, durante reunião no Parque Rodoviário nesta sexta-feira (3), que o MP busca saber se algum funcionário da Prefeitura ou da Superintendência de Desenvolvimento (SDU) Sul haviam sido informados sobre o risco de transbordamento da lagoa que ficava dentro do terreno de um clube ao lado do bairro.