Caminhões de um comboio russo que transportam ajuda humanitária para a Ucrânia estacionados na base aérea militar nos arredores de Voronezh, em 13 de agosto.
O governo da Ucrânia anunciou nesta quarta-feira que aceitará a ajuda humanitária russa com destino à população da região rebelde pró-russa de Lugansk, mas com a condição de que seja revisada por representantes da OSCE e repartida pela Cruz Vermelha.
"A missão circulará por território controlado pelos rebeldes e, após sua chegada a Lugansk, a distribuição da ajuda entre a população civil correrá a cargo da Cruz Vermelha", anunciou o porta-voz da presidência ucraniana, Sviatoslav Tsegolko, em entrevista coletiva.
Imagem: Maxim Shemetov / ReutersClique para ampliarCaminhões de um comboio russo que transportam ajuda humanitária para a Ucrânia estacionados na base aérea militar nos arredores de Voronezh, em 13 de agosto. Segundo a fonte, essa decisão foi tomada durante a madrugada pelo presidente Petro Poroshenko, que abordou este assunto com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
A ajuda humanitária não entrará em território ucraniano pela região de Kharkiv, como era previsto em um primeiro momento, mas "passará pelo ponto de quebra mais próximo a essa cidade ucraniana (Lugansk)".
"Nossos guardas fronteiriços, funcionários de alfândegas e os representantes da OSCE poderão registrar essa carga na fronteira russo-ucraniana", precisou.
Ao mesmo tempo, Tsegolko não descartou que o comboio russo seja utilizado como desculpa para uma provocação com o pretexto de socorrer à população civil da região de conflito.
A chancelaria russa, por sua vez, considerou hoje de "absurdas" as acusações que o comboio com ajuda humanitária seja um pretexto para a invasão do país vizinho.
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, já tinha anunciado ontem um acordo com o governo de Kiev para a entrada dos caminhões russos pelas mãos da Cruz Vermelha em território ucraniano, por um ponto fronteiriço sob controle das forças governamentais na região de Kharkiv.
No entanto, o ministro do Interior ucraniano, Arsen Avakov, descartou essa possibilidade nesta manhã, quando publicou em sua conta de Facebook que "nenhum comboio humanitário de (o presidente russo, Vladimir) Putin teria passagem permitida através da região de Kharkiv".
"A provocação do cínico agressor é inadmissível em nosso território. Isto é oficial", escreveu Avakov.
Segundo fontes russas, o comboio inclui 262 caminhões que transportam, entre outras coisas, 400 toneladas de cereais, 100 toneladas de açúcar, 62 toneladas de alimentos para crianças, 54 toneladas de remédios, 12 mil sacos de dormir e 69 geradores elétricos de diversas potências.
Número de vítimas é duplicado
Pelo menos 2.086 pessoas morreram e cerca de 5 mil ficaram feridas entre meados de abril e o último fim de semana no leste da Ucrânia, segundo números revisados nesta quarta-feira pelo alto comissário da ONU para os Direitos Humanos.
O número de mortos duplica assim o número apresentado no final de julho, que se baseava no relatório da missão de observadores que esse organismo tem desdobrada na Ucrânia.
Entre as vítimas, figuram cerca de 20 crianças, um número próximo ao de menores feridos.
Além de civis, os números apresentados hoje também contabilizam vitimas das forças armadas ucranianas e milicianos dos grupos rebeldes separatistas.
Apesar da gravidade desses números, o Alto Comissariado considerou que os mesmos são "conservadores" e acredita que o número de feridos, em particular, ainda pode ser maior.