Os terminais de ônibus da Praça da Bandeira e da Praça do Fripisa, no Centro de Teresina, foram interditados na manhã desta terça-feira (14) durante o segundo dia de greve dos motoristas e cobradores do transporte público da capital.
Um ônibus foi estacionado na transversal para obstruir a Rua Areolino de Abreu, por volta das 10h, no acesso à Prala da Bandeira. Cerca de uma hora depois, o trecho foi liberado. Na Praça do Fripisa, motoristas queimaram pneus e fecharam a rua Arlindo Nogueira, no cruzamento com a rua Coelho Rodrigues.
Praça da Bandeira
A Guarda Civil Municipal e a Polícia Militar do Piauí (PM-PI) foram acionadas e continuam no local. Viaturas foram colocadas logo no acesso ao terminal para desviar os veículos e evitar congestionamentos enquanto a situação é resolvida.
O terminal é um dos mais movimentados de Teresina. Nele, milhares de usuários têm acesso a diversas linhas, que circulam por todas as zonas da capital.
Com a greve, os ônibus do sistema de transporte já não estavam circulando em sua totalidade. Após a interdição de um dos principais trechos do Centro da capital, os ônibus alternativos, cadastrados pela prefeitura para atender a população, também não puderam circular.
De acordo com a capitã Roserlane Maciel, da Mediação de Conflitos da PM-PI, o ato teve participação do sindicato e integrantes da categoria.
"Eles queriam chamar a atenção do poder público devido a algumas empresas estarem há mais de 45 dias sem pagar, conforme informação deles, os funcionários, que estão passando necessidade, se alimentando através de cestas básicas e ajuda dos demais companheiros, então eles fizeram isso para chamar atenção", informou.
A capitã afirmou que já foi negociada a retirada do veículo da via. Ao , o motorista do veículo estacionado, Raimundo Nascimento Filho, contou que dirige em uma linha da zona rural e que estava indo para garagem quando foi parado por colegas que o "convocaram" a integrar o movimento.
"Me disseram para colocar ele atravessado. Eu falei que não podia, mas disseram para botar. Depois eu fui tirar uma foto e tiraram a chave do contato, secaram um pneu também. Agora o gerente vem pra cá trazendo a chave reserva para voltar para a garagem", relatou.
Logo após a chegada da chave reserva a via foi liberada, por volta das 11h. Aos poucos, veículos alternativos cadastrados pela prefeitura e os ligeirinhos começaram a circular na via, coletando passageiros.
Uma das usuárias do transporte público de Teresina, a recepcionista Belina Olival, disse ao g1 que as formas alternativas de transporte são uma medida paliativa, mas que pesam no orçamento dos usurários.
"Não resolve o problema porque nós trabalhadores pagamos com o passe, que já foi descontado do nosso salário e aí nós pagamos novamente, porque eles recebem em dinheiro", lamentou.
Ela mora no Torquato Neto, na Zona Sul, e trabalha no Centro. "É longe, tenho que sair se casa cinco horas para estar no trabalho às 7h30. Dependo de ônibus todos os dias e não aguento mais essa situação, que já se arrasta há anos. O que o povo de Teresina quer é que resolvam esse problema o quanto antes, porque está insustentável", declarou.
Segundo dia de greve
Acontece nesta terça-feira (14) o segundo dia de greve dos cobradores e motoristas de ônibus em Teresina. Os trabalhadores reivindicam o pagamento de salários atrasados, e que seja assinada uma nova convenção coletiva.
O Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (Setut) informou que fez uma oferta de aumento de salário à categoria, que não aceitou a proposta. Veja a nota completa do Setut no final da reportagem.
No início da manhã desta terça-feira (14) a movimentação estava baixa nas paradas de ônibus do centro da capital, os pontos mais movimentados da cidade. Os usuários buscam alternativas, como dividir carros de aplicativos, para evitar o transporte público, caronas ou os "ligeirinhos", transporte alternativo feito em carros de passeio
Conforme a legislação, durante o movimento trabalhista, até 70% da frota pode ficar parada, havendo a obrigatoriedade de circulação de pelo menos 30%. Em caso de descumprimento, o sindicato dos trabalhadores pode ser punido com multa. A Prefeitura, através da Superintendência de Transporte e Trânsito (Strans), contratou uma frota veículos alternativos, para compensar a falta dos ônibus regulares.
O presidente do Sintetro, Antônio Cardoso, disse que a greve foi um acordo entre os trabalhadores. Segundo ele, alguns motoristas e cobradores não tem recursos para ir até o trabalho, pela falta de pagamentos.
"Não estamos indo em garagem impedir saída de carros, é o trabalhador mesmo que não está indo trabalhar. Alguns deles estão há 44 dias sem receber, desde fevereiro, tem cinco empresas nessa situação. E o nosso salário é o mesmo desde 2019", afirmou Antônio Cardoso.
Os trabalhadores fizeram uma manifestação na segunda-feira (13) em frente à Prefeitura de Teresina e aguardavam uma reunião com o prefeito Dr. Pessoa (Republicanos), que não aconteceu.
A assessora jurídica do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Teresina (Setut), Nayara Morais disse que o problema acontece porque a Prefeitura de Teresina teria deixado de fazer repasses de recursos às empresas que compõe o sistema.
"Os empresários continuam buscando dialogo para manter o serviço. Mas é uma situação muito difícil porque durante todo esse tempo, nunca houve uma solução em que município assumisse obrigações contratuais e desse o equilíbrio econômico como foi definido em contrato para que o sistema consiga funcionar adequadamente", disse Nayara Morais.
Greve de ônibus
A greve dos motoristas e cobradores de ônibus em Teresina começou na segunda-feira (13). De acordo com o sindicato da categoria, o Sintetro, os trabalhadores reivindicam o pagamento de salários atrasados, no auxílio-alimentação e na assistência à saúde.
Por nota, a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans) informou que cadastrou 100 veículos (de um total de 254 veículos do banco de dados do órgão), entre ônibus, micro-ônibus e vans, para circularem durante o período de greve. Leia o comunicado do órgão na íntegra ao fim da reportagem.
"É horrível essa espera. Estamos aqui há horas e não passa nenhum ônibus, só lotado. Estou esperando há mais de duas horas e nada de ônibus", relatou uma usuária que aguardava ônibus em uma parada na avenida principal do Dirceu Arcoverde.
Outra usuária lamentou que o problema no transporte público da capital obriga os usuários a gastarem mais com trasportes alternativos como os de aplicativo.
"É triste. Pegando moto Uber, Uber, carona. Temos que nos virar para ir trabalhar. A gente só recebe R$ 8,00 de vale por dia e tem que pagar entre R$ 16,00 e R$ 20,00 por dia, é complicado", disse.
"O prefeito e os empresários não resolvem nada. A vontade que tem é de ficar em casa, mas a gente tem que ir trabalhar, então o jeito é se virar", completou a usuária.
Outra usuária relatou que chega a pagar entre R$ 20 a R$ 30 em transporte por aplicativo. "É muito difícil para quem trabalha e precisa de ônibus. É uma situação absurda", lamentou.
Paralisações por salários atrasados e tentativa de acordo
Desde quarta-feira da semana passada (8), os trabalhadores de algumas das empresas de ônibus realizavam paralisações de até 3h, duas vezes por dia, reivindicando o pagamento do salário, que está, em alguns casos, há mais de 40 dias em atraso.
Somado a isso, a categoria também esperar ter demandas atendidas pela convenção com as empresas. Os trabalhadores recebem, atualmente, salários de R$ 2 mil para os motoristas e R$ 1.302,00 para os cobradores, com auxílio-alimentação de R$ 170,00 e assistência à saúde de R$ 70,00.
A categoria reivindica reajuste de 20% acima desse valor em todas as categorias (motorista e cobrador), auxílio-alimentação de R$ 600,00 e assistência à saúde de R$ 84. Os trabalhadores querem, ainda, receber 60% do salário no dia 5 de cada mês e o restante (40%) com o ticket e o plano no dia 20.
O sindicato dos trabalhadores, com o das empresas, o Setut, a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans) e a Prefeitura Municipal de Teresina (PMT) se reuniram com o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), na sexta-feira (10), para tentar chegar a um acordo.
Contudo, não houve entendimento entre as partes. O Setut emitiu uma nota (veja na íntegra ao fim da reportagem) na qual afirma ter proposto reajuste de 6% nos salários (a inflação está em 5,7% ), 20% no auxílio-alimentação e 33% na assistência à saúde. Mas a proposta não foi aceita pelos trabalhadores.
Nota da Strans
A Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans) informa que diante do indicativo de greve dos motoristas e cobradores anunciada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresa de Transportes Rodoviários (Sintetro), prevista para início nesta segunda-feira (13), e assim que recebeu o ofício por parte do sindicato dos trabalhadores, deu início a convocação e ao cadastro de veículos para circularem durante o período de greve no transporte público na Capital.
A Strans informa que já consta no sistema da Gerência de Licença e Concessão, setor responsável pelo cadastro e vistoria dos veículos, para operar durante a greve dos trabalhadores do transporte público, um total de 100 veículos cadastrados (de um total de 254 veículos do banco de dados do órgão) entre ônibus, micro-ônibus e vans que já foram vistoriados e com prévia autorização do órgão para operar nas diversas linhas de ônibus determinadas a cada veículo cadastrado pela Strans, e assim atender aos usuários do transporte público na Capital, a partir desta segunda-feira (13).
Além dos veículos cadastrados para reforço, o sistema dispõe de 20 vans que operam no transporte alternativo e vão continuar atendendo a população neste período de greve dos trabalhadores do transporte público. Importante destacar que durante a greve dos trabalhadores do transporte público, os consórcios que operam o sistema do transporte público precisam disponibilizar a porcentagem mínima de 30% dos veículos da ordem de serviço determinada pela Strans, seguindo o que determina a legislação em caso de greve.
Por fim, destacamos que em caso de dúvidas sobre a documentação para realizar o cadastro dos veículos, o interessado pode entrar em contato com o setor responsável através do WhatsApp (86) 3122-7609.
Nota do Setut
O Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (SETUT) informa que na tarde desta sexta-feira (10), a entidade esteve reunida, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), juntamente com a Procuradoria Regional do Trabalho, Prefeitura de Teresina e os dois sindicatos, patronal e laboral, onde foram amplamente discutidas todas as questões que envolvem uma negociação salarial a respeito do transporte urbano, serviço público essencial para toda a sociedade.
Ao final, o sindicato patronal, sensibilizado, após os apelos do Desembargador Manoel Edilson, Procurador Chefe do Trabalho Dr Edno, bem como dos representantes da prefeitura, ofertou para seus colaboradores, num esforço sobre-humano, um reajuste de 6% nos salários (a inflação está em 5,7% ), 20% no auxílio alimentação e 33% no auxílio saúde. Para surpresa de todos e indignação dos representantes do setut, os sindicalistas, representantes sindicato dos motoristas, não aceitaram a proposta e afirmaram, categoricamente, que iriam manter a greve, com indicativo de iniciar na segunda-feira, em desrespeito total à população teresinense.
O Setut reitera seu total compromisso com a população da capital, buscando diálogo permanente tanto com o sindicato laboral, quanto com a Prefeitura, para manter o bom funcionamento do sistema de transporte da capital.