Depois de perder a queda de braço com os socialistas na aliança em São Paulo, a ex-senadora Marina Silva, pré-candidata a vice na chapa do socialista Eduardo Campos, força a disputa interna entre a Rede e o PSB mineiro para a escolha do candidato do partido ao governo do estado. O episódio acirrou as tensões entre Marina e setores do PSB e já leva parte do partido do ex-governador a falar em um prejuízo alto demais para a campanha presidencial.
Alice Vergueiro/Futura Press Conta feita nos bastidores do PSB é que, se Campos não estivesse com Marina, teria conseguido construir uma aliança mais ampla Há entre os socialistas quem argumente que Campos passa muito mais tempo do que deveria conciliando a disputa interna, em vez de se concentrar na estratégia de campanha e na montagem de seu discurso. O argumento é que sua capacidade de transferência de votos para Campos pode não compensar o desgaste de administrar as divergências e de ter que abrir mão de alianças com partidos como o DEM e o PSDB, em alguns arranjos locais. Campos tem se empenhado em argumentar que é preciso fazer um sacrifício no atual momento, para colher um desempenho melhor mais adiante. “Há lugares onde termos que ceder. Esses conflitos existem mais nas páginas dos jornais”, justifica o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS). Mas mesmo nos setores mais moderados do PSB, há o reconhecimento de que a situação atual é desconfortável. Uma conta feita nos bastidores é que, se Campos não estivesse com Marina, teria conseguido construir uma aliança mais ampla e agora poderia contar com um tempo de televisão maior. Em Minas, entretanto, a atitude de Marina foi recebida como uma retaliação pelas negociações em São Paulo, onde o PSB trabalha pela aliança com o governador, Geraldo Alckmin. Marina quer emplacar na disputa mineira o nome do ambientalista Apolo Heringer, um dos seus seguidores na Rede, contrariando os planos do PSB e do próprio Eduardo Campos de ter o deputado Júlio Delgado como candidato e no comando do palanque presidencial em Minas Gerais. A visita da ex-senadora a Minas Gerais na última segunda-feira (9), por exemplo, foi entendida como um claro sinal de que ela que impor sua vontade no estado. Em reservado, integrantes da Rede preferem trocar a palavra “retaliação” por “compensação”. Divergências As divergências não são recentes. Logo após ser aceita com seus seguidores da Rede no PSB, Marina impediu em outubro do ano passado a aliança de Campos com o líder ruralista Ronaldo Caiado (DEM). Neste gesto, afastou da campanha de Campos o setor do agronegócio. Ela também tem se colocado contrária a todas as alianças com os tucanos nos estados. Além disso, Marina queixou-se do convite feito pelo PSB ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, para que ele se filiasse e disputasse eleições no Rio de Janeiro. Em São Paulo, a ex-verde forçou até o último momento que o PSB tivesse candidato próprio no maior colégio eleitoral do país e ainda se posicionou contrária ao nome do deputado Márcio França (PSB-SP) como participante da chapa liderada pelo tucano. Sua tese foi derrotada por Campos que quer investir na aliança com os tucanos. Em Minas, o candidato apoiado por Marina tem conseguido angariar apoio de políticos ligados ao prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, que se declarou dissidente do PSB local para apoiar a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência da República. A convenção para a escolha do candidato e das alianças em Minas Gerais ocorrerá no próximo dia 21 de junho. A atitude deMarina é mais um embate da ex-senadora e seus integrantes da Rede com o PSB e provocou uma reunião de algumas lideranças do partido em São Paulo com Eduardo Campos. Uma das saídas cogitadas seria até traçar um novo plano para o palanque mineiro, que pudesse fazer Júlio Delgado retornar para a disputa pela reeleição como deputado federal.