A primeira turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu nesta quinta-feira, por três votos a um, que a mineradora Vale não é obrigada a pagar imposto sobre o lucro de controladas no exterior em três países com os quais o Brasil tem acordo para evitar a bitributação. Ao julgar recurso impetrado pela mineradora, o STJ decidiu que o fisco brasileiro não pode cobrar imposto sobre o lucro de controladas da Vale em Luxemburgo, Bélgica e Dinamarca, informou a assessoria de imprensa do STJ. saiba mais Petrobras deve atingir autossuficiência em 2015 Petrobras faz nova descoberta de petróleo na Bacia de Santos Polícia Federal acusa Petrobras de crimes ambientais Governo autoriza Petrobras a importar gás natural da Bolívia até 2019 Petrobras é a petroleira mais desvalorizada do mundo na Bolsa Leia mais sobre Petrobras A Vale também questionava a cobrança de impostos sobre lucro auferido nas Bermudas, mas a primeira turma do STJ julgou que a tributação procede, já que o Brasil não tem acordo de bitributação com a ilha. Com a decisão, na reta final da Bovespa, as ações preferenciais da Vale deram um repique, fechando em alta de 1,62 por cento, levantando o principal índice da bolsa paulista, que até então rondava a estabilidade. A decisão do STJ ocorreu depois de a Vale ter aderido um programa de refinanciamento de tributos federais, o Refis, que resultou em pagamentos pela empresa à União no fim do ano passado de pouco mais de 6 bilhões de reais. Isso ajudou a engordar o caixa do governo em 2013, mas levou a mineradora a ter prejuízo líquido no quarto trimestre. A companhia, após aderir ao Refis, disse que manteria processo judiciais sobre lucros de subsidiárias no exterior para o período de 1996 a 2002 e em 2013. E que pleitearia a imediata devolução dos valores pagos se obtivesse vitória nos questionamentos judiciais. Procurada sobre a decisão do STJ desta quinta-feira, a Vale não comentou imediatamente o assunto. Não há clareza ainda sobre quais valores de tributos estão envolvidos na decisão do STJ. Segundo a assessoria do STJ, após a publicação do acórdão sobre a decisão será aberto um período para recurso do governo. Um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) poderia questionar a decisão do STJ do ponto de vista da constitucionalidade. Uma fonte do Ministério da Fazenda afirmou à Reuters que o governo iria recorrer da decisão. Também repercutindo o tema, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse a jornalistas que a Justiça "vai olhar para a legislação que passou a vigorar agora. O resultado vai ser que mais empresas vão pagar". Mantega se referia à Medida Provisória 627, aprovada no Senado na semana passada, que trata da nova tributação do governo federal sobre o lucro de multinacionais no exterior. Ao aderir ao Refis, a Vale conseguiu reduzir pela metade o valor do contencioso de 45 bilhões de reais relativo à tributação de lucro de suas subsidiárias no exterior. Além do pagamento de pouco mais de 6 bilhões de reais em 2013, a Vale acertou o pagamento de 16,36 bilhões de reais parcelados --o total teve um valor de face estimado em 22,325 bilhões de reais. Em novembro passado, por meio da Medida Provisória 627, o governo federal estabeleceu o prazo de cinco anos para as multinacionais brasileiras recolherem os tributos incidentes sobre o lucro de suas controladas no exterior, e ampliou o prazo de parcelamento de débitos tributários relacionados a isso de 10 para 15 anos. O objetivo era pôr fim a contenciosos, que abrangiam dívidas tributárias estimadas em 75 bilhões de reais, a maior parte da Vale. O governo decidiu mudar esse recolhimento em um momento que precisa reforçar o caixa para fazer superávit primário e recuperar a confiança de agentes econômicos.