A vice-diretora da organização Human Rights Watch na Rússia, Tatiana Lokshima, disse nesta sexta-feira que o técnico de informática Edward Snowden pedirá asilo temporário à Rússia por não conseguir viajar à América Latina.
Snowden foi o responsável por revelar o esquema de monitoramento de dados de internet e de telefones feito pelos Estados Unidos a milhões de pessoas e dezenas de governos de todo o mundo.
Ele está no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou, desde o dia 23 e teve o asilo diplomático aceito por Bolívia, Nicarágua e Venezuela. No entanto, terá dificuldades para viajar devido à ameaça de bloqueio do espaço aéreo europeu.
A informação foi revelada durante a reunião convocada pelo delator com ativistas de direitos humanos. Além da Human Rights Watch, estão no evento a Anistia Internacional, o Defensor do Povo russo e deputados do país.
Lokshina afirma que a decisão foi tomada diante das dificuldades que o delator teria se optasse por viajar aos países que lhe ofereceram asilo. Ela não comentou, no entanto, se ele deixaria de revelar outros segredos do governo americano.
Pouco após o início da reunião, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, voltou a dizer que a Rússia deixaria o delator ficar se não prejudicar a relação de Moscou com os Estados Unidos, uma condição que Snowden não aceita.
Segundo a agência de notícias Interfax, 13 pessoas também participam do encontro, que acontece em uma sala especial na área de trânsito do aeroporto russo. Mais cedo, o informante disse que fará uma declaração após a reunião.
CARTA
Em uma carta publicada antes do encontro, Snowden criticou os Estados Unidos por fazer "uma perseguição maníaca aberta, a qual põe em perigo os passageiros dos voos que se dirigem a uma série de países latino-americanos".
Para ele, a pressão a diversos países para que não lhe concedam asilo viola a Declaração Universal de Direitos Humanos. "Nunca na história um grupo de países conspirou para pousar um avião presidencial para buscar um refugiado político", afirmou, em referência ao bloqueio à aeronave do presidente da Bolívia, Evo Morales.
Na quinta (11), um desvio de rota do voo da Aeroflot que liga Moscou à Havana, única ligação da Rússia com a América Latina, fez com que dezenas de jornalistas fossem ao aeroporto José Martí, na capital cubana, à espera do delator.
O anúncio não foi feito por nenhum governo, mas a expectativa aumentou devido à publicação de um mapa pelo jornal "Washington Post" em que o avião russo voou mais ao sul, aparentemente para evitar o espaço aéreo americano. Pouco depois, o próprio jornal disse que o desvio se deveu ao mau tempo na Groenlândia.
MONITORAMENTO
A revelação do esquema de espionagem causou uma crise diplomática entre os Estados Unidos e diversos parceiros estratégicos, como a Europa, o Japão e a Rússia. O monitoramento também recebeu fortes críticas de países latino-americanos, como o Brasil.
A América Latina ainda aumentou o tom contra os americanos após o avião de Evo Morales ser bloqueado na Europa quando ele voltava de Moscou, na semana passada. Devido ao incidente, que foi atribuído aos Estados Unidos por diversos países, Bolívia, Nicarágua e Venezuela anunciaram o asilo ao delator.
A NSA, cujo material foi divulgado por Snowden, é uma das organizações mais sigilosas do mundo. De acordo com as informações apresentadas pelo delator, a agência monitorou os registros de ligações de milhões de telefones da Verizon, segunda maior companhia telefônica dos EUA.
Também foram verificados dados de usuários de internet de todo o mundo em empresas de internet como Google, Facebook, Microsoft e Apple. O escândalo causou críticas ao presidente Barack Obama, que combateu a espionagem feita pelas agências quando fazia oposição ao republicano George W. Bush.