"O regime sírio não se curvará às ameaças de ataque ocidental, mesmo se houver uma Terceira Guerra Mundial", afirmou à agência AFP nesta quarta-feira (4) o vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Fayçal Moqdad.
"O governo sírio não mudará sua posição. Nenhum sírio pode sacrificar a independência de seu país", ressaltou Moqdad, que garantiu que Damasco tomou todas as medidas para responder a uma agressão externa, no momento em que Estados Unidos e França tentam formar uma coalizão para "punir" o regime sírio pelo suposto uso de armas químicas.
— Não vamos dar informações sobre como a Síria vai responder às agressões. A Síria tomou todas as medidas para reagir e mobiliza seus aliados[, como a Rússia e o Irã].
"Com base na Carta das Nações, a Síria tem o direito de responder a uma agressão sem justificativa e sem base no direito internacional", considerou Moqdad, acrescentando que seu país "tem o direito de mobilizar seus aliados e receber deles todo o tipo de apoio".
O vice-chanceler questionou duramente a política francesa e advertiu para as possíveis consequências regionais de um ataque, principalmente, para o risco do fortalecimento de grupos radicais islamitas, como aconteceu em outros países protagonistas das revoluções árabes que estouraram em 2011.
"Se a França quiser apoiar a Al Qaeda e a Irmandade Muçulmana, como apoiou no Egito e em outras regiões do mundo, fracassará na Síria", garantiu durante a entrevista concedida na sede do Ministério das Relações Exteriores.
— É vergonhoso que o presidente francês diga: 'Se o Congresso aprovar, vou à guerra, se não aprovar, não vou', como se o governo francês não tivesse mais nada a dizer.
Moqdad afirmou que está mobilizando seus aliados e que a posição da Rússia não mudou.
— Irã, Rússia, África do Sul e vários países árabes rejeitaram a agressão e estão dispostos a enfrentar a guerra que será declarada pelos Estados Unidos e seus aliados, incluindo a França, contra a Síria. A posição da Rússia não mudou. É uma posição responsável de um amigo que está a favor da paz.
Uma ação militar estrangeira na Síria ganhou força após o ataque químico de 21 de agosto na periferia de Damasco, que matou centenas de civis.
Os EUA acusam o governo sírio pelo ataque e dizem ter colhido provas que comprovariam o uso de gás sarin. O presidente Barack Obama defende a ação, mas pediu autorização ao Congresso norte-americano — o Senado se reúne hoje para debater o tema, mas a Câmara dos Representantes (Deputados), que está em recesso, só debaterá o assunto na próxima semana.
A França também apresentou provas contra o regime de Bashar al Assad, mas ressaltou hoje que só participará de um ataque após a formação de uma coalizão internacional.
A Síria e a Rússia, no entanto, dizem que as provas contra o regime de Assad não são convincentes e que foram os rebeldes que cometeram o ataque químico de 21 de agosto. Em entrevista nesta semana ao diário Le Figaro, Assad disse que um ataque estrangeiro a seu país poderia levar a uma guerra regional.
Putin, maior aliado de Assad fora do Oriente Médio, disse nesta quarta que, se ficar comprovado quais armas foram usadas e quem as utilizou, a Rússia "estará disposta a atuar de maneira mais decisiva e séria".
Mas depois, o presidente russo lançou um alerta de que uma aprovação do Congresso americano a um ataque à Síria seria considerada por ele uma agressão.
Quase toda a Síria fica sem energia elétrica
Quase toda a Síria ficou privada de energia elétrica nesta quarta-feira depois de um ataque contra uma linha de alta tensão no centro do país, informou o ministro da Eletricidade.
"Um ataque terrorista contra uma linha de alta-tensão na região central provocou uma interrupção da transmissão na maioria das províncias sírias", declarou Imad Khamis, citado pela televisão estatal.
O termo "terrorista" é usado pelo governo para designar os rebeldes sírios.
O ministro prometeu que o serviço será restabelecido em algumas horas.
Os bairros de Damasco, assim como a periferia da capital síria, ficaram sem luz na manhã desta quarta, segundo testemunhas.
Os cortes de energia se multiplicam na Síria à medida que o conflito se intensifica.