RIO - São 11h, e a movimentação em frente a um salão de cabeleireiro do shopping Downtown é grande para uma terça-feira. É ali que acontecerá a gravação da nova temporada do “Superbonita”, programa do GNT que estreia renovado em 7 de abril, agora com Grazi Massafera no comando. Após ser maquiada e penteada, a atriz surge altíssima do lado de fora da loja e dá um “oi” a quem a aguarda: quatro assessoras de imprensa (duas do canal, as outras pessoais) e sua empresária. A entourage acompanha todos os passos de Grazi, que engata num papo sobre unhas com a atriz Fabiana Karla, a convidada daquele episódio do programa.
— Falar sobre unha é um problema porque eu roo todas — conta Grazi.
Vaidosa desde o tempo em que nem sonhava entrar no “Big Brother Brasil”, muito menos apresentar um programa de beleza (“Onde eu morava só tinha TV aberta, eu via a Globo ou o SBT”), Grazi diz que até hoje é do tipo corajosa, “cobaia de si mesma”: faz a própria maquiagem e a das amigas, mexe no cabelo e também nas unhas.
— É quase uma terapia. Adoro tirar cutícula do pé enquanto vejo um filme, porque aí não tem hora para acabar. Às vezes, só abro a janela e fico tirando cutícula. Coisa de povo do interior que se vira sozinho — diz, entusiasmada.
Os hábitos — assim como o sotaque forte, que ela mantém no programa— vêm de família e de Jacarezinho (PR), onde Grazi nasceu e viveu até os 21 anos, antes de se tornar famosa. A seis horas de lá está Paranaguá, onde hoje moram mãe, pai e irmãos da atriz. E onde ela esteve no final do ano passado, com a filha, Sofia (1 ano e 9 meses), depois que a notícia do fim de sua união de seis anos com Cauã Reymond veio à tona. Mesmo após a conturbada separação — assunto vetado pela assessoria da atriz antes da entrevista —, Grazi afirma que a família é base de tudo.
— Meus pais conservam os mesmos hábitos desde sempre. Minha mãe continua colocando a roupinha no varal. Vi a cena e achei tão linda... É uma imagem que vejo desde pequenininha, que a Sofia não me viu fazendo ainda (risos). Essa coisa de família que se reúne na sala para ver novela, na cozinha para bater um bolo, sabe? — diz a atriz, completando: — Meus pais são separados, mas se dão bem, graças a Deus.
Grazi diz que é justamente a segurança familiar que traz a autoestima para que ela se sinta infalível. Não no sentido da beleza, e sim no da proteção.
— Não tenho autoestima de me achar linda, incrível. Tenho autoestima de saber quem eu sou, de ser amada por quem eu amo. Ginástica também é maravilhoso, a endorfina ajuda. E cuidar da cabeça e fazer uma análise é importante.
As sessões com o analista — mantidas até hoje — foram válidas até quando ela precisou voltar ao “mundo real":
— Tive o momento de um certo deslumbre, de acreditar no que escrevem sobre você. Comecei a ler e pensar: “Será que sou tudo isso?”. E não sou, entendeu? Porque a família não estava ali, eu estava sozinha e precisava voltar com os pezinhos para o chão — relembra. — Não foi apenas a análise, mas um conjunto de coisas. Porque eu não tinha tempo para pensar e preciso de um tempo próprio. Era só trabalho, trabalho. Eu preciso ficar sozinha, andar na rua descalça. E quando atropelo esses tempos não sou eu. Aí não me sinto bem.
Após um 2013 intenso de trabalho, em que voltou às novelas como protagonista de “Flor do Caribe”, além de fazer campanhas publicitárias, Grazi afirma que quer paz em 2014. No final do ano anterior, não só a separação foi confirmada publicamente por Cauã como se intensificaram as notícias de um suposto envolvimento entre ele e Isis Valverde durante as gravações da minissérie “Amores roubados”, que estreou em janeiro.
— 2014 começou difícil. Esse momento na vida de uma pessoa é sempre muito tenso e difícil. Mas eu sempre prefiro, e quero, e tento, e procuro, e me esforço e tudo o que você imaginar para ver o lado bom das coisas que não são boas. É nisso que eu foco. É isso que me dá forças, energia, me renova e me estimula. Aí tudo fica pequeno.
Diante de tantas novidades, Grazi quer, para os próximos anos, saúde, harmonia e equilíbrio. E a tal da paz.
— Eu quero paz, gente, paz; embora paz não tenha faltado para mim. Eu consigo tê-la dentro do vulcão que se forma ao nosso redor. Nem sempre, claro, sou humana. Mas estou fazendo boxe, isso ajuda. Depois do boxe você tem uma paz...
A presença de Sofia, que chega no meio da entrevista feita durante o almoço da apresentadora, é essencial para que Grazi mantenha seu olhar otimista.
— Esse cheiro é inacreditável — diz, cheirando o cangote da menina. — É o momento em que tudo vale a pena, e nada é mais importante do que ela.
Como toda mãe, a atriz se desmancha ao falar da criança e até mostra à repórter um vídeo em que a filha anda de sapato alto pela casa. Mas na hora de expô-la nas redes sociais, a história é outra.
— As pessoas perderam a noção do que é privado. É um cuidado meu, um cuidado do Cauã, de protegê-la. Mas sem paranoia — explica a atriz, afirmando que Sofia é a “rainha da casa”. — Eu a deixo usar meus batons, esmaltes. Ela é bem-humorada. Se fosse encomendada, não seria tão perfeita.
O apego a Sofia é tão forte que, este ano, Grazi decidiu que ficará mais tempo dedicada à filha. A experiência em “Flor do Caribe" no ano passado fez com que a atriz passasse por um desgaste físico e emocional.
— Eu trabalhava 20 horas por dia. Foi uma novela de maturidade profissional, de aceitação do público, de beleza, de felicidade por trabalhar com gente que admiro. Mas está tudo certo. É um fato, não uma reclamação. Comecei a valorizar mais minha mãe, percebi a força que vem de dentro, me descobri mais mulher, mais guerreira, mais corajosa. A maternidade vem te dando tapas na cara, assim, e te enchendo de beijos.
Coragem é uma palavra que Grazi usa bastante durante a entrevista. E é o sentimento que a faz ir em frente durante os momentos delicados, como o que passou. Além do “Superbonita”, Grazi será musa de um camarote no carnaval carioca. Sumir? Nem pensar.
— Mulher, eu não consigo desaparecer (risos). Os outros me procuram feito uma agulha no palheiro. Não tenho privilégio de desaparecer, a não ser que eu fuja do país, vá morar fora anos. E não é a minha energia, o meu desejo. Não tenho motivos para sumir, tenho motivos para ficar — jura, acrescentando que nunca deixou de lado a rotina de pessoa normal — Vou ao mercado, ao cinema, à igreja, ao shopping. Não gosto de ilhas desertas, gosto de ver gente.
Cotada para “Búu”, novela das 19h com estreia prevista para o fim do ano, Grazi pretende,antes, passar um tempo na Espanha estudando interpretação. Inglês, ela também quer aprender. Mas descobriu que precisa vivenciar a língua.
— Não consigo estudar com professor. Quero ler livros em inglês, ler entrevistas. Ver os filmes que compro lá fora. Daqui a pouco minha filha vai falar e eu, não.
Os planos de estudo não serão atrapalhados pelo novo desafio, no “Superbonita”, que ela pretende apresentar apenas por uma temporada:
— Coube direitinho. Vai ser um desafio. Quero evoluir, reciclar, não quero perder o gosto do aprendizado em qualquer coisa. Me jogar para uma temporada como apresentadora é um aprendizado também.
O essencial, ela diz, é que essas atividades sejam feitas com prazer. É isso que ela quer do trabalho daqui para frente.
— Estou neste momento, e posso me dar esse luxo, principalmente pelo que aconteceu na minha vida, pelo que já conquistei. Estou num momento em que quero mais é ficar com Sofia. E fazer coisas que me deem vontade, prazer e desejo — planeja, rebatendo quando perguntada por que preferiu não se manifestar diante de tudo o que houve: — O que é ficar quieta, na minha? São momentos privados, sabe? (neste momento, a repórter é interrompida por uma das assessoras, que pede que assunto não seja aprofundado).
Apesar de ter aprendido desde pequena a ver o lado bom, lembra que é canceriana. E, como tal, “dramática”.
— Quando sofro, eu sofro de verdade. Eu choro e aproveito o amadurecimento daquele momento. Mas quando é para ser feliz, eu também sou.
A influência do signo também se manifesta no lado maternal. Apaixonada por crianças, ela adianta que pretende dar mais três irmãos a Sofia.
— Eu gosto e sou de família grande — afirma, contando que, em breve, dividirá a casa com um de seus três irmãos, que vem estudar Cinema no Rio. — A gente vai ao cinema, conversa sobre filmes, séries novas. É um estímulo.