Mascarado usa extintor de incêndio para quebrar a janela de veículo
O secretário da Segurança Pública de São Paulo (SSP), Fernando Grella, declarou nesta sexta-feira (20) que a Polícia Militar (PM) falhou por não ter impedido a depredação de agências bancárias, concessionárias, de um carro de emissora de TV e de uma igreja durante ato realizado no dia anterior pelo Movimento Passe Livre (MPL). Sobre o MPL, Grella acompanhou o entendimento da PM e responsabilizou o movimento pela depredação
Imagem: Nacho Doce/ReutersMascarado usa extintor de incêndio para quebrar a janela de veículo
As declarações foram dadas em entrevista ao portal G1. Na conversa, ele ainda afirmou que a PM não seguiu orientação da pasta de como atuar em manifestações e agiu sem seu aval. Ele disse que estuda a possibilidade de punir os policiais militares que deveriam garantir a segurança do protesto de quinta-feira (19). A PM só interveio após a depredação da concessionária.
"Eu queria, em primeiro lugar, deixar claro que realmente houve uma falha, especialmente no tempo de resposta da PM em torno do episódio de ontem [quinta-feira], no acompanhamento da manifestação para intervenção nos momentos em que se colocaram os atos de violência", disse o secretário Grella. "As consequências dessa falha eu estou avaliando o que vai ser feito."
O secretário criticou os policiais militares que atenderam pedido do MPL para acompanhar o ato à distância. Após a depredação, a própria corporação concedeu entrevista à imprensa justificando a medida de se afastar. Alegou que ofício do movimento informava que ativistas garantiriam a segurança da manifestação. Mas Grella afirmou que essa decisão da PM de se distanciar do protesto foi tomada sem o seu conhecimento ou autorização. E que a corporação voltará a acompanhar de perto os próximos atos.
A declaração do secretário ocorreu horas depois de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ter prometido mudanças na maneira da PM atuar em protestos. "A estratégia vai ser revista pela polícia e ela estará presente [nos próximos atos]". Ele também cobrou da SSP a identificação e prisão dos vândalos que participaram da depredação.
Documento apócrifo
Na quarta-feira (18), o MPL havia entregado ofício a Grella, informando o ato que iria realizar na quinta-feira. No documento, o movimento informa o trajeto e pede que a PM se afaste porque o grupo iria cuidar da própria segurança.
"A organização da manifestação conta com uma comissão de segurança que orientará os presentes em manter a proposta da manifestação", informa ofício do MPL. "Por isso, entendemos que movimentos sociais devem ter autonomia para promover sua própria segurança."
O secretário confirmou ao portal G1 que recebeu o documento do MPL, mas desdenhou dele. "Aquele nem era um ofício. Era um documento apócrifo", disse Grella. "[A PM] não deveria ter seguido. Se seguiu não deveria ter seguido porque não houve nenhuma determinação da secretaria para isso."
Segundo o secretário, o único acordo possível entre a PM e os líderes do MPL seria o de garantir a ordem pública. "E à PM cabe exatamente a garantia da ordem pública. Nenhum outro acordo seria viável no contexto como o de ontem [quinta-feira]."
De acordo com Grella a orientação da pasta para a PM sempre foi a de que a corporação agisse no ato de quinta-feira da mesma maneira como fez no dia 12 de junho, quando impediu que manifestantes bloqueassem a Radial Leste. "A nossa orientação, desde lá detrás, era de que houvesse, como aconteceu na abertura dos jogos da Copa, a intervenção para assegurar a mobilidade, o direito de ir e vir. E essa orientação não foi acatada ontem", afirmou.
Questionado sobre como será a postura da PM nos próximos atos, o secretário respondeu que vai "garantir o direito de manifestação e ao mesmo tempo resguardar a ordem pública". Disse ainda que "nós vamos acompanhar permanentemente essas ações e a Polícia Militar não vai deixar de estar presente nessas manifestações para um tempo de resposta adequado em caso de depredações e atos de violência".
Imagem: Reprodução/G1Vândalos invadiram concessionárias e depredaram carros de luxo
Saldo da destruição
Na quinta-feira, cerca de 1,3 mil pessoas, segundo a PM, e 6 mil, de acordo com o MPL, saíram da Avenida Paulista em direção à Marginal Pinheiros para comemorar um ano da revogação do aumento da tarifa de ônibus e Metrô, cobrar transporte gratuito e protestar contra os gastos públicos na Copa do Mundo.
O MPL incendiou catracas de papelão e pediu a readmissão dos 42 metroviários desligados da companhia após paralisação de cinco dias da categoria.
Mas, durante o trajeto, seis agências bancárias, duas concessionárias (uma delas estima um prejuízo de R$ 3 milhões), um veículo da TV Gazeta e uma igreja onde ocorria uma missa foram depredados por pessoas que participavam da caminhada do MPL. Alguns usavam máscaras, outros não.
Como membros do movimento chegaram a fazer cordão de isolamento para proteger bancos e concessionárias, a Polícia Civil investiga a possibilidade de que o vandalismo tenha sido praticado por black blocs infiltrados no ato. A PM só interveio após o fim do ato, quando a depredação já havia ocorrido. Chegou a lançar bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, mas não prendeu nenhum suspeito de vandalismo.
Polícia Militar e secretário só concordaram num ponto: o de responsabilizar o MPL pela depredação durante o protesto convocado pelo movimento. "Esse movimento do Passe Livre, ele tem responsabilidade nesses episódios", disse Grella. "Todas as manifestações que eles têm convocado a gente tem visto a presença dos black blocs e, portanto, a ocorrência de atos violentos, depredação do patrimônio público, de ameaça às pessoas e violação ao direito de ir e vir. Então eles são responsáveis sim por essas ocorrências."
Para Grella, o MPL não pode se comprometer a garantir a segurança dos manifestantes porque não é treinado para isso. "Ele [movimento] não tem nenhum controle sobre essas pessoas, mas muito ao contrário: quando eles [líderes] convocam uma manifestação, eles simplesmente propiciam este ambiente para a violência, sem nenhum controle", disse o secretário. "Por isso que a gente acha sim que eles têm uma dose grande de responsabilidade no plano, inclusive, civil, pelos danos e transtornos causados à população e aqueles que sofrem os danos do patrimônio."
Investigação
A Polícia Civil de São Paulo quer ouvir o Movimento Passe Livre sobre as depredações durante o ato de quinta-feira na capital paulista. Por determinação do secretário da Segurança Pública, o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) investigará o caso para tentar identificar os vândalos.
"Ontem [quinta-feira] mesmo e hoje [sexta-feira] de manhã já fiz vários contatos e determinamos ao Deic o empenho de todas as equipes para identificar essas pessoas que praticaram aqueles atos de violência que chocaram a todos nós, especialmente ali naquela concessionária de veículos, num grau de violência sem precedentes", disse Grella.
O departamento já tem inquérito instaurado para apurar atos de violência por crime de danos e associação criminosa em protestos desde junho de 2013, quando as manifestações se intensificaram. A investigação analisa filmagens e fotografias para identificar e prender vândalos. A suspeita é que black blocs tenham se infiltrado no protesto. "Nós estamos empenhamos em identificar aquelas pessoas, em dar resposta à sociedade sobre esses atos criminosos, porque aquilo é um ato selvagem", disse o secretário.
MPL
Neste ano, o Movimento Passe Livre já se posicionou contrário à investigação do Deic. Advogados do movimento impetraram habeas corpus na Justiça solicitando o trancamento do inquérito do departamento que apura o crime de associação criminosa que teria sido cometido pelos ativistas. Para o MPL, a apuração é “perseguição política”. Até esta sexta-feira não havia decisão judicial sobre o pedido.
Os membros do Movimento Passe Livre não foram encontrados para comentar o assunto nesta sexta-feira. Na quinta-feira, seus integrantes haviam criticado a acusação da PM de que os ativistas eram responsáveis pela depredação durante o ato. Para uma militante do movimento que não quis se identificar, "é uma tentativa de criminalizar os movimentos sociais".