Uma mistura entre um Dalek da série "Doctor Who", em cartaz há cinco décadas na BBC, e o robô R2-D2 dos filmes "Guerra nas Estrelas" pode ser a chave para prevenir mortes de crianças em ataques a escolas dos Estados Unidos, agora que os robôs estão avançando das fábricas para o setor de serviços.
Reluzente e branco, o robô autônomo de guarda patrulha uma área, usando dados de sensores ópticos e de som e sistemas de reconhecimento de placas de licença de automóveis para transmitir informações às autoridades locais ou serviços privados de segurança. saiba mais Braço mecânico ligado ao cérebro recebe aprovação do governo americano Um robô-guitarrista com 78 dedos lançou um disco com sua banda robótica Leia mais sobre Robótica
Stacy Dean Stephens e sua equipe na Knightscope desenvolveram a ideia depois do ataque à escola de Sandy Hook no Connecticut, em 2012. Policial no Texas, Stephens concluiu que o pessoal da polícia precisava de tecnologia melhor.
"Depois de Sandy Hook, análises demonstraram que, se tivéssemos policiais na escola e em contato com o agressor apenas um minuto antes, até 12 vidas poderiam ter sido salvas", ele diz. "Eu queria estudar como usar a tecnologia para ajudar a atingir esse objetivo."
O Knightscope K5 Autonomous Data Machine usa uma combinação de robótica e análise preditiva para determinar quando a polícia ou uma companhia de segurança devem ser alertadas sobre uma ameaça.
Com 1,5 metro de altura e repleto de sensores, o robô pode portar muito mais equipamento do que um policial poderia carregar em seu cinturão, e livrá-lo de trabalhos "monótonos, entediantes e rotineiros", diz Stephens.
O robô está sendo testado nas sedes de empresas de tecnologia do Vale do Silício, nas quais é mais fácil conduzir experiências do que em escolas. O Knightscope recebeu
expressões de interesse não só do setor de educação como dos organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio e de Tóquio, de grandes empresas de segurança norte-americanas, e de outras companhias, do Oriente Médio à China.
A startup, que por enquanto tem apenas uma dúzia de funcionários, está na vanguarda de uma nova era da robótica, com a chegada de tecnologia mais inteligente aos setores de colarinho branco e até às profissões liberais. Stephens diz que a tecnologia autônoma está ªà beira de uma revolução, uma mudança imensa nos próximos 10 anosº, comparável à revolução da tecnologia dos anos 1980.
O professor Erik Brynjolfsson, que em companhia de Andrew McAffe, seu colega na Escola Sloan de Administração de Empresas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) escreveu "The Second Machine Age", livro lançado recentemente, diz que estão sendo desenvolvidas tecnologias que podem causar problemas a milhões de empregos.
Ele diz que enquanto a primeira era da máquina, a revolução industrial, substituía o uso dos músculos humanos pelo uso das máquinas, a segunda trará a substituição de tarefas cognitivas realizadas por seres humanos.
"Haverá algumas semelhanças com a primeira era da máquina –uma tremenda abundância–, mas também diferenças importantes", diz Brynjolfsson. "Quando você substitui trabalho braçal por máquinas, ainda precisa de seres humanos para tomar decisões sobre o que deve ser feito, o que torna o trabalho humano mais valioso; mas na nova onda não está claro se as máquinas substituirão ou complementarão os seres humanos."
Máquinas agora podem diagnosticar câncer de mama melhor do que seres humanos; os advogados iniciantes foram praticamente substituídos por software de pesquisa judicial, e carros que não precisam de motorista carregam uma imagem mental dos pontos cegos de todos os demais veículos que estão na estrada, e podem perceber que um deles está desacelerando a distância maior que um motorista poderia.
Os robôs muitas vezes custam menos que os seres humanos, trabalham jornadas mais longas, e podem executar tarefas menos seguras. A Aethon, uma companhia de Pittsburgh, vende um robô chamado Tug –um carrinho de transporte que não precisa de motorista– para hospitais, que o usam para o transporte de remédios, amostras de laboratório, refeições, roupa para lavar e resíduos.
Aldo Zini, presidente-executivo da Aethon, diz que os hospitais obtêm "firme economia de dinheiro", com um retorno de 150% sobre seu investimento em prazo de alguns anos. Mas acrescenta que "a maior vantagem é que os robôs são bons para fazer coisas perigosas ou que não são apropriadas para um ser humano, como empurrar um carrinho com 120 quilos de roupa para lavar, recolher resíduos infecciosos, transportar medicamentos muito dispendiosos de quimioterapia".
O faturamento da Aethon vem praticamente dobrando a quase ano, à medida que a companhia se expande a 140 hospitais nos Estados Unidos e começa a conquistar contratos internacionais, na Dinamarca, Alemanha e Canadá. A empresa foi contatada por operadoras de hotéis e lojas perguntando se o Tug funcionaria para elas.
Mas alguns robôs surgem em formatos menos robóticos. A Blue Prism, companhia britânica que trabalha em serviços de back office para clientes como os bancos Barclays e Co-operative Bank, vende um robô que parece um software automatizado. O que faz do programa um robô é que ele preenche formulários e usa sistemas de computador como um ser humano usaria, sem necessidade de outras mudanças na plataforma de tecnologia.
Alastair Bathgate, presidente-executivo da companhia, diz que robôs podem ser treinados a realizar o trabalho de dezenas de milhares de funcionários de back office. Atender os telefones pode ainda ser tarefa de um funcionário humano, mas, na hora de registrar os detalhes do cartão de crédito que alguém perdeu, por exemplo, a ligação seria transferida a um software de preenchimento de formulários.
"Não estamos falando de uma massa de P45s (o formulário que os trabalhadores recebem quando perdem o emprego no Reino Unido), mas sim de uma realocação de custos", diz ele.
Os robôs, acrescenta Bathgate, não são muito bons em pedir desculpas a um cliente, mas trabalham melhor que um ser humano no preenchimento de fichas. "Eles não são capazes de empatia, inteligência humana, simpatia, criatividade ou espírito empreendedor, mas podem executar tarefas repetitivas."
Para Illah Nourbakhsh, professor do Instituto de Robótica da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, uma das coisas mais importantes em que as companhias devem pensar ao introduzir robôs é o efeito que eles têm sobre os trabalhadores existentes.
"Ao adicionar robôs, você não elimina todas as pessoas. Psicologicamente isso pode ter um impacto sobre o relacionamento das pessoas com os robôs e os executivos", ele diz. "E introduz toda uma nova dinâmica de extinção."