O sonho de se tornar pai surgiu ainda na infância do professor universitário piauiense Fabrício Cesar de Moura Barbosa, 41 anos. O desejo ficou ainda mais forte quando ele teve contato com a temática da adoção em um seminário na universidade onde se formou em Teresina. A realização até poderia ter vindo antes, mas ele tinha a compreensão de que para ser pai era necessário ter muita maturidade e por isso aguardou o momento certo.
Somente aos 37 anos ele entendeu que estava pronto e deu início ao tão sonhado processo de adoção de uma criança que passaria a morar com ele um ano mais tarde. Na casa na Zona Sul de Teresina também moram os pais idosos de Fabrício. O procedimento de adoção ainda não foi totalmente finalizado, mas ele já possui a guarda do menino de 7 anos que mudou a sua vida e realizou o seu grande sonho de se tornar pai.
“Quando eu fiz o seminário na universidade eu tinha 23 anos e depois passei a me aprofundar um pouco mais sobre a temática da adoção, mas sempre aguardando o momento certo porque para ser pai necessita de muita maturidade e responsabilidade. Não tem como voltar atrás depois de adotar uma criança, porque não existe ex-pai. É uma relação para a vida toda”, falou o professor.
Antes de conseguir a guarda e levar o pequeno João Henrique para casa, Fabrício frequentou durante quatro meses uma casa de acolhimento onde o menino morava depois de ter sido rejeitado pelos pais biológicos. Passados três anos, pai e filho vivem felizes e a cada dia a relação de amor e cumplicidade apenas cresce entre os dois. A rotina do professor mudou totalmente e a atenção agora é toda voltada para o garoto.
“Mudou completamente depois que ele chegou. Hoje minhas escolhas giram em torno dele, desde as escolhas profissionais a qualquer outra coisa. Toda atividade de trabalho que vou fazer eu penso se não vai fragilizar a relação com meu filho. Já deixo bastante claro no trabalho que eu não posso me afastar porque tem o meu filho e eu não me sinto muito bem em ficar muito tempo distante dele e nem ele de mim”, falou.
Fabrício conta que a burocracia exigida no processo de adoção ainda emperra algumas ações dele para com o filho, mas ao mesmo tempo ressalta que a responsabilidade de se adotar uma criança é tão grande que realmente é preciso compreender todas as exigências. Enquanto tudo não for concluído, o menino ainda não pode ter o nome dele como pai na certidão de nascimento, o que dificulta alguns procedimentos do dia-a-dia.
“Eu não posso tirar um plano de saúde para o meu filho. Eu pago para mim, mas não posso pagar para ele porque na certidão de nascimento dele eu ainda não estou como pai, pois só tenho a guarda. Por conta disso as administradoras de planos de saúde não aceitam. Alegam também a questão do CPF. Mas é uma questão de saber esperar. O pai que é pai é paciente e perseverante. Eu não desisto e sei que é uma exigência da lei”.
O professor falou ainda sobre o fato de ser pai solteiro e homossexual. Ele destacou que a sociedade já está superando o preconceito com as mães solteiras, mas ainda falta compreender os pais nesta situação. Fabrício faz parte da Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas (ABRAFH), estuda a temática da paternidade afetiva e participa de grupos de pais solteiros. Segundo ele, é importante debater esse modelo na sociedade.
“As pessoas sempre atribuem a presença da mãe. As vezes perguntam: ah e a mãe dele? Ai eu digo que nossa família é constituída somente por eu e ele. As pessoas já legitimam a mãe solteira, mas o pai ainda é algo que elas não compreendem bem. Já me perguntaram porque não tive filho natural e eu digo que a adoção é um processo natural. Não percebo tanto preconceito com a minha orientação sexual até porque não é o que eu enfatizo, não é uma bandeira maior que levanto. Eu sou um pai e faço meu papel de pai”, fala.
Fabrício não teme nenhum tipo de rejeição no futuro e diz que conversa bastante com o filho, que entende bem a situação e não abre mão de estar sempre com o pai que o acolheu. O professor afirma que toda a história de vida do menino e a realidade sobre o modelo de família em que ele está inserido são rotineiramente abordados entre os dois e que a relação é a melhor possível.
“A criança tem o direito e saber da história de vida antes da adoção e principalmente o direito de saber da história de vida da qual ela está sendo inserida. Eu seria muito hipócrita e um péssimo pai se eu não trabalhasse com meu filho a minha história e a história dele, em todos os aspectos. Eu tento passar os valores para ele com o princípio da verdade em tudo”, explicou.
Dia dos pais
Fabrício é quem arruma a mochila do pequeno João, faz comida, ensina atividades e ajuda a vestir a roupa para ir ao colégio. Questionado sobre o simbolismo do Dia dos Pais em sua vida, o professor fez questão de dizer que a data significa missão e gratidão. Esse é o terceiro ano que ele vivencia e só tem a comemorar ao lado do filho que adotou e desde então aprendeu a cuidar e amar de forma incondicional.
“Dia dos Pais para mim tem os princípios de gratidão e missão. Gratidão de poder, junto com meu filho, constituir valores, afeto e amor. E missão por que de todas as atividades que desenvolvo essa é a principal em minha vida. Ser pai não é uma coisa que a gente compra em um pacote. Ele também me ensina a ser pai a todo instante, ensina a ser mais tolerante, mais calmo. É algo muito especial”, falou.
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