Um estudo do Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento analisou dados entre 2007 e 2017 sobre o peso das passagens de ônibus no bolso dos trabalhadores nas principais capitais brasileiras. No Rio de Janeiro, por exemplo, o reajuste chegou a 90% ao longo destes dez anos, acima da inflação no período.
“Eu deixo de comprar muitas coisas. Porque é muito gasto. Eu deixo de passear com meus netinhos, por exemplo. Comprar um brinquedinho, um calçado”, afirmou uma passageira que embarcava na Central do Brasil, o principal terminal da capital fluminense.
Ainda assim, analisando a situação do transporte rodoviário de pessoas nas capitais brasileiras, o Rio não está na pior posição. Em Belém, o preço da passagem sofreu reajuste de 130%. Depois vem Teresina, com aumento de 120% e Florianópolis, com 111%.
Belo Horizonte é a capital com a passagem mais cara do Brasil, custando R$ 4,05.
Entre as principais queixas dos passageiros em todo o país estão os horários irregulares, ônibus lotados e, muitas vezes, em condições precárias.
“Existe um índice de acessibilidade ao transporte e à moradia que é proposto por uma instituição de pesquisa americana, que afirma que o transporte deve pesar cerca de 15% do total do orçamento. Quando a gente compara as cidades brasileiras com outras cidades latino-americanas, ele acaba sendo menor que esse limite, variando entre 13% e 7%, como é no caso de Buenos Aires”, destacou Gabriel Oliveira, coordenador de transporte público do Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento.
Peso no bolso
O custo das passagens também pesa no bolso. No Rio de Janeiro, os gastos com transporte chegam a 20% dos rendimentos para as famílias que recebem até um salário mínimo. O mesmo acontece em Curitiba, Goiânia, Porto Alegre e São Paulo. Em Florianópolis, esse custo sobe para 21% da renda. Em Belo Horizonte, representa 22%.
“O país, de alguma forma, sofreu inflação nos últimos tempos. As passagens aumentaram devido aos insumos. Enquanto a renda não sofreu o mesmo impacto. Então aumentou-se o preço da passagem, mas não a renda do trabalhador. Ele empobreceu nesse tempo. Ele gastou mais e não recuperou o seu dinheiro”, ressaltou Alexandre Rojas, especialista em transporte da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Para a melhora do sistema, ele cobra integração tarifária e investimento em transporte sobre trilhos.