"A dor vai ficar pra sempre. Queria minha filha de volta, mas isso sei que não posso ter". A declaração pertence ao pai da jovem Danielly Rodrigues, 17 anos, que faleceu no dia 7 de junho, 10 dias após ter sido agredida, violentada e jogada de um penhasco na cidade de Castelo do Piauí, no Norte do estado.
Danielly morreu após ter a face esmagada e sofrer uma hemorragia interna devido às lesões sofridas no tórax e pescoço. A menina chegou a precisar de uma transfusão de sangue, fato que levou centenas de pessoas ao Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí (Hemopi).
Além da jovem, outras três garotas também foram vítimas do crime ocorrido no dia 27 de maio. Um adulto de 40 anos e quatro adolescentes com idade entre 15 e 17 anos são apontados pela Polícia Civil e Ministério Público como autores da barbárie. As quatro amigas saíram para tirar fotos no Morro do Garrote – local onde se tem uma visão panorâmica do município.
Das três sobreviventes, uma ainda está internada Hospital de Urgência de Teresina (HUT), e, segundo os médicos, não corre risco de morte. As outras duas tiveram alta e estão na casa de familiares na capital.
O pai de Danielly, que prefere não se identificar, explicou que até hoje não entende o porquê de tanta violência. A dor e saudade estão presentes nas simples tarefas do dia a dia. “Para nós está sendo muito difícil conviver sem ela porque era uma menina muito presente. A Dani nos ajudava muito”, contou.
Ainda abalada, a mãe da garota não quer falar com a imprensa. Segundo o marido, ela evita conversar sobre o assunto e até mesmo entrar no quarto de sua filha Danielly, que era o local preferido da jovem, segundo o relato do pai.
"É difícil chegar em casa e não vê-la estudando ou assistindo TV. A gente sente um vazio porque minha filha não me deu trabalho, era uma menina que não precisava mandar para ela estudar. Dani sabia de suas responsabilidades, por isso ainda é difícil entrar no quarto dela. A porta está fechada desde o dia de sua morte", afirmou o homem com olhos marejados.
Visitas ao cemitério
O crime contra as meninas comoveu todo o país. Em Castelo, uma cidade que tem uma população estimada de 18.466 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a tragédia deixou marcas difíceis de serem esquecidas. Muitos que não foram ao velório e sepultamento da jovem prestam sua homenagem visitando o túmulo de Danielly.
Segundo a zeladora do cemitério Santo Expedito, Maria Otácilia, de 56 anos, a sepultura da jovem tem recebido muitas visitas nos últimos dias. "Algumas pessoas não acompanharam o velório e enterro dela e por isso vem aqui colocar flores ou acender uma vela. Outras veem mesmo por curiosidade", comentou.
Investigação e denúncia
Com base no material da polícia, o Ministério Público Estadual representou os quatro adolescentes. Todos estão no Centro de Internação Provisória (CEIP) em Teresina e foram ouvidos pela justiça no dia 11.
O prazo máximo para o processo ser concluído, e serem definidas as medidas para os jovens, é de 45 dias. Por se tratar de adolescentes, tudo corre sob segredo de justiça.
Danilelly Rodrigues morreu após 10 diaas de
internação (Foto: Reprodução/Facebook)
Caso sejam considerados culpados, eles cumprirão medida socioeducativa pelos atos infracionais equivalentes aos crimes de estupro, tentativa de homicídio e associação criminosa. O prazo máximo de internação estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é de três anos.
O promotor da comarca de Castelo do Piauí, Cesário de Oliveira, ofereceu na segunda-feira (15) denúncia criminal contra Adão José da Silva Sousa, 40 anos. Ele é acusado de estupro, homicídio com cinco qualificadoras (requintes de crueldade, motivo fútil, sem dar chance de defesa as vítimas, agravante por as vítimas serem menores e associação criminosa, incluindo feminicídio) e três tentativas de homicídio com cinco qualificadoras, associação criminosa, corrupção de menores e porte ilegal de arma.
O promotor pediu pena máxima de reclusão que somada pode chegar a 151 anos. O suspeito nega qualquer tipo de participação no crime.