Em um rápido passeio pelas ruas do Rio de Janeiro, o mais desavisado dos torcedores não seria capaz de perceber a proximidade da Copa do Mundo. A pouco mais de 20 dias do grande torneio, apenas algumas placas temáticas que indicam o caminho para os principais pontos da cidade lembram que o Mundial está chegando.
Nos tradicionais pontos de concentração de torcida, a animação está longe de reviver os momentos de empolgação de outras décadas e confirma que a Copa ainda não é uma realidade na capital fluminense. Pelo menos nas ruas.
As tradicionais bandeirinhas e o asfalto pintado dão lugar ao desânimo. No lugar de mobilizações para enfeitar as praças, o que se vê é o medo de protestos e até planos de contenção a possíveis ataques de manifestantes contrários à realização da Copa.
"Sempre fui um grande entusiasta, mas este ano está diferente. O clima está estranho. Não temos aquela animação de outros anos. O pessoal aqui da rua está até temendo possíveis ações de black blocs e vendo como podemos nos proteger de algo pior. Não temos nada a ver com corrupção e Copa, mas estamos bem no alvo", lamentou o comerciante José Cardoso, morador da rua Alzira Brandão, na Tijuca, tradicional ponto de concentração de torcida no Rio de Janeiro.
"Há uma diferença muito grande para outras copas. Era quase um carnaval prolongado antigamente. As casas estavam sempre pintadas, enfeitadas com bandeiras e hoje não estamos vendo isso. Essa desanimação popular chama a atenção. Um conjunto de fatores determina isso. Temos a exclusão social, dificuldades do dia a dia, problemas políticos, corrupção na máquina pública. As pessoas não se sentem mais parte deste processo de Copa. Isso desanima muito. Não há o encanto de um futebol que antes mexia com todos", explicou o médico José Augusto Messias, morador de Vila Isabel e testemunha das festas ocorridas de quatro em quatro anos desde 1958.
Presidente da Associação Recreativa e Cultural "Turma do Alzirão", Ricardo Ferreira tenta não perder as esperanças e reforça que o ponto que já chegou a atrair 30 mil pessoas em jogos de outras copas será enfeitado e repetirá a programação de outros anos. Ainda assim, reconhece que a animação já não é tão intensa.
"Teremos bandeiras, pinturas e shows aqui, mas estou achando a cidade meio desanimada mesmo. Isso vem caindo mesmo. Já tivemos quase 18 ruas enfeitadas na região da Tijuca e Maracanã, e neste ano teremos duas ou três, no máximo. Essas questões de Fifa, governo e protestos influenciam muito na falta de motivação do povo", argumentou.