O promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro disse neste sábado (24) que não seria produtivo promover uma acareação entre o goleiro Bruno Fernandes e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, condenado a 15 anos por cárcere e homicídio de Eliza Samudio. “No sistema jurídico brasileiro é assegurado a qualquer réu o direito ao silêncio e também o direito à mentira. Não haveria nenhuma produtividade, nenhuma utilidade de promover-se uma acareação entre sujeitos que não somente tem o direito ao silêncio como também o direito à mentira”, falou o promotor.
A declaração foi dada em entrevista ao MGTV 1ª edição. A intenção de pedir uma acareação foi revelada pelo advogado Lúcio Adolfo, que representa Bruno, após Macarrão dar declarações em interrogatório que ligam Bruno à morte de Eliza. Ainda segundo o promotor, Macarrão não deve ser ouvido durante o júri popular do goleiro e de outros dois réus – Dayanne Rodrigues, ex-mulher do jogador, e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola – marcado para 4 de março de 2013. “Eu tenho a impressão de que isso não será cabível, primeiro porque o Macarrão não foi arrolado como informante por nenhuma das defesas dos réus que remanescem a serem julgados”, disse.
Castro afirmou que a condenação de Macarrão afeta diretamente a situação de Bruno, que segue preso na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. "Certamente o ex-goleiro também será condenado", acredita o promotor. Durante a madrugada deste sábado (24), logo após a sentença para Macarrão e Fernanda ser anunciada, o promotor já havia dito que "não há escapatória para ele [Bruno]. Tenho certeza que a pena para ele tem que ser uma pena significativa”, se referindo a uma comparação com a condenação de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, pelo assassinato de Eliza Samudio. O amigo de Bruno foi condenado a 15 anos, sendo 12 em regime fechado.
A ex-namorada do goleiro, Fernanda Gomes de Castro, foi condenada a cinco anos de prisão em regime aberto, pelos crimes de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho dela, Bruno Samudio. Wagner se disse “feliz com a decisão”. “O resultado foi conforme eu esperava”, disse o promotor Henry Castro. Segundo ele, entretanto, não houve vitória, porque há uma pessoa morta.
Morte 'reconhecida'
De acordo com o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro, com a condenação de Macarrão, a Justiça reconhece a morte de Eliza. O corpo dela nunca foi encontrado. “A Justiça reconhece que Eliza foi morta em 10 de junho de 2010, uma vez que a sentença seja transitada em julgado”, disse na madrugada deste sábado (24), na porta do Fórum de Contagem. Ele ainda confirmou que não pretende recorrer das penas imputadas pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues aos réus. “A Promotoria não vai recorrer da pena porque entende que houve justiça na dosagem da pena”, completou.
Ele também comentou sobre a absolvição de Macarrão do crime de ocultação de cadáver. "O júri, sabiamente, entendeu que, com relação ao réu Macarrão, não tem elementos que o liguem a ocultação do cadáver", disse o promotor, que ainda afirmou que "quem ocultou [o corpo de Eliza] foi Marcos Aparecido dos Santos. Só o Bola sabe onde está".
Sobre a ré Dayanne Rodrigues, que responde pelo sequestro e cárcere privado do filho de Eliza, ele disse que, no júri popular marcado para março de 2013, ela “sairá pela porta, assim como Fernanda, porque poderá esperar recurso em liberdade, mas a promotoria acredita que Dayanne será condenada”.
O promotor conversou com a mãe de Macarrão, ainda dentro do fórum, no início da madrugada deste sábado (24). Ele disse à ela que “seu filho foi um homem digno, ele está tendo o melhor recomeço possível da vida dele. Ele teve um comportamento muito bom. A senhora e ele têm tudo para serem felizes. Deus abençoe à senhora”. A família de Macarrão saiu sem falar com a imprensa. O amigo de Bruno foi levado de volta para a Penitenciária Nelson Hungria, onde está preso desde julho de 2010.
José Lauriano, o Zezé
O promotor disse que vai denunciar, ainda este ano, o ex-policial civil José Lauriano de Assis Filho, conhecido como Zezé, que chegou a ser ouvido à época do sumiço de Eliza Samudio. À polícia, em 2010, ele disse que tinha uma banda e que conhecia Bruno e Macarrão por causa de shows. O nome de Zezé também consta em depoimento por Dayanne Rodrigues de Souza. De acordo com a ex-mulher do goleiro, a pedido de Macarrão, o ex-policial teria avisado a ela que a polícia estava à procura do filho de Eliza Samudio. “O Zezé sofrerá certamente também as repercussões penais de seus comportamentos, sem sombra de dúvidas”, falou o promotor.
Sentença
O júri popular do caso Eliza Samudio condenou, na noite desta sexta-feira (23), no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, os réus Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do goleiro Bruno, pelo envolvimento na morte da ex-amante do jogador, em crime ocorrido em 2010. Conforme sentença da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, Macarrão foi considerado culpado pelos crimes de homicídio e sequestro e cárcere privado. Fernanda foi condenada por sequestro e cárcere privado.
Os jurados saíram do plenário em direção à sala secreta às 21h e voltaram depois de mais de duas horas. Durante esse período, eles responderam a quesitos preparados pela juíza Marixa, com a concordância de advogados e do promotor. Com respostas "sim" e "não", os jurados decidiram se os réus cometeram o crime, se podem ser considerados culpados e se há agravantes ou atenuantes, como ser réu primário. Em seguida, a juíza redigiu a sentença.
O júri popular, que teve início com cinco réus, acabou com apenas dois acusados: Macarrão e Fernanda. O jogador Bruno Fernandes de Souza, que era titular do Flamengo, é acusado de ter arquitetado a morte da ex-amante, em 2010, para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia. Bruno, a sua ex-mulher Dayanne Rodrigues e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, tiveram o júri desmembrado pela juíza Marixa e serão julgados em 2013. (Acompanhe o dia a dia do júri popular do caso Eliza.)
O crime
Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, a vítima foi entregue para o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado. O bebê Bruninho foi achado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG).
Além dos três réus que tiveram o júri desmembrado, dois acusados serão julgados separadamente – Elenílson Vitor da Silva e Wemerson Marques de Souza. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, teve o processo arquivado.
Investigações
A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais relata o medo que sentia.
Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse proteção.
Júri de Bruno é adiado e Macarrão liga goleiro ao crime
A terceira sessão, que durou da manhã de quarta até a madrugada de quinta-feira (22), foi marcada pelo interrogatório do réu Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, que disse ter levado de carro a ex-amante do jogador até local indicado pelo goleiro, em Belo Horizonte, onde a jovem entrou em um Palio. "Ele ia levar ela para morrer", afirmou sobre a ordem. Ele disse que não sabia o que iria acontecer com Eliza, mas que "pressentia" que a jovem seria morta.
Pela manhã de quarta, Bruno deixou o júri após ter o julgamento desmembrado e adiado para 4 de março de 2013 por decisão da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, atendendo pedido da defesa. Lúcio Adolfo, novo advogado de Bruno após a saída de Francisco Simim, alegou não conhecer o processo.