A presidente Dilma Rousseff disse a interlocutores que decidiu mudar sua articulação política, mas não fará a troca enquanto for mantida a pressão de aliados, principalmente dos petistas, pela demissão da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
Segundo um conselheiro presidencial, Dilma avalia que Ideli "já deu sua contribuição" e será substituída para aperfeiçoamento da relação com a base aliada.
O interlocutor, que esteve com a petista na semana passada, acrescentou que ela mantém o apoio ao ministro Guido Mantega (Fazenda), apesar do aumento das pressões dentro e fora do governo por sua troca.
Segundo colaboradores da presidente, há no governo expectativa de que a própria Ideli entregue o cargo durante o recesso parlamentar, a partir da semana que vem.
Na quinta, Ideli sofreu um novo golpe: Dilma transferiu para a Casa Civil a tarefa de acompanhar o atendimento das emendas parlamentares.
Com o rearranjo, a ministra da pasta, Gleisi Hoffmann, fica encarregada de cobrar dos demais ministérios a liberação de recursos em atendimento a emendas. E Ideli perde seu principal trunfo para negociação com deputados e senadores.
Contrariada com o esvaziamento, Ideli chegou a manifestar a aliados a disposição de entregar a cadeira na sexta-feira. Mas rendeu-se ao argumento de que não terá para onde ir, já que não tem mandato, e que a transferência é temporária.
Procurada, Ideli disse, por intermédio da assessoria, que "considera fofoca qualquer especulação nesse sentido".
SOBREVIDA
No sábado, Dilma divulgou uma nota negando a pretensão de fazer sua reforma ministerial. E, ontem, Ideli esteve no Palácio da Alvorada para discutir a pauta para a marcha dos prefeitos.
Embora tenha ganhado uma sobrevida, a ministra continua em situação desconfortável. E a divulgação da nota é encarada como uma senha para que ela tome a iniciativa de pedir demissão.
A presidente já vinha avaliando a hipótese de antecipar sua reforma ministerial, parcelando as substituições antes programadas para o fim do ano ou início de 2014.
Com a divulgação da nota, Dilma sinalizou que não trabalha sob pressão. Na avaliação de ministros, a troca na articulação política tornou-se um caso de "emergência", diante do clima de rebelião nos partidos governistas, mas a presidente avalia que afastar Ideli nesse ambiente de pressão seria desumano.
A tendência é que a troca na área política atinja, além de Ideli, os líderes do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM).
Segundo petistas, o abatimento da ministra é evidente. Na quinta, em reunião do PT, ela chorou ao descrever o momento político do país.
ECONOMIA
Na área econômica, Dilma tem dito a auxiliares que não pretende ceder às pressões do "mercado" para demitir Mantega. Um ministro diz, em tom irônico, que o mercado "plantou tomate para colher juros altos e acha que o adubo é a saída do Guido".
A avaliação interna é que o ministro da Fazenda ganhou pontos contra as pressões por sua saída depois que a inflação de junho, apesar de ter estourado o teto da meta, veio mais baixa do que o esperado pelo mercado.
Além disso, ele elabora um aperto fiscal, a ser anunciado nesta semana, para auxiliar o Banco Central no combate à inflação e reordenar a política econômica.
Mesmo assim, dentro e fora do Palácio do Planalto já circulam alguns nomes para uma eventual substituição.
Encabeça a lista o ex-secretário-executivo da Fazenda Nelson Barbosa, que deixou o governo por divergências com Mantega e Arno Augustin (secretário do Tesouro).
Na avaliação de assessores, ele é o favorito por não precisar de uma "curva de aprendizagem" e já conhecer como funciona a presidente.
Depois dele, vem o nome de Joaquim Levy, que trabalhou com o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) durante o governo Lula e hoje está na equipe do Bradesco.