Um fato inusitado transformou a vida da enfermeira piauiense Cynthia de Sousa Almeida, 32 anos. Mãe de Antônio, 3 meses, Cynthia só descobriu a gravidez no dia do parto. Sem saber que esperava um bebê, a enfermeira passou por uma cirurgia bariátrica em Teresina. Ela fez uma bateria de exames no pré e pós-operatório e diversas consultas, mas a gestação não foi diagnosticada. Neste domingo (10), a enfermeira irá comemorar o seu primeiro Dia das Mães.
Cynthia falou dos momentos de medo que viveu durante as 17h em que sentiu dores sem saber que estava em trabalho de parto e nos quais chegou a pensar que encontrava-se entre a vida e a morte. Passado o susto, Cynthia descreve a magia e transformação na sua vida com a maternidade.
A enfermeira estava de férias com o namorado na casa da família em Passagem Franca, no Maranhão, quando sentiu-se mal. De cara ela pensou que fosse alguma complicação por conta da cirurgia bariátrica. Cynthia chegou a tomar morfina e dolantina (medicamentos para dores graves) e foi transferida de ambulância para Teresina, cerca de 5 horas de viagem.
“Era uma dor muito forte, mas eu só imaginava que seria alguma complicação por conta da bariátrica. Meu fígado doía e eu tomava remédio, mas não melhorava. A dor só aumentava e comecei a ficar com medo, achava que ia morrer, que estava tendo uma hemorragia interna. Nunca passou pela minha cabeça estar grávida”, disse.
O ciclo menstrual de Cynthia estava normal, a barriga não cresceu e a gestação só foi descoberta quando ela foi submetida a um raio-X e os médicos conseguiram ver a coluna do bebê. Levada às pressas para uma maternidade, ela relatou que já estava perdendo os sentidos e não acreditou no diagnóstico da gravidez. A enfermeira sofreu uma grave hemorragia durante o parto, o bebê nasceu com dificuldade de respirar e teve que ser reanimado.
“Quando o médico disse que eu estava grávida eu disse que era mentira. Eu chorava, estava assustada, assombrada. Não tinha mais ideia do que estava acontecendo, eu chorava muito. Eu olhava para o Antônio, mas não conseguia ter afeição, sentir que ele era meu. Achava que eu ia acordar e ver que aquilo não tinha acontecido”, lembra.
O G1 ouviu um ginecologista e obstetra. Para o médico Arimateia Santos, o caso de Cynthia é atípico e fatores como o ciclo menstrual irregular e a mudança de foco por conta da cirurgia para perder peso, podem ter confundido a paciente.
“A gente sabe que a falta do pré-natal pode fazer diferença durante a gestação, porque caso haja alguma alteração é necessário uma conduta médica adequada, acompanhamento. É um caso de exceção. O bebê deve ter um acompanhamento com o pediatra para ser avaliado se ficará alguma sequela”, disse.
Antônio chegou ao mundo no dia 24 de janeiro com 46 cm, 3,050 kg e pegou todos de surpresa. Sem enxoval, o bebê deixou o centro cirúrgico com luvas e roupas de uma sobrinha de Cynthia. A notícia se espalhou rápido entre familiares e amigos e logo o bebê começou a receber fraldas, roupinhas, berço e outros presentes.
Sem enxoval pronto, Antônio deixou o centro cirúrgico
com roupas de uma prima.
O pai, o designer gráfico Karlos Daniel Rodrigues Porfírio, 35 anos, disse que passou três noites sem conseguir dormir. “Uma coisa é se planejar para ser pai, outra coisa é já ser pai. Fiquei confuso, não dormi. Foi uma surpresa, uma mudança brusca nas nossas vidas, mas esse foi o meu melhor presente”, conta Karlos.
Chegada de Antonio foi uma surpresa para a família
e amigos do casal (Foto: Fernando Brito/G1)
O Antônio veio com a missão de transformar a minha vida. Hoje sou outra pessoa, menos egoísta e mais cuidadosa. Foi um susto, mas o meu filho é uma benção. Esse vai ser o primeiro Dia das Mães que passarei alegre depois que perdi a minha mãe. Sempre vou lembrar dela. Senti que nesses momentos de dor e angústia ela esteve por perto me ajudando”, fala emocionada.
Cirurgia para perder peso
Cynthia de Sousa pesava 100 kg quando resolveu fazer a cirurgia bariátrica com o método bypass gástrico, que além da redução do estômago também cria um desvio no intestino do paciente. O procedimento foi feito no final de julho do ano passado. Ela já perdeu 41 kg com com o procedimento.
À esquerda, Cynthia ainda pesava 100 kg e ao lado aparece com 41 kg a menos (Foto: Arquivo Pessoal)
Além do gastroenterologista, a enfermeira também passou por consultas com cardiologista, endocrinologista, psicólogo, pneumologista e nutricionista. No entanto, o exame beta HCG (teste de gravidez) não foi solicitado. Com a menstruação normal e sem nenhum sintoma peculiar de uma gestação, Cynthia nunca desconfiou que esperava um bebê.
O G1 também procurou um gastroenterologista para comentar o caso. Luana Chaib destacou que o exame beta HCG não faz parte do procedimento pré-operatório e que somente é solicitado quando há uma suspeita de gravidez.
A obstetra que fez o parto disse que a enfermeira estava dentro das 38 semanas e a cirurgia bariátrica foi realizada por volta do terceiro ou quatro mês de gestação. Além da dieta alimentar, pela qual todo paciente que faz um procedimento como esse tem que passar, ela voltou a tomar o anticoncepcional e antidepressivos que haviam sido suspensos.
“Eu sentia muita fraqueza, desânimo, mas atribuía tudo à bariátrica. Outras pessoas que haviam feito o procedimento me relatavam que era normal. Não suspeitava, nunca suspeitei de gravidez. Menstruava normalmente e nunca senti o bebê mexer na minha barriga”, lembra.
Antonio passou toda a gestação em uma única posição: sentado e do lado direito. O bebê chegou a pressionar o fígado de Cynthia e daí a explicação para as fortes dores que ela relatou ter sentido nessa região e para o edema que se formou na testa da criança.
“Não tive o prazer de curtir a gestação e agora quero cuidar do meu filho, cuidar da gente”, disse.
Mesmo com todos os riscos que Cynthia correu durante a gestação, Antonio é um bebê tranquilo e saudável. No entanto, ele será acompanhado até os dois anos de idade por um neuropediatra.