O prefeito de Istambul, Kadir Topbas, expressou sua preocupação com os protestos que durante dois dias paralisaram sua cidade e teme que os incidentes possam afetar a candidatura para os Jogos Olímpicos de 2020.
Em entrevista concedida ontem à noite à emissora "NTV", o prefeito qualificou a retirada policial como "tardia demais" e se perguntou como explicar ao mundo o que aconteceu nos últimos dias em sua cidade.
"Como explicaremos as imagens que se refletiram, sem mais comentários, no mundo todo para mostrar os incidentes ocorridos em Istambul? Como vamos continuar a convidar os Jogos 2020 para Istambul? Acho que aqui todos perdemos alguma coisa", refletiu Topbas.
Istambul está junto com Madri e Tóquio na final do processo de seleção para organizar os Jogos e a decisão final será tomada depois do verão (hemisfério norte) em um congresso do Comitê Olímpico Internacional (COI) em Buenos Aires.
O slogan da candidatura "Bridge Together" (Uma ponte, juntos) insiste no papel de Istambul como cidade capaz de unir diferentes culturas e visões através do diálogo e da convivência, imagem essa afetada pela violenta intervenção policial dos últimos dois dias.
MADRUGADA
Novos incidentes foram registrados na madrugada deste domingo em Ancara e Istambul, onde os manifestantes tentaram se aproximar dos gabinetes do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, nas duas cidades.
Na capital, Ancara, a polícia dispersou com bombas de gás lacrimogêneo e canhões de água uma multidão de milhares de pessoas que se dirigiam à sede do chefe de governo, cantando slogans hostis a Erdogan, anunciou a agência de notícias Anatolia.
Os manifestantes responderam lançando tijolos e destruíram as vitrines de várias lojas. Dois carros foram incendiados, assim como uma banca de jornais.
Segundo a Anatolia, estes confrontos deixaram 56 feridos entre as forças de segurança. Vários manifestantes foram detidos.
Incidentes similares ocorreram em Istambul, ao redor do gabinete do primeiro-ministro, no bairro de Besiktas. A tranquilidade retornou na manhã deste domingo.
A praça Taksim e o pequeno parque Gezi, cujo projeto de supressão gerou na sexta-feira o movimento de protesto antigovernamental, foram ocupados durante toda a noite por centenas de manifestantes que festejaram o recuo do primeiro-ministro.
O governo turco finalmente fez concessões no sábado, no segundo dia de violentos protestos em Istambul, onde a polícia se retirou da praça Taksin, núcleo da revolta, depois de ter agido com extrema violência contra os manifestantes.
Enfrentando uma das ondas de protesto mais importantes desde sua chegada ao poder, em 2002, Erdogan ordenou que as forças policiais se retirassem da praça Taksim e do parque Gezi, onde está prevista a construção de um parque urbanístico, projeto que desencadeou a ira popular.
Segundo o ministro do Interior, Muamer Guler, 53 civis e 26 policiais ficaram feridos durante os dois dias de violência na Turquia, e 939 manifestantes foram detidos em 48 cidades do país.