O ex-soldado da Polícia Militar do Piauí Aldo Luís Barbosa Dornel e o cabo Francisco Venício Alves estão no Fórum Criminal do Tribunal de Justiça do Piauí nesta terça-feira (10). Eles participam da audiência de instrução e julgamento presidida pelo juiz Antônio Nollêto que decidirá se os dois vão a Júri Popular pela morte de Emily Caetano, assassinada a tiros em uma abordagem da PM em dezembro de 2017 na capital.
Pelo menos 10 testemunhas devem ser ouvidas durante audiência (Foto: Andrê Nascimento/G1)
O cabo da PM foi indiciado apenas por fraude processual, por ter tentado alterar a cena do crime. Já o ex-soldado Aldo Luís foi indiciado por fraude processual, homicídio qualificado e tentativa de homicídio. A denúncia foi feita pelo promotor de Justiça Régis Marinho.
Hoje, além dos dois réus e das vítimas, Daiane Caetano e Evandro Costa, pais de Emily e também baleados na ação, a previsão é de que sejam ouvidas ainda 10 testemunhas. A primeira a depor foi a mãe de Emily. Ao G1, antes da audiência, ela contou que a irmã de Emily teve medo de ir à audiência.
"É uma tristeza muito grande, uma dor muito grande. Vem tudo à tona hoje, as irmãs sempre perguntam e ela [a filha mais velha] ainda pergunta, não entende e tem medo. Ela disse ‘mãe, eu tenho medo do policial fazer alguma coisa’. Mas eu disse que não vai. Com fé em Deus vai dar tudo certo, estamos levando", declarou Daiane.
Em depoimento ao juiz, ela disse não entender o que os policiais fizeram após os tiros. "Eu nem entendi o que foi aquilo. Eles ficaram lá, um conversando um com o outro, catando as balas, falando com outras pessoas. Fiquei sozinha lá, minha filha morta, meu marido baleado, e eu sozinha", contou ela ao mostrar a marca de um tiro em seu braço.
Defesa e acusação
Apenas a defesa de Aldo foi encontrada para comentar a denúncia. Segundo o advogado Wagner Martins, a defesa exige a comprovação de que o disparo que atingiu Emily partiu da arma de seu cliente.
“Ele afirma desde o início que disparou para cima. Essa é a versão dele, a verdade dos fatos. Aguardamos a perícia, a remessa da relação das armas que existem no estado. Aguardamos a remessa das impressões digitais e das raias de cada arma e a prova de que apenas a arma do Dornel seria capaz de imprimir aquelas marcas", declarou.
O ex-soldado e o cabo da Polícia Militar do Piauí acompanham a audiência lado a lado e demonstraram irritação durante o depoimento da mãe de Emily. Os dois chegaram a conversar entre si durante a audiência e foram repreendidos pelo juiz Antônio Noleto.
Já o advogado da família de Emily, João Marcos Parente, disse que o exame de microcomparação balística comprova que todos os disparos foram disparados pelo ex-soldado Aldo Barbosa Dornel. Contudo, a primeira audiência irá verificar se o cabo Francisco Venício Alves também teria participado ou não do crime.
"Todo crime doloso contra a vida, a exemplo do homicídio da Emily, é de competência do Tribunal Popular do Júri. O procedimento é dividido em duas fases. A primeira fase feita por um juiz singular serve para verificar se as pessoas que estão sendo acusadas têm indícios de autoria, que as conectam às práticas dos fatos. Confirmado isso, o juiz submete os acusados à segunda fase, em que eles serão julgados pelo plenário", explicou o advogado da família, João Marcos Parente.
Crime
Carro onde estava a família foi alvejado várias vezes por soldado da PM.
Emilly foi assassinada com dois tiros nas costas durante uma abordagem de policiais do 5º Batalhão da Polícia Militar na noite de Natal. Os pais da menina também foram atingidos, mas sobreviveram. O pai perdeu a audição de um dos ouvidos.
A garota chegou a ser socorrida e encaminhada ao Hospital de Urgência de Teresina (HUT), mas não resistiu aos ferimentos. Depois de efetuar os disparos, os policiais recolheram as cápsulas de bala, tentando modificar a cena do crime.
O soldado Aldo, apontado como autor dos tiros que mataram Emily, continua preso, ele foi denunciado por homicídio qualificado, tentativa de homicídio e fraude processual, por ter reconhecido as cápsulas. Já o cabo Francisco Vinícius está em liberdade e foi indiciado pelo crime de fraude processual.