A ativista Elisa Quadros, conhecida como Sininho, teve seu depoimento à agentes da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) adiado. De acordo com o advogado Marino D’Icarahy, que defende a ativista, Elisa vai retornar em data ainda a ser definida à Cidade da Polícia, no Jacaré, pois precisou sair direto para a audiência na Auditoria de Justiça Militar, onde é testemunha de acusação no caso que apura a denúncia contra dois PMs acusados de forjarem um flagrante contra um jovem durante um protesto no ano passado.
Segundo a Secretaria de Estado de Segurança (Seseg), Elisa e outras nove pessoas foram encaminhadas mais cedo por agentes da DRCI para prestar esclarecimentos sobre atos de violência durante protestos, mas ninguém ficou preso. Por volta das 13h, Sininho deixou a delegacia sem falar com a imprensa e ao lado de uma advogada. Ao todo, foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça nas casas de investigados.
A ação é um desdobramento da operação que, em 4 de setembro do ano passado, prendeu e indiciou três homens por formação de quadrilha e incitação à violência. A polícia informou ainda que as investigações sobre o caso continuam em andamento, e o inquérito está em segredo de Justiça. Nesta quarta-feira, os policiais estiveram em endereços na Barra da Tijuca, Centro, Copacabana, Catete, Bangu, Niterói e Botafogo, e apreenderam computadores e mídias que serão analisados. A operação contou com o apoio de 13 delegacias especializadas.
D’Icarahy acompanhou o depoimento dos ativistas na Cidade da Polícia, no Jacaré. Segundo ele, pelas perguntas feitas a seus clientes, a polícia tem a intenção de conseguir provas da participação deles em organizações criminosas acusadas de praticar atos de vandalismo durante os protestos nas ruas do Rio.
— Tudo isso que foi feito hoje (a operação de busca e apreensão nas casas dos ativistas), foi de caso pensado e faz parte de um processo de intimidação do ativismo político, porque foi realizado 24 horas antes da abertura da Copa — disse o advogado. — Os policiais perguntaram se eles pertencem a algum partido político, se são black blocs ou se conhecem alguns dos líderes do movimento.
D’Icarahy disse ainda ter achado estranha a coincidência de que algumas pessoas levadas para a Cidade da Polícia tiveram seus nomes citados no depoimento prestado por Caio Sousa, um dos réus do caso da morte do cinegrafista Santiago Andrade, no primeiro dia em que foi levado preso para o Complexo de Gericinó. O advogado ressaltou que as declarações foram dadas sob coação.
Já a advogada Luísa Maranhão, do Coletivo Tempo de Resistência, grupo que acompanha juridicamente manifestantes, esteve na Cidade da Polícia e disse que não tem informações sobre a natureza dos mandados de busca e apreensão expedidos pela 27ª Vara Criminal.
— Eu vim acompanhar as pessoas que foram trazidas para prestar esclarecimentos. Não houve prisões, mas sim, apreensões de objetos e equipamentos eletrônicos, além de roupas e máscaras — disse Luísa Maranhão.
POLÍCIA APRENDE TACO DE BEISEBOL
Além de Sininho, foram levados para a delegacia Thiago Rocha, Eduarda Castro, Luiza Dreyer, Gabriel Marinho, um menor, a advogada Eloísa Sammys e Anne Josephine, mulher do ativista Game Over que não foi encontrado em casa. Entre o material apreendido, também foi encontrado um taco de beisebol.
Mais cedo, um grupo de quatro jovens, que se identificaram como integrantes de um grupo “anarcopunk”, também foi levado para a delegacia. Segundo uma das jovens, eles invadiram um imóvel na Lapa e vivem por lá. Ela disse que a polícia foi ao local à procura de drogas. O grupo foi levado para a Cidade da Polícia e liberado em seguida.
Sininho discursa em assembleia de professores em 24/10/2013 - Domingos Peixoto / O Globo
Sininho já tinha sido convidada a depor na tarde desta quarta-feira em uma audiência da Auditoria da Justiça Militar, que apura a denúncia contra dois policiais militares que teriam forjado um flagrante contra um jovem durante manifestação nas ruas do Centro do Rio no ano passado. O major Fábio Pinto Gonçalves e o primeiro tenente Bruno César Andrade Ferreira respondem por constrangimento ilegal. Os dois já foram ouvidos em audiência anterior.
Fontes da Polícia Civil dizem ainda que Elisa está sendo investigada pela compra irregular de fogos de artifício. Em fevereiro, o cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, da TV Bandeirantes, morreu após ser atingido por rojão, enquanto cobria uma manifestação na Central do Brasil.
CONHECIDA APÓS MANIFESTAÇÕES
Desconhecida antes das manifestações do ano passado, Elisa Quadros Pinto Sanzi, de 28 anos, é natural de Porto Alegre. Ela estudou cinema na Universidade Estácio de Sá, onde entrou em 2006, e trabalhou durante pelo menos dois anos numa produtora de vídeo.
Manifestando-se ao lado dos violentos Black Blocs, Sininho costumava assumir o papel de mediadora, pedindo calma e tentado conter as depredações do grupo. Com o acirramento dos ânimos, o perfil conciliador foi ficando para trás. Dizendo-se ameaçada por “milicianos”, ela deu um depoimento nas redes sociais, onde contou que, “por medo”, deixou os protestos na Câmara e viajou.
Em outubro do ano passado, Sininho foi presa junto com outras 84 pessoas pela Polícia Militar nas escadarias da Câmara e acabou detida em uma das casas de custódia de Bangu. Na época, ela afirmou não trabalhar e apresentou dois endereços: um em Copacabana e outro no Rio Comprido. A polícia descobriu ainda que ela tem dois números de carteira de identidade. Ao deixar a prisão, gravou um outro vídeo junto com o namorado: “Fui presa arbitrariamente, meu processo foi arquivado, mas eu ainda estou sendo investigada”. Em dezembro, angariou fundos e foi até o Espírito Santo para prestar solidariedade às vítimas das enchentes.
Em janeiro, a ativista voltou a ser detida e levada à 5ª DP (Gomes Freire), sob acusação de ter chamado de “macaco” um policial militar durante uma discussão na Lapa. Ela foi autuada por desacato. No mês seguinte, esteve na 17ª DP (São Cristóvão) para prestar solidariedade a Fábio Raposo, preso pela explosão que matou o cinegrafista da TV Bandeirantes.
Sininho teve que prestar novo depoimento depois de ser acusada pelo advogado de Fábio, Jonas Nunes, de ter afirmado que o deputado Marcelo Freixo (PSOL) estava ligado aos dois jovens que acionaram o rojão que atingiu e matou o cinegrafista. Ao deixar a delegacia, foi hostilizada por populares que a chamaram de “patricinha hipócrita”.