Após se reunir a portas fechadas nesta terça-feira (11), a bancada do PMDB na Câmara anunciou "independência" em relação ao governo e decidiu que apoiará a convocação da Executiva Nacional da legenda para "reavaliar" a atual aliança com o PT.
O PMDB, que detém a segunda maior bancada da Câmara (75 deputados) depois do PT (87), entrou em rota de colisão com o governo devido às divergências entre as duas siglas sobre as alianças regionais para a eleição deste ano e à demora para a conclusão da reforma ministerial – a presidente Dilma Rousseff resiste à reivindicação de ampliação do espaço do partido, que atualmente comanda cinco ministérios (Agricultura, Minas e Energia, Previdência, Turismo e Aviação Civil).
Documento lido durante a reunião dos deputados da legenda afirma que os parlamentares vão "exortar o partido a convocar sua Executiva para debater a atual crise política, com vistas a reavaliar a qualidade da aliança com o PT e adotar providências visando fortalecer o PMDB".
De acordo com o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), a posição foi apoiada pela maioria dos integrantes da sigla. "A bancada quer discutir a qualidade da aliança. Mas a decisão é da convenção nacional", disse Cunha.
Para a convocar a convenção, é necessário que pelo menos 11 diretórios regionais do PMDB assinem documento solicitando o encontro. Na reunião desta terça da bancada, deputados peemedebistas relataram que estão se articulando nos estados para colher assinaturas para fazer a convenção.
Eduardo Cunha disse que "discutir" não significa necessariamente romper com o PT, mas, de acordo com o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), "a maior parte da bancada – 80% – quer o rompimento".
“Não cabe à bancada decidir ou não [se a aliança deve continuar]. Esse debate passa pela Executiva Nacional e depois pela convenção nacional. O que a bancada quer é debater”, disse o líder do PMDB.
Independência
O documento aprovado pelos deputados peemedebistas diz que a bancada "reafirma sua intenção de se conduzir com independência, visando o melhor entendimento sobre as matérias, de acordo com a posição da maioria em cada votação”.
Com essa declaração aprovada pelos deputados, o PMDB deixa claro que não apoiará necessariamente projetos de interesse do governo. Em um primeiro sinal de “independência”, o partido decidiu apoiar a aprovação de convocações e convites para que ministros e autoridades do governo federal prestem explicações na Câmara.
De acordo com Cunha, o PMDB entrou em acordo para aprovar convite à presidente da Petrobras, Graça Foster, para que fale de denúncias de propina envolvendo a estatal.
O peemedebista afirmou ainda que apoiará a convocação do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para que preste esclarecimentos sobre o programa Mais Médicos e o regime de contratação de médicos cubanos.
Apoio a Cunha
No documento aprovado pela bancada, os peemedebistas também declararam apoio ao líder do PMDB e destacaram que Cunha “é o único interlocutor da bancada federal”.
A relação tumultuada entre Cunha e o governo federal está na raiz da crise entre o Executivo e a base aliada no governo Dilma. Nesta segunda, a presidente se reuniu com lideranças do partido no Palácio do Planalto, entre as quais o líder da bancada do Senado e os presidentes da Câmara e do Senado, mas não convidou Cunha. A atitude foi interpretada como uma tentativa de isolar o líder peemedebista.
“A bancada decidiu aprovar moção de apoio e irrestrita solidariedade ao líder reeleito Eduardo Cunha, vítima de agressões despropositadas do PT que, em verdade, atingiram frontalmente a bancada e o próprio PMDB, já que as posições externadas pelo líder refletem a posição da bancada”, diz a nota da bancada.
A moção de apoio aprovada diz ainda que a unidade da legenda “incomoda forças políticas” com projeto “hegemônico” de poder. “A harmonia e coesão da nossa bancada, ao tempo que incomodam outras forças políticas que flertam com um projeto hegemônico, tem tributado ao nosso líder Eduardo Cunha ataques e agressões que extrapolam o patamar da civilidade em qualquer das relações e, particularmente, nas relações políticas onde o respeito e a cordialidade são fundamentais e imprescindíveis à democracia”, diz o texto.
Mais cedo nesta terça, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), também saiu em defesa de Eduardo Cunha, dizendo considerar “impossível” que o líder do PMDB seja excluído. “É impossível isolar um líder de uma bancada de 76 deputados federais. Podem ter dificuldades, que fazem parte do jogo
'É claro que existe crise'
Em entrevista à imprensa após a reunião com a bancada, Eduardo Cunha reconheceu que existe uma "crise" entre PT e PMDB e destacou que não houve tentativa pelo governo de debater a relação entre os dois partidos.
"É claro que existe uma crise e essa relação não foi discutida. Pelo contrário. Sempre tentaram nos colocar como interessados em cargos. Nós queremos nos desfazer de cargos", disse.
Cunha afirmou ainda que se a presidente Dilma quiser ouvir o PMDB, terá que "conversar com a bancada" do partido na Câmara. Para Cunha, o PT tem um projeto hegemônico de poder e exclui partidos aliados.
"Há uma insatisfação generalizada com um processo hegemônico feito pelo Partido dos Trabalhadores, que tem prejudicado partidos aliados", afirmou.