A Polícia Militar afirmou, na tarde desta terça-feira (7), que afastou oito policiais militares que participaram da ação policial que terminou com a morte de Eduardo de Jesus, de 10 anos, na última semana no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. Segundo a Divisão de Homicídios (DH), eles foram afastados para não atrapalhar as investigações. Dois dos oito PMs assumiram que efetuaram disparos próximo à região onde Eduardo foi baleado.
Com a admissão, eles agora são principais suspeitos de matar o menino de dez anos, atingido por uma bala de fuzil na cabeça. A Polícia Militar confirma que houve um tiroteio com traficantes naquele dia. A mãe de Eduardo disse que ouviu apenas o tiro que matou o menino. Os investigadores agora querem saber se o tiro que matou Eduardo partiu da arma de um desses dois policiais.
Na sexta-feira (3), a polícia já havia divulgado o afastamento dos PMs do policiamento nas ruas. Eles tiveram suas armas recolhidas para a realização de exame balístico e respondem a um Inquérito Policial Militar (IPM).
Reunião
Durante a manhã desta terça-feira, 13 líderes comunitários do Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, se reuniram com o delegado da DH, Rivaldo Barbosa. Segundo ele, 16 pessoas, entre elas 11 policiais militares, já prestaram depoimento sobre a morte do menino Eduardo. O delegado continua ouvindo policiais e testemunhas do caso e vai aguardar os laudos da perícia no local e aguardar o retorno dos pais da vítima para um depoimento mais aprofundado, para marcar uma reprodução simulada do crime.
Segundo o RJTV, dois policiais militares admitiram em depoimento à Divisão de Homicídios do Rio que atiraram com fuzis próximo à área em que Eduardo de Jesus foi baleado e morto na última semana no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio.
O delegado não quis comentar as declarações de moradores que disseram que PMs recolheram cápsulas de bala do local do crime. Rivaldo disse que a perícia recolheu alguma cápsulas que foram enviadas para análise.
"Não trabalhamos sobre pessoas. Nós investigamos os fatos. A reprodução simulada é imprescindível para esclarecer o caso. Precisamos estabelecer os locais onde estavam vítima, policiais e pessoas que possam ter visto ou ouvido o que aconteceu", disse o delegado. "Neste momento de dor, da perda de um filho a mãe tem o direito de dizer o que quiser. O que posso dizer é que, ao contrário de fotos e informações que andaram circulando por aí, o Eduardo era uma pessoa de bem, que estudava e não tinha qualquer ligação com o tráfico".
Reprodução
O delegado disse ainda que sobre a morte de Elizabeth, dentro de cassa também no Alemão, já ouviu sete pessoas entre policiais e parentes. A reprodução simulada e Elizabeth ocorrerá, segundo Rivaldo, provavelmente no mesmo dia da simulação de Eduardo.
Rivaldo afirmou ainda que foi muito ajudado por moradores no dia do em que a perícia esteve no local. Na reunião com os líderes comunitários, ele disse esperar continuar conta do com a colaboração da comunidade.
"Viemos cobrar empenho da polícia. Estamos sentindo muito a morte de Eduardo, Elizabeth e Caio. Queremos que esses cAsos não fiquem impunes", disse Francisco Arimateia, da Fazendinha.
"Queremos paz. A reciclagem e todo aprimoramento para ajudar o trabalho da polícia na comunidade é válido. Queremos que haja um comprometimento da polícia com a vida e não com a morte", disse o líder comunitário da Palmeira, Marcos Valério Alves.
O relações públicas das Unidades de Polícia Pacificadora, major Marcelo Corbage, que também participou da reunião, disse que a PM está colaborando para a verdAde dos fatos. E que foi aberto um inquérito policial militar para apurar o caso.
"O momento é muito difícil para todos. Também temos muitos policiais vitimizados e mortos. A solução só virá com o apoio de todos para que a gente consiga a paz duradoura e permanente. Estamos analisando e repensando o policiamento nas comunidades e queremos sensibilizar os moradores para que colaborem como testemunha para ajudar a esclarecer o caso", disse o major.
Professora lembra última conversa
Uma professora de Eduardo fez um vídeo falando sobre a última conversa que teve com o aluno. Ela lembrou com carinho que o menino gostava de contar histórias e visitar asilos.
"No ano passado, fizemos um projeto para ajudar a comunidade, e o Eduardo foi um dos que se interessou em participar. Ele adorava contar história para as crianças menores, fazer atividades com teatro, e principalmente de ir a asilos, e fazer atividades que envolvessem a cidadania. No nosso último encontro, Eduardo teve a sua ultima conversa comigo: 'Tia, quando vamos a um outro asilo? Queria muito cuidar das vovós'. E é essa a memória que vai ficar dele", afirmou a professora Camila Oliveira.
Além do vídeo, amigos e colegas de Eduardo fizeram uma homenagem na escola onde ele estudava, com cartazes e fotos dele espalhadas pela sala de aula do colégio Maestro Francisco Mignone, em Olaria, também na Zona Norte.
Na Divisão de Homicídios também foram ouvidos os agentes que trocaram tiros com traficantes na quarta-feira da semana passada. Durante o confronto, Elizabeth de Moura Francisco, de 40 anos, morreu ao ser atingida. Ela estava dentro de casa.
Movimentação intensa no Alemão
A movimentação de policiais da UPP e do Batalhão de Choque era intensa durante a manha desta terça-feira (7). Moradores circularam normalmente e o teleférico funcionou. A reocupação começou pelas áreas consideradas críticas pela polícia. Os agentes do Bope vão circular por todo o conjunto de favelas do Alemão e da Penha.
A ação do Batalhão de Choque vai se concentrar na Nova Brasília, enquanto todos os policiais dessa upp passam por curso de reciclagem.
Enterro
Nesta segunda-feira (6), o corpo do menino Eduardo de Jesus foi enterrado em Corrente, no Piauí.