Independentemente do resultado da eleição do ano que vem, quem quiser governar o Brasil a partir de 2015 terá de fazer um duro ajuste fiscal. A avaliação é do governador Eduardo Campos (PSB-PE), reproduzida por diversos de seus interlocutores.
Pré-candidato à Presidência da República, ele tem defendido em diálogos recentes o que chama de "choque de responsabilidade", um gesto na linha de recuperar a confiança do mercado financeiro para tornar o país governável pelos próximos anos.
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"Qualquer que seja o resultado da eleição, será um ano difícil. Vai ter de ser duro para resgatar a confiança. O que conta é a previsibilidade, sem maquiagens", disse o governador durante conversa com auxiliares na semana passada relatada à Folha.
Há menos de um mês, ele ganhou a companhia da ex-senadora Marina Silva no seu PSB e, em pouco tempo, galgou alguns pontos na escada da intenção de votos. A exposição e mudança das peças do jogo da sucessão levaram ao questionamento, no meio político, sobre o que pensa o governador acerca dos principais problemas da economia.
Na área fiscal, Campos sinaliza com "mix" da doutrina liberal e da pauta desenvolvimentista, corrente na qual afirma se encaixar melhor sempre que um rótulo lhe é cobrado. Em outras situações, apenas responde secamente: "Defendo o crescimento".
De um lado, exige a definição de metas de longo prazo para o superavit primário e o cumprimento estrito da meta fixada pelo governo federal; do outro, mostra simpatia pelo regime de bandas, proposta defendida pelo ex-número 2 da Fazenda, Nelson Barbosa, hoje ligado ao ex-presidente Lula mas que conta com a simpatia de Campos.
Nesse sistema pendular, a União economiza mais para pagar juros da dívida quando o PIB (Produto Interno Bruto) estiver crescendo mais; e promove aperto menor nos gastos quando houver desaceleração da atividade econômica. "Não tem cabimento um superavit de 3% do PIB", diz com frequência.
Sua gestão em Pernambuco fechou 2012 com um déficit de R$ 1 bilhão, mas com um nível baixo de endividamento, conforme dados do Tesouro Nacional. Para Campos, a União deve cobrir Estados e municípios toda vez que estes não atingirem suas metas. A presidente Dilma Rousseff acabou com a essa obrigatoriedade.
O presidente do PSB se mostra contrário ao método de reajuste do salário mínimo automático, com base na inflação do período e no crescimento do PIB de dois anos antes. Concorda em garantir ganho real ao trabalhador, sem indexação.
Keynesiano por formação, graduou-se em economia aos 20 anos de idade pela Universidade Federal de Pernambuco. Nos tempos de faculdade, passou a simpatizar com as ideias do britânico John Maynard Keynes na defesa de um Estado indutor do investimento, sobretudo em momentos de crise.
Com o passar dos anos, porém, abriu mais espaço para a escola liberal, ampliando ainda mais o leque desde que decidiu disputar o Planalto.
Campos respeita as ideias de Pérsio Arida, um dos formuladores do Plano Real, assim como construiu uma relação próxima nos últimos anos com Luciano Coutinho, presidente do BNDES. Também costuma falar com Tânia Bacelar, especialista em desenvolvimento, da UFPE.
Nos anos 90, assumiu a Secretaria de Fazenda do Estado, à época governado por Miguel Arraes, seu avô. Acabou deixando o cargo após o escândalo dos precatórios.
A secretaria, sob seu comando, autorizou a emissão de títulos públicos para pagar precatórios judiciais. A operação foi considerada irregular. Em 2003, o STF inocentou tanto Campos quanto Arraes, morto em 2005.