Coluna de fumaça após ataque aéreo israelense
Najah al-Atar viu cair do céu, há mais de uma semana, um pedaço de papel em que o Exército israelense pedia que a família deixasse sua casa, em Beit Lahiya, no norte de Gaza.
Os aviões que vieram em seguida deixaram cair bombas ali, em vez de avisos. saiba mais Brasil chama de inaceitável violência em Gaza e convoca embaixador ONU acusa Israel de possíveis crimes de guåçerra em Gaza Companhias de EUA e Europa suspendem voos para Israel Bombardeios de Israel em Gaza já mataram 121 crianças, diz Unicef Israel bombardeia sede da Al Jazeera e da agência de notícias AP em Gaza Leia mais sobre Israel e Palestina
Assustado, o clã Atar, constituído por cerca de 50 familiares, abandonou o local sem carregar nenhum pertence. Então eles se perguntaram –para onde ir?
É a questão de milhares de palestinos, trancados em um estreito de terra quatro vezes menor do que o município de São Paulo, submetido a bloqueio terrestre, marítimo e aéreo. Não há abrigo seguro.
A operação militar israelense, em sua terceira semana, já deixou 695 palestinos mortos. Do lado israelense, morreram 30 soldados e dois civis.
Na faixa de Gaza, civis se refugiam em escolas, mesquitas, igrejas e nos arredores de hospitais. "Foi o lugar mais seguro que encontramos", diz Najah, que vive atualmente no pátio de uma escola administrada pela ONU, alimentada pela caridade de instituições e de vizinhos.
Mas não há garantia de que ela possa velar seus filhos, à noite, com a segurança de que sobreviverão.
Ibrahim al-Baghtiti fugiu, há oito dias, do intenso bombardeio no bairro de Shujaya, leste de Gaza. Ele está no quintal da igreja ortodoxa grega Santo Porfírio. O templo foi atingido há três dias, e dois foram mortos, de acordo com testemunhas.
Imagem: Mohammed Saber/EfeColuna de fumaça após ataque aéreo israelense
"Eles atacam qualquer coisa", diz um palestino que se identifica à reportagem apenas como "Al-Gharib" (o estranho, em árabe). "Hospitais, escolas, mesquitas. Todos somos alvos."
Gharib conta ter caminhado por quatro horas de Shujaya à igreja. A região de que fugiu foi destruída pelo Exército israelense, mas ele segura, durante a entrevista, uma pequena chave –que usa para mostrar o tamanho dos estilhaços do explosivo que caiu ali.
"Carrego minhas chaves como os anciãos palestinos, para mostrar que ainda tenho uma casa", diz, referindo-se à tradição local de exibir o artefato desde a expulsão de palestinos após a criação de Israel, em 1948.
À Folha o Exército de Israel disse que informa aos civis para onde devem se deslocar, em seus avisos. Um panfleto visto pela reportagem mostrava basicamente uma seta indicando uma reta entre Shujaya e a região central de Gaza.
"O que é melhor, ir a um recinto das Nações Unidas ou continuar em uma zona de combate? Pedimos que escutem as nossas advertências, e não as do Hamas, que prefere que eles continuem ali", diz o porta-voz do Exército Roni Kaplan. "Nos preocupamos muito com a presença de civis em zonas de combate."
As Forças de Defesa de Israel alertam, também, com o envio de SMS e telefonemas.
Parte dos entrevistados, porém, diz ter sido avisada "pelos foguetes". A reportagem foi surpreendida, durante uma visita ao hospital de Shifa, pela chegada de uma caravana de ambulâncias com as vítimas de um recente ataque. Eram dezenas de civis. Enfermeiros carregavam crianças empoeiradas e ensanguentadas. Uma jovem se lamentava: "meu irmãozinho, meu irmãozinho". Familiares preenchiam os corredores com seus gritos.
De acordo com a direção do hospital, foram 30 feridos e um morto, vindos da região de Shamaa. Havia relatos de uma forte explosão nos arredores de uma mesquita.
O Exército israelense atacou, também nesta quarta-feira, o hospital de Wafa, a partir da alegação de que militantes da facção palestina Hamas se escondiam no complexo, disparando dali contra os soldados israelenses.
Houve, durante o dia, a esperança de uma trégua humanitária ao redor de Shujaya. A Folha aproximou-se dali, na expectativa de adentrar a região sob embate. Minutos antes do prazo, porém, cinco foguetes do Hamas cruzaram os céus. O Exército israelense atacou alvos em seguida, e ambulâncias deram meia volta, desistindo de um prospecto de paz.