SÃO PAULO - Em Paris, onde participa de evento com a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou na manhã desta terça-feira, por meio de sua assessoria de imprensa, que “não há nenhum comentário” a fazer sobre as acusações do publicitário Marcos Valério, de que teria pagado despesas pessoais do petista em 2003. A revelação foi publicada nesta terça-feira pelo jornal “Estado de S. Paulo“, que teve acesso a depoimento de Marcos Valério à Procuradoria Geral da República.
O diretor do Instituto Lula, Paulo Okamoto, que, segundo Marcos Valério, teria ameaçado o publicitário de morte caso denunciasse o esquema do mensalão, negou que o tenha pressionado. Ele duvidou ainda de que Marcos Valério tenha feita tais afirmações em depoimento à Procuradoria Geral da República.
— Não sei se ele falou isso. Estou fora do Brasil. Eu nunca ameacei ele de morte, ele sabe disso. Eu acho que isso é uma confusão. Ele nunca me emprestou dinheiro, nunca fez nada para mim, não tem por que ameaçá-lo. Eu vou me posicionar quando retornar ao Brasil e ler o depoimento — afirmou Paulo Okamoto, que acompanha o ex-presidente petista em Paris.
Rui Falcão
Em São Paulo, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, negou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o partido tenha pago honorários aos advogados de Marcos Valério. Em nota, o dirigente classificou as denúncias de Valério como uma "tentativa desesperada de tentar diminuir a pena de prisão que Valério recebeu do STF". Falcão também acusa a imprensa de tratar com seriedade "mentiras envelhecidas" e afirma que o partido, mesmo tendo sido alvo de difamação nos últimos meses, saiu vitorioso das eleições municipais:
"A campanha difamatória que estamos sofrendo nos últimos meses não impediu nossa vitória nas eleições de outubro e nem conseguirá manchar o trabalho que nosso partido tem realizado".
'Patrimônio'
Presente na missa de final de ano do Congresso, na qual o arcebispo de Brasília, Dom Sérgio da Rocha, pregou ética na política, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), tentou desqualificar as declarações de Marcos Valério e saiu em defesa de Lula:
— Eu não li. Se ele (depoimento) existiu, é uma profunda inverdade. A pessoa que disse isso não tem autoridade para falar do presidente Lula, que é um patrimônio do país.
Marinho nega envolvimento
O prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho, acusado por Marcos Valério de ter sido intermediário de edição de medida provisória que beneficiou o BMG, negou, por meio de nota, que tenha favorecido alguma instituição financeira. Os empréstimos do banco, que nega ter sido beneficiado, foram considerados fraudulentos pela Suprema Corte no julgamento do escândalo do mensalão.
“Como então presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho levou ao governo federal a proposta de instituição do crédito consignado em folha, medida que reduziria o risco de inadimplência, acabando com o argumento dos bancos para cobrarem as taxas exorbitantes que cobravam. Após aprovada a legislação, Luiz Marinho reuniu-se com a direção de um conjunto de instituições financeiras – entre elas Banco do Brasil, Bradesco, Santander, BMG – para que as melhores taxas fossem oferecidas aos trabalhadores”, afirmou.
‘Desespero’
Em face das denúncias, as lideranças do PT saíram nesta terça-feira em defesa do ex-presidente petista. Na avaliação delas, as revelações não implicam o líder do PT no escândalo do mensalão e demonstram “desespero” de Marcos Valério, condenado a uma pena de 40 anos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Para o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), se houvesse realmente uma denúncia contra o ex-presidente petista, Marcos Valério deveria tê-la feito antes, e não após a sua condenação.
— Se ele tivesse realmente uma denúncia, teria feito antes. Não há nada que implica o Lula, é uma conversa de uma pessoa desesperada. Não tem base material. Todos nós sabemos que não é verdade — afirmou.
O deputado federal Devanir Ribeiro (PT-SP), amigo do ex-presidente petista, avalia que as denúncias não procedem e não atingem Luiz Inácio Lula da Silva.
— Por que ele falou apenas agora? Por que ele não falou na época? Isso não procede e não nos atinge em nada. É desespero — disse.
Segundo o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), é mais uma tentativa de Marcos Valério para diminuir a pena dele, envolvendo o ex-presidente petista:
— É mais uma grande jogada do Marco Valério. Em troca da diminuição da pena dele, fornece elementos para abertura de inquérito envolvendo Lula na história. O objetivo dele e dos que estão apoiando ele é criar constrangimento e atingir o PT — afirmou.
O deputado petista disse que é preciso aguardar para avaliar o impacto das declarações de Marcos Valério.
— Não sabemos do impacto que isso vai ter. Temos que esperar. Eu não acredito ( que o Lula soubesse e esteja envolvido) — disse.
Leia abaixo, na íntegra, a nota do PT sobre o caso:
“A Direção Nacional do PT lamenta o espaço dado pela imprensa para as supostas denúncias assacadas pelo empresário Marcos Valério contra o partido e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Caso essas declarações efetivamente tenham sito feitas em uma tentativa de “delação premiada”, deveriam ser tratadas com a cautela que se exige nesse tipo de caso. Infelizmente, isso não aconteceu.
As supostas afirmações desse senhor ao Ministério Público Federal, vazadas de modo inexplicável por quem teria a responsabilidade legal de resguardá-las, refletem apenas uma tentativa desesperada de tentar diminuir a pena de prisão que Valério recebeu do STF.
Trata-se de uma sucessão de mentiras envelhecidas, todas elas já claramente desmentidas. É lamentável que denúncias sem nenhuma base na realidade sejam tratadas com seriedade. Valério ataca pessoas honradas e cria situações que nunca existiram, pondo-se a serviço do processo de criminalização movido por setores da mídia e do Ministério Público contra o PT e seus dirigentes.
Prestes a completar 10 anos à frente do Governo Federal, período em que o Brasil viveu um processo de desenvolvimento histórico e em que as classes populares passaram pela primeira vez a ter protagonismo no nosso país, o PT é alvo constante de setores da sociedade que perderam privilégios.
A campanha difamatória que estamos sofrendo nos últimos meses não impediu nossa vitória nas eleições de outubro e nem conseguirá manchar o trabalho que nosso partido tem realizado em defesa do país, da democracia e, principalmente, da população mais pobre.
Rui Falcão
Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores”