Sede da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana em Fort Meade, Maryland.
O FBI e a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos interceptaram e-mails de ativistas, acadêmicos e políticos americanos que seguem o islamismo, segundo informações divulgadas pelo site The Intercept, publicação criada este ano e que tem entre seus editores o jornalista americano Glenn Greenwald, um dos responsáveis pela revelação do programa de espionagem internacional dos EUA.
Imagem: Paul J. Richards/AFPClique para ampliarSede da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana em Fort Meade, Maryland. A reportagem usa dados vazados pelo ex-técnico da NSA, Edward Snowden. O material fornecido não incluía o nome dos alvos de espionagem, apenas os endereços de IP. Greenwald e o jornalista Murtaza Hussain afirmaram que depois de três meses conseguiram identificar nominalmente cinco pessoas, todas americanas. Ao todo, 7.485 endereços eletrônicos foram monitorados entre 2002 e 2008. Destes, pelo menos 202 pertenciam a cidadãos dos EUA.
Entre os identificados estão Faisal Gill, um membro do Partido Republicano que trabalhou noDepartamento de Segurança Interna durante a Presidência de George W. Bush; Asim Ghafoor, um advogado que representou clientes suspeitos de terrorismo; Hooshang Amirahmadi, um
professor iraniano-americano da Universidade de Rutgers; Agha Saeed, um ativista de direitos civis e ex-professor da Universidade do Estado da Califórnia; e Nihad Awad, diretor do Conselho para as Relações Islâmico-americanas.
Muitos dos outos milhares de endereços de-mails parecem pertencer a estrangeiros suspeitos de possuir vínculos com os grupos fundamentalistas Hamas e Hezbollah e a rede terrorista Al Qaeda – incluindo Anwar al-Awlaki, o clérigo iemenita-americano assassinado por um drone em 2011.
Antes de bisbilhotar e-mails, a NSA oficialmente precisa de autorização de um tribunal secreto que costuma lidar com questões de espionagem no exterior. Os agentes têm que convencer o juiz de que os alvos não apenas são ligados a grupos terroristas como também pretendem cometer atentados ou sabotagem. Não se sabe se nos casos que envolveram a espionagem dos americanos citados a NSA conseguiu autorização do tribunal antes de interceptar seus e-mails. Também não se sabe por que a agência os escolheu como alvos.
De acordo com a reportagem, os seis americanos negaram envolvimento com atividades terroristas ou de espionagem e manifestaram surpresa com as alegações. Faisal Gill, por exemplo, teve contas de e-mail do AOL e do Yahoo invadidas na época em que concorreu à vaga de deputado estadual no Estado da Virgínia. "Não sei o porquê. Fiz tudo para ser um patriota. Servi na Marinha, no governo, sou ativo em minha comunidade. Tudo o que um bom cidadão, a meu ver, deve fazer", disse ele.
Em reposta à reportagem, a NSA e o Departamento de Justiça afirmaram ser "inteiramente falso que agências de inteligência conduzem monitoramento eletrônico de ativistas, políticos ou religiosos só porque discordam de políticas públicas ou criticam o governo".