Uso de anabolizantes, caminhadas mesmo com ventilação mecânica e sedação mínima são algumas das novas medidas que vêm sendo adotadas dentro de UTIs para melhorar a qualidade de vida do paciente após a alta. Estudos mostram que mais de 90% das pessoas que passam pela UTI sobrevivem. Mas aquelas que ficam um mês sob cuidados intensivos podem levar anos para retomar a vida normal. Além das sequelas do problema que levou o paciente à UTI, muitas medidas ali adotadas afetam a recuperação. Hoje discute-se o uso de anabolizantes como forma de auxiliar a recuperação da massa muscular. Estudos mais recentes mostraram que hormônios bioidênticos, em doses pequenas, podem trazer alguns benefícios. "Um hormônio derivado da testosterona tem auxiliado pacientes com doença pulmonar crônica a sair mais facilmente do respirador artificial", diz o médico intensivista Paulo Ribeiro, do Hospital Sírio-Libanês. Mas ainda não há evidência científica das vantagens do uso de anabolizantes nessas circunstâncias. A diminuição da sedação dos pacientes entubados na UTI é outra tendência que vem se consolidando. Antes, a prática corrente era a sedação total. Hoje, sabe-se que quanto menos o doente ficar sedado, mais rápido o cérebro voltará a funcionar. "A tendência é sedar o mínimo possível para que a pessoa possa relatar dor ou pedir para mudar de posição", explica Antonio Capone Neto, coordenador médico de cuidados intensivos do Hospital Israelita Albert Einstein. A sedação mais leve ainda reduz as chances de o paciente ter "delirium", um estado de confusão mental que pode continuar após a alta. A sedação e outras drogas usadas na UTI também têm um impacto sobre a junção da musculatura com o nervo, explica Paulo Ribeiro. CAMINHADAS Em Toronto, no Canadá, há hospitais que colocam pacientes ainda dependentes de ventilação mecânica para andar em esteira na UTI. Hospitais como o Einstein e o Sírio-Libanês também estimulam pacientes da UTI a caminhar pelo quarto ou no corredor, quando possível. "Ainda é uma operação complicada com aqueles fios e tubos, mas estamos aprendendo. Quanto antes tirarmos o paciente do leito, melhor", diz Capone Neto. Para a fisioterapeuta Raquel Xavier, do Hospital das Clínicas da USP, o primeiro passo é colocar o paciente da UTI sentado na cama. "Ainda temos hospitais que mantêm o paciente deitado o tempo todo. Além de causar a perda muscular, isso leva ao acúmulo de secreção no pulmão." Para que essa e outras medidas se expandam a mais hospitais do país, especialistas defendem uma mudança na cultura hospitalar, com equipes multidisciplinares afinadas e espaços maiores. "Antes, nossa preocupação na UTI era a de que o paciente sobrevivesse a qualquer custo. Agora sabemos que não adianta ele sobreviver e ficar enjaulado dentro do próprio corpo", diz Ribeiro.