"Não devo nada, a justiça será feita", disse nesta quinta-feira (10) o presidente da Gaviões da Fiel, Antônio Alan Souza Silva, o Donizete. Ele se apresentou no 77º Distrito Policial, na Santa Cecília, região central da capital paulista. O dirigente teve a prisão temporária decretada na quinta-feira (3) por suposto envolvimento na briga de torcedores corintianos e palmeirenses em 25 de março na Zona Norte da capital paulista, que resultou na morte de dois membros da Mancha Alviverde.
O delegado Arlindo José Negrão Vaz, da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), foi ao 77º DP para levar Donizete para depoimento. Ele disse que o presidente da Gaviões deve ser indiciado pelos crimes de homicídio, lesão corporal e formação de quadrilha.
Ao ser transferido, Donizete negou ter participado da briga. "Eu estava em casa", disse.
O advogado Ricardo Cabral havia adiantado ao G1 nesta manhã que a decisão de se entregar foi do próprio dirigente. “São 1.300 páginas do processo que não ligam meu cliente ao crime. A decretação da prisão foi uma surpresa para ele e para todos os gaviões”. A defesa afirma ainda ter protocolado um pedido de revogação da prisão na quarta-feira (9).
De acordo com o defensor de Donizete, a opção do presidente por se entregar foi comunicada a juíza Laura de Matos Almeida, que na semana passada decretou a prisão do presidente da Gaviões. “Na quarta-feira [9] entrei com um pedido me primeira instância direto na mesa da juíza pedindo a revogação da prisão temporária do meu cliente por entender que ele é inocente e que não há elementos que justifiquem a prisão dele. Ela ainda não se posicionou a respeito, mas mesmo assim optamos que a entrega dele seja a melhor escolha a se fazer no momento”, afirmou Ricardo Cabral.
Segundo o advogado, Donizete soube da decretação da prisão na segunda-feira (7), quando retornou de uma viagem feita com a torcida organizada a Colômbia para acompanhar o jogo do Corinthians pela Libertadores.
“Ele [Donizete] está tendo uma atitude de coragem porque são mais de 92 mil associados na Gaviões. É parte de uma nação corintiana que também quer esclarecer essa dúvida que a polícia tem do seu presidente. É a imagem da torcida que está em jogo. Mas adianto, ele é inocente e vai provar isso”, comentou o advogado, que deverá entrar com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo caso a juíza não revogue a decretação da temporária.
Polícia Civil
Para a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), Donizete sabia da briga marcada pela internet com a Mancha no mês passado na Avenida Inajar de Souza. “Testemunhas protegidas afirmaram que a diretoria sabia de tudo. Compraram foguetes, paus, rojões. Tudo para brigar”, afirmou o delegado Arlindo José Negrão Vaz na terça-feira (8).
Dois palmeirenses foram mortos naquele confronto. A Decradi pediu a prisão temporária do dirigente da torcida corintiana à Justiça. O Ministério Público concordou com o pedido e o presidente da Gaviões Silva passou a ser procurado e até agora é considerado foragido.
“Concordei com o pedido de prisão do presidente da Gaviões feito pela polícia porque foram apresentadas informações de que ele estava ciente da briga que aconteceria”, disse o promotor Norberto Joia nesta semana. A Promotoria, no entanto ainda não se manifestou a respeito se irá ou não oferecer denúncia à Justiça porque o inquérito policial ainda não foi concluído. Faltam, por exemplo, os laudos a respeito do conteúdo encontrado nos computadores apreendidos na sede da Gaviões pela Polícia Técnico-Científica.
Além do presidente da torcida, outro membro da Gaviões, apelidado de Capetinha, que também teve a prisão decretada pela Justiça porque teria participado da briga, está sendo procurado pela polícia.
A organizada está sem sua diretoria, já que até o vice-presidente, Wagner da Costa, também teve a prisão determinada pela Justiça e está foragido desde o dia 4 de abril.
No total, foram expedidos mandados de prisão contra seis corintianos. Todos estão foragidos. Apesar disso, três integrantes da Gaviões estão presos por suspeita de participarem do assassinato de dois membros da Mancha. Dois deles foram indiciados pelo crime. Entre os investigados está Douglas de Ungaro, o Metaleiro, ex-presidente da torcida.
A briga de março ocorreu durante o deslocamento das torcidas do Corinthians e do Palmeiras na Avenida Inajar de Souza em direção ao estádio do Pacaembu, na Zona Oeste.
Palmeirenses
Na segunda-feira (7), a juíza Leyla Maria da Silva Lacaz, da 14ª Vara Criminal da Barra Funda, recebeu a denúncia contra Lucas Alves Lezo, vice-presidente da Mancha. Lucas Lezo é réu preso no processo que responde na Justiça por posse de arma. Ele foi detido em flagrante em abril por não ter autorização para portá-la.
O dirigente da Mancha também foi indiciado com outros dois palmeirenses pela Decradi por suspeita de envolvimento no assassinato de um corintiano ocorrido em agosto de 2011. Para a investigação, o confronto deste ano na Avenida Inajar de Souza teria sido marcado pela internet para vingar a morte de Douglas Karin Silva, que era ligado a Gaviões. Na semana passada, os dois membros da organizada foram soltos pela Justiça, mas Lucas continuou preso por que responde pelo crime de porte de arma.
Lucas é irmão de Andre e de Tiago Lezo. Tiago também chegou a ser preso e indiciado por formação de quadrilha porque teria participado da briga de março, mas foi solto após decisão judicial. Andre, seu irmão gêmeo, morreu no confronto entre torcidas rivais em março. Outro membro da Mancha, Guilherme Moreira, também foi morto.