O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou nesta terça-feira (24) ações contra mudanças climáticas em meio às queimadas que atingem o Brasil, e admitiu que "é preciso fazer mais".
Segundo ele, o mundo está "condenado à interdependência das mudanças climáticas", portanto, é preciso enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta (leia mais abaixo).
"O planeta já não espera para cobrar da próxima geração e está farto de acordos climáticos que não são cumpridos", afirmou Lula. "Está cansado de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que nunca chega", prosseguiu.
O presidente também narrou o panorama de eventos climáticos atípicos em diferentes territórios do globo e, especialmente, no Brasil. Diante disso, afirmou ser necessário ampliar o enfrentamento.
"O negacionismo sucumbe ante às evidências do aquecimento global. Dois mil e vinte e quatro caminha para ser o ano mais quente da história moderna. Furacões no Caribe, tufões na Ásia, seca e inundações na África, e chuvas torrenciais na Europa deixam um rastro de morte e destruição", pontou Lula.
"No Sul do Brasil, tivemos a maior enchente desde 1941. A Amazônia está atravessando a pior estiagem em 45 anos. Incêndios florestais se alastraram pelo país e já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto. O meu governo não terceiriza a responsabilidade e nem abdica da sua soberania. Já fizemos muito, mas sabemos que é preciso fazer muito mais", exclamou.
Crimes ambientais
O presidente brasileiro ainda elencou as ações que têm sido tomadas pelo seu governo para combater crimes ambientais.
"Além de enfrentar o desafio da crise climática, lutamos contra quem lucra com a degradação ambiental. Não transigiremos com ilícitos ambientais, com o garimpo ilegal e como o crime organizado", justificou.
"Reduzimos o desmatamento na Amazônia em 50% no último ano e vamos erradicá-lo até 2030. Não é mais admissível pensar em soluções para as florestas tropicais sem ouvir os povos indígenas, comunidades tradicionais e todos aqueles que vivem nela", emendou.
Vanguarda
Lula acrescentou que o Brasil é um dos países com matriz energética mais limpa do mundo e que está na vanguarda, por exemplo, na produção do hidrogênio verde.
"Nossa visão de desenvolvimento sustentável está alicerçada no potencial da bioeconomia. O Brasil sediará a COP30 em 2025 convicto de que o multilateralismo é o único caminho para superar a urgência climática. Nossa Contribuição Nacionalmente Determinada, a NDC, será apresentada ainda este ano, em linha com o objetivo de limitar o aumento da temperatura do planeta a um grau e meio", adiantou.
"O Brasil desponta como celeiro de oportunidade deste mundo revolucionado pela transição energética. Somos, hoje, o país com a matriz energética mais limpa do mundo", complementou.
Para justificar a fala, Lula citou que 90% da energia elétrica do país provêm de fontes renováveis como a biomassa, a hidrelétrica, a solar e a eólica. E que o Brasil optou pelos biocombustíveis há 50 anos, antes mesmo que a discussão sobre energias alternativas ganhasse força.
Nesse contexto, o presidente afirmou que é necessário "enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis".
O petista deu as declarações durante discurso na 79ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Por tradição, o presidente do Brasil é o primeiro chefe de Estado a discursar no evento.
O governo brasileiro tem sido criticado diante do enfrentamento às queimadas no país. Em 2024, o Brasil sofreu com cheia histórica no Rio Grande do Sul e vive a maior seca registrada desde 1950.
Como antecipou o blog do Valdo Cruz, Lula subiu o tom sobre mudanças urgentes na agenda climática, porque o cenário mais grave chegou mais cedo do que se previa e atingiu em cheio o Brasil (leia mais abaixo).
Diante disso, o presidente brasileiro voltou a repetir que nada será feito enquanto os organismos multilaterais, como a ONU, continuarem nas mãos de poucos países.
Seca histórica e queimadas
Os incêndios nos biomas do Pantanal e da Amazônia, por exemplo, são os piores em quase 20 anos, segundo dados do Observatório Europeu Copernicus divulgados nesta segunda (23). Ainda de acordo com a entidade, o fogo afetou a qualidade do ar de boa parte da América do Sul.
?A maior seca da história do Brasil afeta cerca de 1,4 mil cidades em nível extremo ou severo. Esse período de estiagem chegou mais cedo, como um exemplo de mudança climática, que é causada por um conjunto de fatores, começando pelo aquecimento global.
O mundo registrou, em 2024, o mês de agosto mais quente da história. E, dos últimos 14 meses, 13 registraram temperatura média 1,5 ºC mais quente do que o período antes da era industrial.
No interior do Acre, por exemplo, uma semana após chegar a 34 centímetros, o Rio Iaco voltou a registrar a menor marca histórica no município de Sena Madureira, com 31 centímetros na manhã desta segunda. Este já é o terceiro município do estado que alcança a menor cota histórica durante a seca de 2024.
Discursos anteriores
Este é o oitavo discurso em aberturas de assembleias-gerais (2003, 2004, 2006, 2007, 2008, 2009, 2023 e 2024). Em 2005, o presidente fez pronunciamento em uma reunião que antecedeu o debate da Assembleia Geral. Na ocasião, o então chanceler Celso Amorim discursou na abertura do debate.
Combate à fome e à desigualdade, governança global, reforma do Conselho de Segurança da ONU e mudanças climáticas são temas recorrentes nos discursos de Lula.
As mudanças climáticas são abordadas pelo petista pelo menos desde 2004 e foram citadas em 2023, quando o presidente voltou a cobrar o financiamento, pelos países ricos, de ações para a preservação do meio ambiente nas nações emergentes.