Quando o Ministério Público do Rio de Janeiro pediu a quebra de sigilo de dezenas de pessoas que transitaram pelo antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, durante seus mandatos como deputado estadual, não se imaginava que dali sairiam informações reveladoras sobre os 30 anos de vida pública de toda a família Bolsonaro, seus casamentos e suas relações com policiais que lideraram milícias no Rio de Janeiro. Depois de 762 dias de investigação, encerrou-se no último dia de agosto o trabalho dos promotores para debelar o emaranhado de transações que ocorriam no gabinete.
Ao longo desses dois anos, os promotores identificaram nos negócios e no pagamento das despesas pessoais do senador Flávio Bolsonaro, pelo menos, R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo. Valores que, segundo o MP, foram drenados após diversos saques em espécie feitos por assessores, que nem sequer prestavam serviços de fato, e repassados para Fabrício Queiroz, subtenente da reserva da PM, apontado como o operador do esquema.
Depois da reportagem de ÉPOCA, no ano passado, mostrar que o vereador Carlos Bolsonaro nomeou pessoas que nem sequer viviam na capital fluminense, a investigação resvalou para o gabinete do irmão mais novo e esquadrinhou um complexo xadrez na movimentação de funcionários em família. Hoje, a mesma turma de investigadores do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (GAECC) que cuidou do caso de Flávio se debruça sobre o gabinete de Carlos, suspeito de também ter se beneficiado do esquema da chamada “rachadinha”. O foco em zero dois, o mais mercurial dos irmãos, preocupa o clã presidencial.