Piaui em Pauta

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Morre o juiz e escritor...

Morre o juiz e escritor William Palha Dias.

Publicada em 15 de Fevereiro de 2012 �s 13h44


Faleceu, por volta das 18 horas dessa terça-feira, o juiz aposentado e escritor William Palha Dias (foto), 93, de complicações respiratórias. Natural de Caracol, formou-se em Direito, iniciou na magistratura, como juiz de Direito, nos anos 1970 aposentando-se nos anos 80, quando retornou à advocacia, ao jornalismo e à literatura. É autor 19 livros publicados.

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Filho de Claudionor Augusto Dias e Leonor Palha Dias, William era casado com Maria das Graças e teve seis filhos: Leonor, Celina, Sales, Célia, Mirian e Andrea, 13 e seis bisnetos.

William Palha Dias estudou desde pequeno no seu estado de origem, o Piauí, tendo, inicialmente, sido autodidata. É bacharel em Direito e juiz aposentado. Jornalista profissional, foi um dos fundadores da antiga Associação Profissional de Jornalistas do Piauí, transformada em sindicato da classe.

Ex-advogado militante, tendo sido membro do Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil, no Piauí. Ex-funcionário de Departamento de Estradas de Rodagem do Piauí, onde foi assessor técnico. Membro da Academia Piauiense de Letras, Academia de Letras da Magistratura Piauiense, sócio do Instituo Histórico e Geográfico do Piauí e do Instituto Histórico de Oeiras, pertencendo, igualmente, à União Brasileira de Escritores – UBE-PI. Além disso, é cidadão honorário de Cristino Castro, Pedro II, Regeneração e Teresina.

Ocupou a cadeira de 4 da Academia Piauiense de Letras. Entre os livros publicados, ‘Vila de Jurema’, “Endoema” e Irmãos Quixaba, que terminou sendo transformado em filme e exibido nacionalmente.

Velório
o corpo de William Palha Dias está sendo velado na Pax União, da Avenida Miguel Rosa. O sepultamento deverá ocorrer por volta das nove horas, no Cemitério de São José, na Zona Norte de Teresina.

O livro de William Palha Dias que virou filme

Os irmãos Quixaba

Versão para impressão

A obra Os Irmãos Quixaba, de William Palha Dias, publicada em 1979, é ambientada nos sertões do Piauí. É uma narrativa ficcional abordando incesto, infanticídio e condenações. Tem estrutura simples e de tempo cronológico perturbado apenas por um longo flash-back, que inicia no começo da história e vai até o meio do livro.

A linguagem utilizada é a formal, mas com alguns traços de oralidade facilmente identificados nas primeiras páginas, para em seguida incorporar um estilo sofisticado, especialmente quando descreve a sessão de julgamento dos irmãos e réus, Alexandre e Margarida Quixaba, no Tribunal Popular do Júri, pelo assassinato de Edson, o filho deles.

Embora seja uma obra modernista, Os Irmãos Quixaba também revela aspectos que bem poderiam ser relacionados ao Realismo/Naturalismo. O aspecto presente da denúncia social, característica do Modernismo, combina com os traços de verossimilhança e de representação do homem na sua dimensão animalesca, própria da outra escola literária citada.

O autor expõe o modo de vida do sertanejo piauiense através de personagens típicos como o vaqueiro, o caçador e também aquele que decide aventurar-se na cidade grande na ânsia de mitigar o sofrimento da roça. Há também uma preocupação de mostrar os estados psicológicos dos personagens, com análises de seus comportamentos e visões de mundo. Neste retrato fiel do Piauí dos anos 40 e 50 e na análise psicológica vemos a retomada dos preceitos do Realismo, que surgiu na Europa do Século XIX como negação do Romantismo e suas idealizações. Como advogado militante, William Palha Dias lançou mão do cientificismo (e este era um dos preceitos do Realismo) para analisar apenas um dos muitos crimes que tomara conhecimento de sua ocorrência no Piauí. Algumas páginas do livro são verdadeiras peças jurídicas, dado às citações do Código Penal e à generosa recorrência ao jargão próprio dos advogados, numa clara referência às ciências jurídicas como ferramenta de abordagem, fato este que remete ao Positivismo, de Augusto Comte, um dos pilares do Realismo.

Quanto à identificação de Os Irmãos Quixaba com o Naturalismo dá-se pela semelhança existente entre o desfecho dado por William Palha Dias para a sua obra e duas das teorias balizadoras desta escola literária, que são o Determinismo, de Hyppolite Taine, afirmando ser o homem resultado das interações do seu meio, do seu momento histórico e da sua raça; e o Evolucionismo, de Charles Darwin, que tratava da seleção natural das espécies. Como se percebe na leitura deste romance que alguns chamam de novela, há uma barreira social instransponível que impede a ascensão social de todos os personagens. Alexandre Quixaba é quem foi um pouco além, vagueando pelo Brasil, aprendendo e humanizando-se. Mas, como se estivesse predestinado, retorna às suas origens retomando o ciclo vicioso da miséria que já vinha se perpetuando de pai para filho.

A animalização do homem e da mulher, ao ponto de liberarem seus mais torpes instintos sexuais sem respeito, sequer, aos laços de consangüinidade, é outra clara identificação com o Naturalismo, embora seja, de fato um romance modernista. Mas esse sincretismo não deixa de ser uma das características do Modernismo.
Uma indicação de ter William Palha Dias se inspirado nos autores do Realismo/Naturalismo é o seu diálogo com o leitor, à moda Machado de Assis, no final do primeiro capítulo: “Portanto, ao Leitor que, por certo, e com muita razão, está curioso para ouvir os debates em torno do momentoso assunto, convido a deixar, por um instante o recinto da sessão e dar uma voltinha, tomar um cafezinho, para logo mais, voltar, quando, juntos, ouviremos os debates dos causídicos e do promotor, no desempenho do julgamento”.

O livro refere-se um período anterior a 1979, ano de sua publicação, coincidente com a construção de Brasília e da Barragem de Boa Esperança, empreendimentos citados pelo autor em sua narrativa.

Um fato curioso é que logo após serem desmascarados, os criminosos Alexandre Quixaba e Margarida Quixaba, não tiveram mais sequer uma fala, sendo apenas objeto de depreciações das autoridades policiais, judiciais e da opinião pública. O estado psicológico dos dois incestuosos ficou oculto, cabendo ao leitor imagina-lo, mesmo na hora que receberam a condenação mínima prevista no Código Penal de então para o crime de matarem, dolosamente, o próprio filho, que foi de seis anos de reclusão.

Caracterizam a obra:

- Determinismo – o comportamento explicado pela influência do meio e da circunstância;
- Verossimilhança – mais realismo aos fatos narrados;
- O homem instintivo – o instinto é mais forte que a razão e a moral;
- A força do sexo na natureza humana;
- Análise psicológica das personagens;
- A linguagem direta – sem rodeios.

Síntese da obra:

A narrativa, estruturada em 23 capítulos curtos e sintetizada, desenvolve-se a partir de um julgamento histórico na cidade de Guadalupe, Piauí. Os irmãos Alexandre e Margarida Quixaba são os réus, acusados de matar o próprio filho, o pequeno Edson, aos quatro meses de idade, fruto da relação incestuosa que houve entre os dois. O advogado de defesa, Dr. Guilherme, consegue, num feito extraordinário, comover os júri com suas citações bíblicas e desqualificar o crime de homicídio doloso para culposo, angariado pena mínima aos acusados, seis anos de detenção.

Tematicamente verifica-se:

- A Relação incestuosa entre os irmãos Alexandre e Margarida;
- O crime, infanticídio, ambos assassinam o próprio filho, o pequeno Edson, 4 meses de idade;
- A condenação sócio-moral dos indivíduos.

Créditos: F. Carvalho, jornalista, formado em Letras (UESPI) | Profª Hildalene Pinheiro, TV Assembléia
Tags: Morre o juiz - William Palha Dias.

Fonte: AZ �|� Publicado por: Da Redação
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