A defesa da modelo Bruna Cristine Menezes de Castro, de 25 anos, acusada de aplicar golpes nas redes sociais, conta que a jovem tenta retomar sua rotina. Em liberdade há dois meses, ela está morando com familiares em Goiânia. “Ela está tentando levar a vida normalmente”, disse ao G1 o advogado Flávio Cavalcante.
Presa em 11 de agosto, Bruna deixou o presídio no dia 9 de setembro, quando foi condenada a prestar serviços comunitários e ao pagamento de multa de 10 salários mínimos por estelionato. No julgamento, a modelo confessou os crimes e disse que estava arrependida. A defesa recorreu da decisão da Justiça pedindo a absolvição da jovem, o que ainda não foi analisado.
Além dos casos julgados, Bruna é suspeita de aplicar outros golpes, que são investigados na Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon). Após a repercussão da prisão da modelo, o delegado Eduardo Prado informou que mais de 100 pessoas ligaram na delegacia se dizendo vítimas da jovem. No entanto, a maioria das denúncias não teve andamento.
“A maioria das pessoas não fez, efetivamente, uma ocorrência, pois às vezes acha que não vai dar em nada. Falta interesse das vitimas, que não vão à delegacia ou não mandam documentos”, explicou ao G1 o titular da Decon.
Por enquanto apenas o inquérito de uma vítima foi concluído pelo delegado e encaminhado ao Judiciário. No entanto, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) informou que os autos não chegaram ao órgão até o final da manhã desta sexta-feira (13).
O delegado afirmou que outro inquérito, que contém três casos, está finalizado. Nele, as vítimas tiveram, juntas, um prejuízo de R$ 10 mil. Segundo Prado, o procedimento não foi encaminhado ao Poder Judiciário por causa da greve dos servidores, o que impossibilita o andamento do processo.
O Sindicato dos Servidores e Serventuários da Justiça do Estado de Goiás (Sindjustiça) explicou que, durante a greve, apenas processos que são considerados urgentes e inadiáveis são recebidos. Como no caso em questão não há uma prisão em flagrante, se trata de uma demanda ordinária, que não é atendida durante a greve. A paralisação terá o rumo definido em assembleia na tarde desta sexta-feira.
O delegado informou que muitas pessoas lesadas o procuram para dizer que Bruna não as ressarciu, como havia prometido durante o julgamento. “Essas vítimas a veem em bares famosos e com uma vida de alto padrão. Isso gera uma revolta, um constrangimento”, ponderou o delegado, que investiga, atualmente, mais dez denúncias contra a modelo.
Golpes
Bruna é suspeita de aplicar outros golpes em clientes de vários estados. Segundo a Polícia Civil, a jovem mantinha perfis nas redes sociais de venda de produtos importados para aplicar os golpes. Após receber o pagamento dos itens, ela não entregava as encomendas, alegando problemas de saúde ou familiares.
Para que pudesse receber o dinheiro das falsas vendas, ela usou contas bancárias de cerca de dez pessoas, que tinham emprestado os dados a ela.
Bruna chegou a mentir que estava com câncer para receber dinheiro do ex-namorado Ryan Balbino, que mora no Rio de Janeiro. Segundo a polícia, a modelo fingiu ser o próprio pai para dar notícias sobre uma falsa operação para tratar um câncer no útero. O homem revela que depositou mais de R$ 15 mil para o falso tratamento. Ele só desconfiou e denunciou a namorada um tempo depois, após visitar parentes dela em Goiânia.
Durante a investigação, vítimas comentaram com a jovem da possibilidade de ela ser presa, mas ela desdenhava do procedimento. "Meu orixá é forte", escreveu em um dos trechos de conversas divulgadas pela Polícia Civil.
Em outra conversa, uma suposta vítima diz: "Ainda vou te ver atrás das grades". Em tom de ironia, a modelo responde: "Sério amor? kkkkkkk. Será?". Na mesma conversa, a cliente afirma que a jovem "nem sonha como estão as investigações". Porém, a suspeita rebateu: "Aguardo ansiosamente por esse dia".
O delegado responsável pelas investigações afirma que, como Bruna, há várias pessoas que usam da beleza e inteligência para aplicar golpes. "Não há padrão, não existe um perfil biológico do bandido, pode ser a pessoa que está do seu lado", alerta Prado.