A operação conjunta para prender milicianos em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, nesta quinta-feira (7), desarticulou e deixou "acéfala" boa parte da "maior milícia do Rio", segundo o delegado titular da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), Alexandre Capote. De acordo com ele, o lucro da quadrilha, que extorquia moradores de unidades do programa "Minha Casa, Minha Vida", do Governo Federal, era de mais de R$ 1 milhão por mês.
Até as 13h, 21 pessoas haviam sido presas na ação, segundo a Secretaria de Estado de Segurança (Seseg). Uma das prisões foi em flagrante e as outras foram feitas com base em 27 mandados de prisão preventiva expedidos pela Justilça do Rio – cinco deles destinados a policiais militares. Dois eram referentes a Toni Ângelo, preso em 2013, e Gão, preso nesta terça.
"As milícias existem há 20 anos e nunca foram combatidas antes. Muitos até apoiavam. Hoje, é um trabalho difícil, até porque há tentáculos, ramificações. É difícil", disse o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
Chefia da cadeia
Segundo a investigação, Toni Ângelo comandava, mesmo preso, algumas ações da quadrilha. Um outro miliciano, o PM conhecido como Cachorrão, foi capturado nesta quinta pela manhã. Cerca de cinco mil pessoas, de acordo com as investigações, foram afetadas pela ação da milícia.
"Prendemos o Jerominho e Natalino, que comandavam a milícia no passado, depois prendemos o Batman, sucessor de ambos, e prenderemos quem vier em seguida. Mas a organização está "acéfala"", disse Alexandre Capote.
Extorsão e ameaças
Segundo a polícia, milicianos cobravam pela internet clandestina e também extorquiam alguns moradores na compra de cestas básicas e também através de agiotagem. "Moradores eram torturados e até mortos se não aceitassem as condições da milícia", disse André Drummond, delegado de Polícia Civil.
Segundo a polícia, o grupo atuava nos condomínios Ferrara, Trento, Terni, Livorno, Treviso e Varezi, todos em Campo Grande.
"Eles sequestravam pessoas no meio da noite, cobriam com panos pretos, para dificultar uma potencial identificação, e sumiam com o corpo", disse Luiz Augusto Braga, da Draco.
Também estão envolvidos quatro ex-PMs, um militar do Exército e um bombeiro. Estão estimados em 90 os mandados de busca e apreensão. O objetivo da Draco, segundo o delegado, é ampliar os trabalhos na região de Campo Grande de combate às milícias. Segundo Capote, desde 2007, mais de 800 pessoas ligadas à milícia foram presas.
De acordo com as investigações, alguns contaram em depoimento que acompanharam homicídios em plena luz do dia. "Os homens desse grupo paramilitar faziam isso para dar exemplo e matavam também quem havia sido expulso e tentava voltar, mesmo que fosse só para buscar pertences", disse Capote.
Na operação, trabalharam 350 homens do Ministério Público e da Polícia Civil. Foram apreendidas armas de fogo, munição, diversos documentos, além de veículos de luxo, de valores incompatíveis com a renda das pessoas que foram presas.
"Minha casa, Minha Vida"
De acordo com as investigações da polícia, o grupo de milicianos cobrava taxas de segurança, de energia, de TV a cabo e cestas básicas dos moradores de um condomínio do "Minha Casa, Minha Vida". Os que não pagavam poderiam ser expulsos de casa ou até mortos. O síndico também foi preso. Na residência de Ademir Horácio de Lima, foram encontradas anotações que fariam referência às pessoas que estavam em débito.
Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança do Rio informou que, em razão da ampla área geográfica, a milícia diversificou o comando para dificultar as investigações e diminuir a exposição.
Ação de mílicias na região
Em abril deste ano, famílias beneficiadas pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”, do Governo Federal, denunciaram ameaças e assassinatos comandados por milicianos na região de Campo Grande ao RJTV. Beneficiados pelo programa que receberam um imóvel no bairro teriam sido expulsos de residências em um condomínio na Estrada dos Caboclos. Os criminosos teriam ameaçado matar quem não obedecesse à ordem de deixar a casa.
Após a retirada dos moradores, os criminosos teriam colocado as residências à venda na internet. Segundo denúncias, eles faziam ameaças aos residentes quando o dono não pagava taxas cobradas pela milícia. A equipe de reportagem ligou para um dos anúncios dos milicianos, expostos na internet. Os avisos cobram ainda taxas de água, luz e gás, que chegam a até R$ 500.
“Ali, pagamento só à vista, tá? O imóvel tá em R$ 52 mil. A pessoa vai levar um documento que está comprando, né? Um contrato, que está comprando, a pessoa vendendo, vai assinar comprador e vendedor, a pessoa vai ter todos os documentos originais do imóvel, tá?”, disse um homem, que atendeu a ligação.
Em julho deste ano, outro homem acusado de chefiar milícias na região de Campo Grande foi preso. Charles Santos Pamplona, de 35 anos, foi capturado em Cosmos e um helicóptero foi usado para levá-lo até a Barra da Tijuca, onde fica a sede da DH. Na ocasião, informações da polícia davam conta de que ele era suspeito de ser um dos assassinos do agente penitenciário Anderson Terra dos Santos, em 2013.