O presidente Michel Temer passou todo este domingo (9) em busca de apoio para barrar a denúncia por corrupção passiva que começa a ser analisada nesta semana na Câmara dos Deputados. Pela manhã, ele recebeu o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na residência oficial do Palácio do Jaburu, onde a conversa durou cerca de 40 minutos.
Maia é quem controla o rito de andamento do processo contra o presidente e é o substituto dele no mandato caso Temer venha a ser afastado, se o caso vier a ser aceito pelo Supremo Tribunal Federal (STF), numa fase posterior à Câmara.
Ainda pela manhã, Temer também se reuniu com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que não tem participação formal e direta na análise da denúncia.
Também neste domingo, em Mato Grosso, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PR), defendeu o presidente nas redes sociais. Num vídeo publicado no Twitter e gravado numa lavoura de algodão, o aliado falou que o governo vai até o fim.
“O Brasil é muito maior que as crises que nós vivemos. Sairemos dela muito mais fortes e com toda a certeza chegaremos em 2018 para entregar esse governo a quem é de direito e a quem o povo brasileiro escolher”, disse.
FHC e PSDB
Temer tentou também um encontro com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, conforme publicou no G1 no Blog da Andréia Sadi. FHC disse que está verificando a agenda para saber se poderá encontrar Temer até terça, pois tem viagem marcada para a Europa.
Questionado sobre a crise, ele disse que a situação está muito ruim e que o PSDB ainda vai discutir a posição a ser tomada e insistiu na renúncia de Michel Temer.
Segundo o Blog do Camarotti, Temer ligou para Fernando Henrique neste domingo para tentar evitar o desembarque do PSDB do governo.
Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin convocou os principais líderes tucanos para uma reunião com o ex-presidente nesta segunda-feira. O paulista disse, pela manhã, que se o partido fosse pensar em termos eleitorais, já teria deixado o governo “com baixíssima popularidade”.
“Agora, nós precisamos ter responsabilidade para com o Brasil, isso criaria mais um tumulto. Já está difícil aprovar reforma trabalhista, a gente está acompanhando na imprensa que está ali por poucos votos, então vamos aguardar um pouco mais, concluir esse processo”, justificou.
“Eu que lá atrás já defendia nem entrar no governo, evidente que defendo que a gente ajude o Brasil sem precisar participar do governo”, completou depois.
O prefeito de São Paulo, João Dória, disse que também não defende a permanência do partido no governo.
"Eu defendo que o PSDB tenha olhar para o Brasil. Como fazer para que as reformas continuem? Qual é a condicionante para que a reforma trabalhista prossiga e seja aprovada? Qual é a condicionante para que na evolução disso também a reforma previdenciária, ainda que com modificações, possa ser aprovada no Congresso Nacional? E principalmente como manter a economia e a conduta da economia apartada da questão política?”, disse.
CCJ
Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), primeira etapa de análise da denúncia entre os deputados, Temer não tem o apoio fechado de tucanos nem de democratas. No colegiado, ele precisa de 34 votos e mesmo com as substituições que vem promovendo na comissão, o placar está apertado.
“Nós vamos deixar claro que essas substituições vão trazer um risco, não tem a garantia porque o Eduardo Cunha fez isso no Conselho de Ética e foi um desastre, e na CCJ muito mais. É uma comissão de preparo da Casa. É a comissão que vai encaminhar o parecer pro plenário”, disse o oposicionista Júlio Delgado (PSB-MG).
Nos bastidores, é dado como certo que o relatório na comissão vai ser pela admissibilidade da denúncia de corrupção passiva contra Temer. O relator, do partido do presidente, mas visto como independente, apresenta suas conclusões nesta segunda.
“Eu estou procurando fazer um trabalho para que meus colegas deputados e deputadas federais, primeiro os da CCJ e depois os do plenário, possam ter os elementos necessários para que eles possam decidir. Porque a decisão não é minha pessoal. O que a Constituição prevê e o regimento é que a Câmara dos Deputados decide. Eu vou dar a minha contribuição e depois meu voto em plenário”, disse Sérgio Zveiter (PMDB-RJ).
O presidente da comissão, também do PMDB, fala em votar o relatório até sexta-feira (14).
“Num cenário realista é possível que nós tenhamos que avançar para sexta-feira. Mas vamos ser otimistas que nós possamos esgotar essa discussão até quinta-feira e cumprir então o prazo regimental que é previsto para o encerramento dessa discussão”, disse Rodrigo Pacheco (PMDB-MG).
Supremo
Neste domingo, a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, rejeitou dois pedidos, de deputados da Rede e do PDT, para que o procurador-geral da república, Rodrigo Janot, fosse ouvido na CCJ. Uma decisão contrária atrasaria o processo na comissão.
No fim do domingo, à noite, Temer deixou o Jaburu e se fechou no Palácio da Alvorada com líderes e ministros como Eliseu Padilha e Moreira Franco. Por causa dessa reunião, o acesso ao palácio foi bloqueado. Turistas tiveram que interromper a visita e se retirar. O acesso da imprensa também foi restringido.