Alguns dos principais políticos da Itália cerraram fileiras com Cecile Kyenge, a primeira ministra negra do país e alvo de ofensas racistas desde sua indicação em abril, depois que um espectador lhe atirou bananas enquanto ela fazia um discurso.
Kyenge, ministra da Integração nascida na República Democrática do Congo, comparecia a um comício político em Cervia, no centro da Itália, na sexta-feira quando alguém na plateia atirou bananas contra o palco, quase a atingindo.
Kyenge tem recebido ofensas e ameaças racistas quase todos os dias desde que entrou no governo. No início deste mês, um senador do partido anti-imigração Liga do Norte a comparou com um orangotango e só se desculpou após uma enxurrada de críticas.
No mês passado, um conselheiro da Liga do Norte disse que Kyenge deveria ser estuprada, para que entenda como vítimas de crimes cometidos por imigrantes se sentem. O conselheiro recebeu uma pena de prisão, suspensa, e uma proibição temporária de ocupar cargos públicos.
Pouco antes do incidente de sexta-feira, membros do grupo de extrema direita Forza Nuova deixaram manequins cobertos de sangue falso perto do local do comício do Partido Democrata como protesto contra a proposta de Kyenge de tornar cidadãos todos aqueles nascidos em solo italiano.
"A imigração mata", diziam panfletos que acompanhavam os bonecos --um slogan que a Forza Nuova já usou antes em referência aos assassinatos cometidos por imigrantes no país.
Entretanto, neste sábado o grupo negou que algum de seus membros tenha atirado as bananas. A polícia italiana tenta identificar o culpado.
Kyenge reagiu ao gesto no Twitter, classificando-o como "triste" e um desperdício de comida. "A coragem e o otimismo para mudar as coisas devem vir de cima para baixo para alcançar as instituições", acrescentou ela.
Vários políticos, incluindo seus colegas no governo do primeiro-ministro Enrico Letta, responderam com mensagens de apoio e condenação no sábado.
Andrea Orlando, ministro do Meio-Ambiente, disse no Twitter ter sentido "a mais profunda indignação por esse ato baixo", e a ministra da Educação, Maria Chiara Carrozza, elogiou Kyenge por sua coragem e determinação em um ambiente tão hostil.
Luca Zaia, da Liga do Norte e governador da região de Veneto que deve participar de um debate sobre imigração com Kyenge em agosto, também se pronunciou contra o incidente neste sábado.
"Atirar bananas, insultos pessoais.... atos como estes não têm lugar na discussão civilizada e democrática necessária entre a ministra e aqueles que não compartilham sua opinião", teria dito ele segundo a agência de notícias Ansa.