Mais de 200 haitianos, que estão chegando a São Paulo desde o início de abril em razão do fechamento do abrigo para imigrantes em Brasileia, no Acre, já conseguiram colocação no mercado de trabalho. A informação é da Missão Paz, centro mantido pela Igreja Nossa Senhora da Paz, na região central, que está acolhendo e orientando a maioria dos estrangeiros. Segundo o padre Paolo Parise, diretor do Centro de Estudos Migratórios (CEM) da paróquia, as vagas, em sua maioria, são para construção civil, serviços gerais e restaurantes. Empresas de estados da região Sul e do Rio de Janeiro são as que mais procuram a igreja para recrutar haitianos. Parise destacou que muitos já estão com a Carteira de Trabalho em mãos, o que tem feito diminuir o fluxo de haitianos no pátio da igreja. “Com o mutirão feito pelo Ministério do Trabalho, mais de 300 documentos foram entregues. Isso fez diminuir o movimento aqui porque muitos foram encaminhados para trabalho”, relatou. Além disso, 58 haitianos foram deslocados para outra paróquia, no Tucuruvi, e 16 foram para um espaço cedido por um sindicato, também na zona norte. No Glicério, estão 100 pessoas abrigadas no salão de festas e 115 na Casa do Migrante, dos quais 30 são haitianos. Desses, apenas nove são mulheres. Também foi menor nos últimos dias, segundo o padre Paolo, o fluxo de haitianos que chegam de ônibus do Acre. “Na quinta-feira [1º] chegou só um ônibus na [terminal rodoviário] Barra Funda e vieram para cá três pessoas somente. Eles disseram que as outras pessoas já tinha parentes, amigos e já tinham onde ficar”, explicou. Parise destacou, no entanto, que as informações de quantos ônibus estão a caminho são repassadas pelos próprios estrangeiros que se comunicam com os amigos pelo celular. “Disseram que um dos carros quebrou na estrada, por exemplo, e por isso não chegou ainda”, apontou. Ele informou que, normalmente, chegam de dois a três ônibus na capital. Na quinta-feira, durante as comemorações do Dia do Trabalhado, o padre esteve na festa da central Força Sindical para agradecer ao ministro Manoel Dias o esforço para acelerar emissão das carteiras. Na oportunidade, no entanto, cobrou também ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, uma força-tarefa similar na Polícia Federal para solicitação do Registro Nacional de Estrangeiro. Segundo ele, com a entrada do pedido, os estrangeiros recebem um protocolo com o qual é possível retirar as documentações necessárias para assumir um posto de trabalho. “Vi que alguns foram agendados para novembro, dezembro”, reclamou. É preciso estar com os documentos regularizados para aceitar as vagas de emprego em acordo com as leis trabalhistas brasileiras. É o caso de Dieufait Salvarj, que está no país há três meses. Ele foi contratado pela Eppo Saneamento Ambiental e Obras para trabalhar na reforma do estádio do Ituano, na cidade de Itu, interior paulista, que será o centro de treinamento da seleção da Rússia durante a Copa do Mundo. “Minha casa foi destruída no terremoto e estou buscando uma vida melhor, porque lá não tem emprego suficiente”, declarou à reportagem da TV Brasil, durante visita às obras no município. O Brasil concede aos haitianos o visto humanitário, pelo qual eles têm o direito de trabalhar e estudar no país, além de ter acesso aos mesmos serviços públicos que os brasileiros. Para Salvarj, a copa foi uma oportunidade de ter emprego, mas ele espera conseguir novos postos e, inclusive, trazer a família para o País. “Somos um grupo que trabalha bem, sabe trabalhar e tem força para trabalhar”, destacou. O pedreiro ainda tem dificuldade, no entanto, com a comunicação, pois ainda não domina por completo o português. Nesta semana, o governo federal anunciou que vai estimular a entrada regular de haitianos no Brasil. Um dos objetivos é impedir a atuação de coiotes [pessoas que cobram pela travessia de imigrantes], dos quais muitos haitianos estão sendo vítimas. Atualmente, cerca de mil vistos de entrada no Brasil são concedidos a esses cidadãos por mês, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores. Desde o terremoto que arrasou o Haiti em 2010, o Brasil tem recebido milhares de refugiados do país caribenho. O governo não descarta ainda a possibilidade de políticas específicas para os haitianos, como aulas de português para os que não falam o idioma.