BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva relacionou diretamente o trabalho infantil às condições de pobreza em discurso nesta quinta-feira, 10. Lula citou os gastos com a crise econômica internacional e com a guerra do Iraque e argumentou que não falta dinheiro no mundo para enfrentar o problema do trabalho infantil. "Eu fico pensando se esse dinheiro todo ou uma parte dele fosse usado para criar programas tipo o Bolsa Família para outros países, como teríamos diminuído trabalho infantil pelo mundo", afirmou.
"Tenho certeza que nunca antes na história do Brasil se colocou tanto tempo e dinheiro para acabar com o trabalho infantil", disse o ex-presidente. Lula afirmou que o primeiro compromisso dele, ao assumir a presidência, foi acabar com a fome no Brasil. "Para quem come todos os dias, isso não tem importância. Muitas pessoas não conhecem o sofrimento causado pela fome". Lula discursou hoje na 3ª Conferência Global sobre o Trabalho Infantil, em Brasília.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, mesmo conseguindo reduzir em dois terços o trabalho infantil nos últimos anos, o Brasil ainda tem 1,5 milhão de adolescentes com menos de 16 anos trabalhando. Além disso, a estimativa é de que 2 milhões de jovens acima de 16 anos atuem informalmente no mercado.
Lula falou de sua experiência pessoal com o trabalho e citou que foi vendedor de laranja e de amendoim, além de engraxate, antes de se tornar torneiro mecânico, aos 15 anos. "O trabalho precoce é uma experiência pela qual passei, movido pela necessidade de colaborar com sustento da minha numerosa família", disse. "Pobreza e desigualdade são as principais causas de trabalho infantil, como pude testemunhar nas viagens pelo mundo", afirmou. "Não foi por acaso que meu primeiro compromisso ao chegar à Presidência foi de acabar com a fome no País", disse.
Bolsa Família. Segundo o petista, Dilma conseguiu ampliar os valores básicos do Bolsa Família, programa chamado por Lula de "maior distribuição de renda do mundo", mas que enfrentou o preconceito da sociedade para ser implantado.
"Disseram na minha cara que estávamos criando um Exército de vagabundos", reclamou. Ao falar de preconceito, o ex-presidente disse que quando o governo "dá para os ricos é investimento e para os pobres é gasto". Ele lembrou que também sofreu críticas por colocar a mulher como beneficiária do programa.
Lula disse que a experiência demonstra que é possível enfrentar a pobreza e a fome. "Conseguimos reduzir em dois terços a quantidade de adolescentes trabalhadores. Estamos vendo com muita satisfação o combate ao trabalho infantil evoluir em muitos países, especialmente na América Latina", afirmou. "Fizemos historia para o povo pobre."
Inadimplência. O ex-presidente afirmou que a inadimplência nos bancos é menor entre os pobres do que entre os ricos. "Pobre só tem de patrimônio, o nome e a cara. Ele sabe que se ele não pagar ele não vai poder nem passar na frente da padaria", disse. "Ele sabe que tem que progredir porque quer que o filho seja melhor."