O ex-ditador líbio Muammar Kadhafi morreu nesta quinta-feira (20) vítima de um tiro na cabeça durante um tiroteio entre seus combatentes e homens fiéis ao novo governo, pouco após sua captura, segundo autoridades do Conselho Nacional de Transição (CNT), o governo provisório da Líbia.
Não houve ordem para matar Kadhafi, disseram eles em entrevista em Trípoli, capital do país.
Ataque a comboio
Kadhafi, que tinha 69 anos, foi atacado próximo à sua cidade-natal, Sirte, quando integrava um comboio que tentava fugir da cidade.
O comboio foi parado por um ataque aéreo francês, e depois abordado por tropas do novo governo líbio que estavam em solo.
O premiê líbio, Mahmoud Jibril, citando um laudo pericial, disse que Kadhafi morreu vítima de uma bala na cabeça, durante o fogo cruzado. Segundo ele, não foi possível determinar de onde partiu o tiro.
"Kadhafi foi tirado de uma tubulação", na qual tentou se esconder, descreveu Jibril. "Ele não mostrou resistência. Quando começamos a andar com ele, ele foi atingido por uma bala em seu braço direito, e quando o colocamos na caminhonete ele não tinha outros ferimentos."
Um combatente do novo governo líbio, ouvido pela Reuters, disse que Kadhafi gritou "Não atire! Não atire!" ao ser descoberto na tubulação. Mas não havia confirmação disso.
Quando o carro se moveu, ele foi atingido no fogo cruzado entre os revolucionários e forças de Kadhafi", continuou Jibril.
O coronel estava vivo quando foi tirado do local, mas morreu minutos antes de chegar ao hospital para o qual seria levado na cidade de Misrata, sempre segundo o laudo citado por Jibril.
Vídeos
Mas imagens feitas por telefone celular durante o ataque mostraram Kadhafi ferido sendo carregado por combatentes e também seu corpo sendo arrastado pelo chão.
Ainda não estava claro o que seria feito do corpo de Kadhafi.
Transição democrática
O CNT -que assumiu o governo do país desde a queda de Kadhafi, no final de agosto -disse que o anúncio da criação de um novo governo transitório e o começo da transição democrática vão ser feitos no sábado (22) em Benghazi, cidade em que começou a rebelião anti-Kadhafi, em meados de fevereiro.
O conselho também confirmou que Muatassim, um dos filhos de Kadhafi, foi morto e teve seu corpo levado à cidade de Misrata. Mas o governo transitório líbio não confirmou se outro filho de Kadhafi, Saif al-Isral, foi morto ou capturado vivo. A busca por ele continuava.
Saif é acusado de crimes contra a humanidade pela Corte Penal Internacional, que nesta quinta-feira voltou a insistir para que se entregue e enfrente a Justiça.
Tomada de Sirte
A cidade de Sirte, último foco de resistência dos combatentes kadhafistas, foi tomada definitivamente pelos rebeldes nesta quinta, após semanas de cerco e resistência dos combatentes pró-Kadhafi.
A TV Líbia Livre chegou a divulgar que, na ação, haviam sido presos Muatassim, um dos filhos do coronel, além de Mansur Dau e Abdala Senusi, dos serviços de inteligência. Os rebeldes depois confirmaram que Muatassim foi morto em Sirte.
Já o médico Abdu Rauf disse à France Presse que o ex-ministro de Defesa do regime deposto, Abubakr Yunes Jaber, também morreu na ação.
Comemoração
Os rebeldes e a população comemoraram a notícia da captura e, logo depois, da morte de Kadhafi, nas ruas das principais cidades líbias.
Repercussão
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse que a morte de Kadhafi era o fim de um "capítulo longo e doloroso" da história líbia. O democrata ofereceu ajuda americana na transição do país à democracia.
Em Angola, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, disse que a morte não deveria ser comemorada, mas que a transição democrática líbia deve ser apoiada.
Leia outras repercussões da morte de Kadhafi.
Desaparecido
Kadhafi, derrubado após a tomada da capital, Trípoli, no fim de agosto, estava desaparecido desde então, e prometia reagir às tropas do CNT, que tenta, com apoio das potências ocidentais, reorganizar o país na transição para a democracia.
Kadhafi era procurado pelo Tribunal Penal Internacional de Haia, da ONU, por crimes contra a humanidade cometidos durante a repressão aos rebeldes.
O CNT havia garantido, em várias ocasiões, que pretendia levar o coronel e seus aliados a julgamento no próprio país.
Guerra civil
Iniciada em meados de fevereiro na cidade de Benghazi, a rebelião contra o ex-ditador colocou a Líbia em uma violenta guerra civil e em crise humanitária, que provocou milhares de mortes.
A repressão da rebelião por forças do governo mataram pelo menos 25 mil pessoas e provocavam crescentes críticas da comunidade internacional, inclusive de ex-aliados do coronel.
Com o apoio aéreo da Otan, obtido por resolução do Conselho de Segurança da ONU, os rebeldes lutaram em várias frentes para tentar derrubar o regime, que resistiu com violência.
Após idas e voltas no campo de batalha, os rebeldes finalmente tomaram a capital, Trípoli, no fim de agosto. Desde então, focos de resistência foram combatidos, principalmente nas cidades de Bani Walid e Sirte.
Desde o fim de agosto Kadhafi estava desaparecido. Mas ele prometia reagir às tropas do CNT, em declarações à imprensa aliada.
O CNT afirmava que só começaria o novo governo transitório após debelar totalmente a resistência kadhafista.
A rebelião contra Kadhafi começou no contexto da chamada Primavera Árabe, série de movimentos pró-democracia que também derrubou governos na Tunísia e no Egito e abala atualmente os regimes ditatoriais no Iêmen e na Síria.