O jovem Abraão Teixeira contou ao g1 ter sido demitido após denunciar um colega de trabalho por falas racistas dentro da empresa onde ambos trabalhavam. Segundo ele, o colega, que foi preso em flagrante, fez declarações de apoio à escravidão do povo negro e outras declarações ofensivas. O rapaz conversava sobre os atos racistas contra o jogador Vini Júnior, quando foi surpreendido pelo colega. "Disse que todo preto era macaco", relatou a vítima.
O caso aconteceu há cerca de 15 dias em uma empresa de Teresina. Abraão preferiu não identificar o colega e nem a empresa, pois o caso continua sob apuração policial e está sendo investigado como injúria racial.
Ele estava conversando com um colega sobre o racismo sofrido pelo jogador Vini Júnior na Espanha, quando foi surpreendido com a reação de outro funcionário. Além de cometer racismo, o suspeito deixou claro para a vítima que confiava na impunidade.
"Ele chegou na conversa afirmando que todo preto é macaco e a escravidão nunca deveria ter acabado, e que eu poderia filmar ele, pois não daria em nada. Nossos colegas de trabalho ficaram pasmos, ficou aquele clima tenso, pesado e todos ficaram olhando para mim", contou o operador de máquinas Abraão Teixeira.
A vítima contou ter buscado uma punição interna contra o funcionário que teve a postura discriminatória, mas a resposta foi de tentar minimizar a situação. Depois de procurar superiores dentro da empresa e ouvir que a punição só ocorreria se a situação voltasse acontecer, Abraão decidiu procurar uma delegacia e registrou um boletim de ocorrência.
O suspeito foi preso em flagrante no mesmo dia. Contudo, a vítima foi comunicada no fim da tarde que estava sendo demitida por denunciar o caso.
Segundo Abraão, a abordagem da empresa para a demissão foi grosseira e agressiva. Ele acabou punido por denunciar a ocorrência de um crime.
"O dono da empresa não me chamou para ir à sala dele. O chefe chegou em uma abordagem agressiva, alterado, e falando que eu não sabia o que era dormir em uma cadeia e por isso não tinha direito algum de levar um funcionário dele para a prisão. E que eu poderia pegar os meus traumas, tudo o que estava acontecendo comigo, e levar para casa. Ele simplesmente me demitiu e falou que eu não precisava ir no outro dia", contou.
O advogado da vítima, Érson Lima, lembrou que o crime de injúria racial direcionado para uma pessoa foi comparado ao racismo, com pena de prisão que varia de 2 a 5 anos, inafiançável e sem prescrição. Ele acredita que a postura da empresa foi como uma segunda discriminação e por isso vai pedir uma reparação na Justiça do Trabalho.
"Cabe uma reparação diante do dano ocorrido com o Abraão, que pode ser de forma objetiva e que independente da comprovação da culpa. Estamos em uma situação quando o Abraão foi buscar o superior hierárquico não teve solução. Foi demitido sem justa causa e foi discriminado porque reivindicou os direitos dele", explicou.