A Deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) afirmou neste domingo (20) que o Palácio do Planalto pressionou deputados para tentar dar um "golpe" no PSL, partido ao qual o presidente Jair Bolsonaro é filiado.
Joice Hasselmann deu a declaração ao fazer uma transmissão ao vivo em uma rede social. Procurada, a assessoria da Presidência da República informou que não comentará o caso.
Na semana passada, Bolsonaro retirou Joice Hasselmann da função de líder do governo no Congresso Nacional.
A deputada deixou o posto após ter assinado uma lista de apoio ao deputado Delegado Waldir (PSL-GO) para a liderança do PSL. Um áudio revelou a articulação de Bolsonaro para tentar colocar o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no posto.
"Algumas pessoas, eu sinto muito, foram pressionadas e não conseguiram aguentar a pressão. Porque quando alguém do palácio liga ou o próprio presidente liga [...], é obvio que muita gente foi pressionada para tentar dar um golpe no partido, o partido que é o maior da Câmara, e que o presidente precisa desse partido", afirmou Joice Hasselmann.
"O presidente foi induzido ao erro por um grupo de pessoas que realmente está muito preocupado com o fundo partidário, muito preocupado com essas coisinhas que não são tão nobres. E acabou que o presidente caiu nessa baita enrascada, acabou usando o próprio Palácio do Planalto, a estrutura do palácio, para ligar para um ou outro parlamentar, chamar lá e tentar fazer o Eduardo Bolsonaro líder. Seria o presente de Dia das Crianças do Eduardo Bolsonaro", acrescentou.
Para a agora ex-líder do governo, o que aconteceu foi "absolutamente irregular, absolutamente imoral". Joice Hasselmann disse ainda que, se não puder divergir de Bolsonaro, estará em uma "ditadura".
"Se eu como deputada não tenho o direito de divergir, seja de quem for, inclusive do presidente, não vivo na democracia, aí é ditadura, não é democracia. Na democracia, podemos divergir. [...] As pessoas não podem ser perseguidas, achacadas ou ameaçadas porque divergem. Não é assim, não é assim", completou.
O que diz Eduardo Bolsonaro
Eduardo Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo na internet neste sábado na qual disse que Bolsonaro não pode estar sujeito à "bipolaridade" do líder do PSL, Delegado Waldir.
"Comigo na liderança, todos concordaram que a liderança estaria em boas mãos. O próprio presidente Jair Bolsonaro não queria que eu fosse líder, eu também não queria, mas diante desses fatos não vou me acovardar. E, vendo o líder do PSL, que é o partido do presidente, orientando contra a Presidência da República, não sou eu que vou ficar de braços cruzados. Então, começamos a correr atrás de uma lista", afirmou.
"Não me venham com esse papinho, com essa gargantinha 'ai, o presidente interferiu'. Interferindo, nada. Ele está fazendo um projeto para o Brasil e o partido dele dentro da Câmara está indo contra o presidente, porra. Tu acha o quê? Que ele tem que fazer o quê? Que ele tem que ficar 'não vou interferir'?", acrescentou.
"A gente não pode ficar a esse sabor, a essa quase bipolaridade de uma pessoa para colocar adiante as pautas do país. É só isso", concluiu.
Na última quinta (17), circulou um áudio do Delegado Waldir no qual ele dizia que iria "implodir" Bolsonaro. No mesmo dia, em entrevista coletiva, o deputado recuou, afirmando que não tinha nada para usar contra o presidente e que a declaração havia sido dada em um "momento de emoção".
Na sexta (18), contudo, voltou a criticar Bolsonaro, afirmando que o presidente havia tentado "comprar" deputados com cargos.
Troca de ofensas
Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann trocaram ofensas pelas redes sociais neste sábado.
Ele publicou a mensagem "#DeixeDeSeguirAPepa", e ela respondeu: "Picareta! Menininho nem-nem: nem embaixador, nem líder, nem respeitado. Um zero à esquerda. A canalhice de vocês está sendo vista em todo Brasil".
Além da tentativa de assumir a liderança do PSL, Eduardo Bolsonaro já foi anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro como futuro indicado para a Embaixada do Brasil em Washington (EUA).