BRASÍLIA — A deputada federal Joice Hasselamann (PSL-SP) fez um discurso emocionado nesta terça-feira, na tribuna da Câmara dos Deputados, sobre os ataques e ameaças que têm recebido nas redes sociais. Ao receber a solidariedade de parlamentares de vários partidos, até mesmo da oposição, ela disse que reagiria e identificaria "um por um" para que respondam pelos seus atos na Justiça. A deputada também chorou ao relatar os xingamentos e a reação de seus filhos às ameaças.
Joice Hasselmann passou a ser qualificada como "porca", "gorda" e outros termos ofensivos após decidir apoiar a manutenção de Delegado Waldir (PSL-GO) na liderança do PSL na Câmara. Com isso, foi destituída do cargo de líder do governo no Congresso pelo presidente Jair Bolsonaro, que queria seu filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), no posto ocupado por Waldir.
— Foi a primeira vez que eu me senti vítima do mais sujo machismo — disse Joice sobre os xingamentos nas redes sociais.
Na tribuna, ela disse que o pior momento ocorreu quando seus dois filhos, adolescentes, perguntaram por que perfis nas redes sociais insistiam em chamá-la de "porca".
— Não quero uma direita estúpida que odeie as pessoas — disse Joice.
Joice disse ainda que Jair Bolsonaro precisa reconhecer seus erros e que a República não pode ser uma "filhocracia". Ela afirmou que vai apresentar uma representação contra Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética da Câmara e acioná-lo na Procuradoria-Geral da República por ataques a sua honra.
— Eu acumulei mais de 700 páginas de provas — pontuou.
Além de ter sido xingada, a deputada do PSL diz ter sofrido ameaças de morte. Segundo ela, antes de dar uma entrevista ao programa Roda Viva, recebeu um e-mail com o alerta de que "não sairia viva" da TV Cultura se participasse do programa.
— Qual foi o meu crime? Discordar uma única vez. Discordar de um golpe, do meu presidente. Eu discordei por ele se apequenar (...) Ele não é Deus, é um homem. E homem falha — disse Joice.
Ex-líder do PSL , Delegado Waldir elogiou a conduta de Joice e atacou o governo.
— Ninguém sabe quanto foi pago para essa reforma da Previdência passar. Muita coisa foi omitida. O tempo vai dizer quem fala a verdade — disse Waldir, que acrescentou: — Hoje, eu e você somos hienas.
Alice Portugal (BA), do PCdoB, também prestou solidariedade.
— Ninguém tem o direito de te atingir por ser mulher — disse.
Apesar de ter sido alvo três vezes da Lei Maria da Penha, Julian Lemos (PSL-PB), adversário de Bolsonaro na disputa interna do partido, também se pronunciou.
— Nunca houve tamanho machismo — declarou.
Após receber apoio de diversos parlamentares, Joice terminou o discurso afirmando que recorrerá à Justiça.
— Aqueles que usam esse expediente são bandidos. Buscarei a retratação de todos, um por um.