Ray Whelan foi preso no Copacabana Palace. Ele é suspeito de liderar a máfia dos ingressos para a Copa do Mundo
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"Ele sabe absolutamente de tudo". A afirmação é do jornalista britânico Andrew Jennings sobre a participação do executivo inglês Ray Whelan, da Macht Services, no esquema de venda ilegal de ingressos por cambistas nas últimas Copas do Mundo. "A polícia precisa saber que ele é a melhor testemunha para se chegar ao esquema de corrupção da Fifa", garantiu o jornalista ao Jornal do Brasil, nesta terça-feira (8/7). Jeenings é autor dos livros "Um Jogo Sujo" e "Um Jogo cada vez mais Sujo", que revela detalhes do envolvimento da Fifa no esquema internacional de cambismo.
Whelan foi preso na tarde desta segunda (7) por policiais da 18a. DP (Praça da Bandeira), em uma suíte do Copacabana Palace, onde está hospedada a cúpula da Fifa para a Copa. O executivo da Match, única empresa autorizada pela Fifa a vender as entradas do Mundial, foi acusado de ser o chefe da quadrilha internacional de cambistas. Por volta das 4h50 desta terça-feira (8), Whelan foi liberado da delegacia, por determinação da desembargadora do Plantão Judiciário do Rio de Janeiro, Marília Castro Neves Vieira, após pagamento de fiança pela Match. Whelan tinha depoimento marcado para às 11h desta terça (8), na 18a. DP, mas não compareceu. O delegado titular, Fábio Barucke, anunciou que vai pedir a prisão preventiva do executivo, assim ele ficará detido até a conclusão do processo.
Imagem: Douglas Shineidr/Jornal do BrasilClique para ampliarRay Whelan foi preso no Copacabana Palace. Ele é suspeito de liderar a máfia dos ingressos para a Copa do Mundo De acordo com as investigações da polícia, Ray estaria acima do franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, preso desde a semana passada com outras 10 pessoas acusadas de participação no esquema. Os detidos em regime temporário estão no Complexo Penitenciário de Bangu.
O investigador da Polícia Civil do Rio responsável pela operação Jules Rimet, que prendeu a quadrilha envolvida no esquema, Vicente Barroso, disse que a equipe da 18a. DP (Praça da Bandeira) está empenhada em reunir o máximo de evidências da participação de Whelan na quadrilha internacional de cambistas. As informações vão constar em um relatório que será encaminhado ao Ministério Público do Estado. Segundo Barroso, não há o risco do executivo deixar o país, já que o seu passaporte está retido na Justiça. No momento, os policiais continuam trabalhando nas escutas autorizadas, que flagraram Lamine Fofana negociando com os cambistas e com Whelan. Dos cerca de 60 mil registros de telefonemas, 900 foram feitos para o celular do executivo britânico.
O promotor responsável pelo caso, Marcos Karc, da 9a. Promotoria de Investigação Penal (PIP) do Rio, disse que o objetivo das investigações é punir os responsáveis por alijar dos jogos da Copa os torcedores brasileiros. "Imagina como se os donos da festa tivessem alijados os anfitriões de participar", comparou o promotor. Karc enfatizou que o esquema internacional de cambismo, que pode ter membros da Fifa e da Match envolvidos, movimenta cifras "absurdas" no mercado paralelo de venda de ingressos para os jogos do Mundial. "Por exemplo, o jogo Argentina versus Irã [realizado no dia 21 de junho, no Estádio Mineirão, em Belo Horizonte/MG] estava sendo vendido a 1 milhão de dólares, quando seu valor era de 150 mil dólares. É uma diferença enorme", disse o promotor.
Sobre as declarações dos advogados de Whelan de que a detenção do executivo foi "arbitrária e ilegal", Karc disse que o Ministério Público entendeu a prisão temporária como uma ação importante para as investigações, especialmente para preservar as provas. As investigações, segundo o promotor, "vão seguir os seus rumos" e pode ser o seu prazo de conclusão prorrogado, se for necessário.
A prisão
Acusado de ser o chefe de uma quadrilha internacional de cambistas, o diretor-executivo da Match Services, Raymond Whelan, . Raymond tinha sido preso na tarde de segunda-feira, na suíte que ocupava no Copacabana Palace. A desembargadora considerou a prisão ilegal e arbitrária.
A Match Services, empresa associada à Fifa, tem direitos exclusivos na venda de pacotes para os jogos da Copa do Mundo. A Match Hospitality é ligada a Phillipe Blatter, sobrinho do presidente de Fifa, Josephy Blatter.
Na suíte do executivo foram apreendidos 82 ingressos para a Copa, US$ 1,3 mil, um computador e um telefone celular, que serão periciados. Ele seria apenas um dos ligados à Fifa que estão sob investigação da polícia brasileira.
Segundo as investigações, Ray estaria acima do franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, preso desde a semana passada por participação no esquema.
O nome do acusado bateu com um dos nomes que constam na lista de credenciados pela Fifa para a Copa do Mundo no Brasil. A lista com os credenciados foi enviada pela entidade máxima do futebol.
Por volta das 17h40, o executivo chegou à 18ª Delegacia de Polícia, na Praça da Bandeira, responsável pelo inquérito. Segundo o delegado Fábio Barucke, Raymond negou, em depoimento informal, qualquer participação no esquema. Raymond disse que não teve negociações com Fofana durante a Copa do Mundo. "Isso nós temos de prova. Foram 900 ligações durante o evento. Nós temos isso de prova e ele nega", disse o delegado.
Inicialmente, o inglês deveria passar a noite na 18ª DP e levado esta manhã para a Polínter, na Cidade da Polícia.
Escutas revelam 900 ligações de Lamine para celular da Fifa
Uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, revelou neste domingo (6) que o franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, de 57 anos, acusado de liderar a quadrilha internacional que vendia no mercado negro os ingressos para a Copa do Mundo, fez pelo menos 900 ligações para um celular oficial da Fifa no Brasil, desde o início do Mundial.
Lamine foi preso com outros 10 integrantes do grupo na última terça-feira (1), indiciados por suspeita de cambismo, associação criminosa e lavagem de dinheiro. O chefe da quadrilha estava em um apartamento no condomínio Santa Mônica, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, que foi alugado por 12 mil dólares, do ex-jogador Júnior Baiano.
Após as prisões, a Fifa se reuniu com a única empresa responsável pela comercialização das entradas no torneio, a Match Services. No entanto, nenhuma das duas entidades forneceu os nomes dos funcionários supostamente envolvidos no esquema, como vem solicitando a Justiça e a polícia. De acordo com o delegado da 18a. DP (Praça da Bandeira) Fábio Barucke, há indícios de participação de integrantes da Fifa, da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e das federações de futebol da Argentina e da Espanha no esquema.
Na quarta-feira passada (2), o delegado Barucke havia dito que o advogado de Lamine, José Massih, chegou a revelar logo após a prisão, o nome de um homem que seria integrante da Fifa e ligado ao grupo de cambista. A mesma versão foi sustentada pelo promotor Marcos Kac, da 9a. Promotoria de Investigação Penal (PIP) do Rio.
Ligações com a CBF
O executivo inglês da Match Services, Ray Whelan, já foi contratado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para ajudar na preparação da candidatura do Brasil para receber o Mundial, na administração de Ricardo Teixeira. As informações foram publicadas nesta terça-feira (8) pelo Estadão. A reportagem diz que Whelan trabalhou no Japão e na Coreia do Sul, em 2002, na candidatura fracassada da África do Sul para a Copa de 2006 e nas candidaturas da Tunísia e Líbia para a Copa de 2010. O Jornal do Brasil publicou uma entrevista com o jornalista britânico Andrew Jennings no dia 2 de junho, revelando todos os detalhes de como acontece o esquema mafioso nos países que recebem o Mundial.
Jennings conta que a Fifa e os irmãos mexicanos Jaime Byrom e Enrique Byrom, sócios de Philippe Blatter, sobrinho de Joseph Blatter, presidente da Fifa, na empresa Match, com sede em Zurich, tentaram bloquear na Inglaterra a publicação do seu livro que revela toda trama da venda dos ingressos no mercado negro internacional, e ele recebeu várias ameaças. Jennings apresenta documentos que comprovam irregularidades nos campeonatos da Alemanha, em 2006, e no da África do Sul, em 2010. As provas são de que os Byrom forneceram ingressos para o vice-presidente da Fifa Jack Warner, que por sua vez os negociou nos mercado negro em troca de votos favoráveis no Comitê Executivo da entidade.
Na visão do jornalista, a estrutura estabelecida entre a Fifa e os comitês nacionais pode ser comparada com o crime organizado. Isso pelo fato de Blatter e os sujeitos no topo da pirâmide da Fifa permitirem associações nacionais a comprar os ingressos que eles não querem e entregarem no mercado negro. Dessa forma, não são os oficiais da Fifa que estão enriquecendo. Na verdade, o que eles estão "comprando" é a lealdade das associações nacionais em eventos ao redor do mundo. A Fifa terá ingressos e alocação para negociar com países pobres que nunca poderia pagar para viajar ao Brasil, Africa do Sul ou Alemanha, por exemplo. Eles são vendidos no mercado negro e é assim que os funcionários de baixo nível da entidade conseguem dinheiro. E eles ainda conseguem mascarar as saídas desses ingressos para o Imposto de Renda. É esse esquema denunciado por Jennings que serve como ponte para manter as pessoas ligadas. "E assim, para as associações nacionais o Blatter é o melhor presidente que poderia existir", conclui o comunicador.
Essas entidades solicitam os ingressos aos irmãos mexicanos que os repassam em nome do Blatter ou da própria Fifa. Países da África, Ásia e Europa já possuem os seus negociadores com os Byrom, que depois fazem as vendas no mercado paralelo. O jornalista cita a CBF como uma das associações a adotar essa postura. Ele afirma que os Byrom têm o controle absoluto dos ingressos, porque grande parte das entradas são impressas somente após a definição da escala dos jogos em cada fase, o que facilita o esquema deles no Brasil com os Grupos Traffic e Águia, ligados a CBF e diretamente com o Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, no período de 1989 a 2012.
Jennings faz acusações diretas à Ricardo Teixeira e desvenda as negociações para a Copa no Brasil. "O Teixeira [Ricardo Teixeira] foi condenado por tantos roubos sujos como consta no relatório de Álvaro Dias e Aldo Rebelo, em 2001", enfatiza o jornalista. No livro, Jennings destina capítulos para tratar de episódios envolvendo a administração de Ricardo Teixeira na CBF. "Estavam qualificando ele para entrar no esquema. Na máfia, você tem que matar alguém, no caso do Teixeira era aprender roubar o Brasil. Ele podia roubar milhões da Nike. Ele se gaba da quantia, é algo na casa dos bilhões", diz o britânico.
Avaliando a entrada do esquema no cenário brasileiro, o jornalista afirma que Teixeira fez pressão para os irmãos firmarem parceiros brasileiros, assim ele teria uma fatia garantida para os seus amigos. Ele cita os relatórios do senador Álvaro Dias, para a CPI da CBF, como fontes inesgotáveis de evidências da participação dos grupos no esquema corrupto. Jennings diz que seguiu as propinas de Teixeira na Suíça e as informações contidas nos relatórios do senador para concluir as suas investigações, especialmente os documentos anexados ao dossiê de Alvaro Dias, comprovando diversos crimes na CBF. O jornalista acredita que Blatter entregou a Copa do Mundo para Teixeira, pelo fato de estar na hora certa de "pagar os favores". A CBF passava por problemas financeiros e Ricardo Teixeira fez o esforço necessário para provar que era a pessoa certa para organizar a Copa.
No final da entrevista ao JB, Andrew Jennings traça um perfil dos membros da Fifa e da CBF. "Estamos tratando de gângsteres, que dão dinheiro para a caridade, mas não podemos falar que são honestos". E ainda faz uma comparação com a ficção: "Al Capone dava dinheiro para crianças de orfanatos". A reportagem do Estado desta terça (8), ressalta ainda que Whelan deu palestras e entrevistas em diversas cidade brasileira, na tentativa de buscar investimentos de empresários para a Copa do Mundo.