Niéde Guidon, diretora-presidente da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), administradora do Parque Nacional da Serra da Capivara, localizado em São Raimundo Nonato, no Piauí, disse ao G1 que já retirou dinheiro do seu próprio bolso para evitar demissões no Parque. Nesta segunda-feira (21), a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Piauí (OAB-PI), solicitou bloqueio de quase de R$ 5 milhões para manter a Serra da Capivara em pleno funcionamento e preservação.
“Vou colocar minha casa à venda, pagar tudo e vou embora para a França. Coloquei mais de R$ 2 milhões do meu dinheiro para evitar demissões, mas esse valor acabou. Tudo isso pertence ao Brasil e ninguém se importa”, desabafou a arqueóloga.
Em 2014, Niéde chegou a doar R$ 105 mil para as obras do Aeroporto Internacional de São Raimundo Nonato, oriundos de um prêmio que ela ganhou. O objetivo era fortalecer o turismo na região e, consequentmente, expor ao mundo as belezas do Patrimônio da Humanidade no Piauí.
Na Ação Civil Pública ingressada pela OAB-PI na Justiça Federal do Piauí em face da União, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM-Bio), a OAB-PI ressalta a necessidade imediata dos R$ 4.493.145,00 anuais, ou R$ 374.428,75 mensais para que as riquezas naturais, culturais e históricas da Unidade de Conservação Integral Parque Nacional Serra da Capivara sejam preservadas.
Niéde ainda ressaltou a obrigação do Governo Federal em manter a estrutura do Parque em pleno funcionamento e que as instituições públicas cumpram com o que está previsto em orçamento. A diretora-presidente ainda calcula contas em atraso há mais de 15 anos e prevê demissões a ponto de colocar em risco toda a fauna, flora e riquezas da Serra da Capivara.
“Se conseguir esse valor será excelente, pois não passa de uma obrigação do Governo Federal, que é manter o Parque e isso não está sendo cumprido. Demitimos dois terços dos funcionários em 2015 e no próximo ano iremos demitir mais alguns. Além disso, recebi do Tribunal de Contas da União que temos um problema de um imposto que não foi pago em 1999, oriundo de um convênio que não foi pago e estão querendo que a gente pague com juros e correções”, contou.
A Fumdham já passa por sérias crises financeiras há anos, pondo em risco o funcionamento do Parque. Em 2003, o Parque tinha 270 funcionários e em 2014 eram menos de 100. Apenas no mesmo ano, 33 pessoas foram demitidas, e a manutenção e segurança da área ficaram ainda mais comprometidas. Os 1.223 sítios, que correspondem a maior concentração de arte rupestre no mundo, também sofrem, constantemente, ameaças de incidêncio e depredação.
Em 2015 a situação é ainda é mais grave. Dos 48 funcionários da Fumdham, cerca de 27 deverão ser demitidos, e apenas dez guaritas abertas com funcionários serão mantidas por funcionários da Fundação e do ICM-Bio. Dessas, apenas três contarão com vigilância 24 horas. Além disso, o Parque não possui Plano de Manejo ambiental. No caso, estão demonstradas as ações predatórias à diversidade biológica e aos recursos naturais, impossibilitando a preservação do ambiente equilibrado.
Graves prejuízos
Ainda de acordo com a diretora-presidente da Fumdham cita ainda que a omissão da União, a falta de recurso tem provocado uma série de prejuízos ao parque considerado berço do homem americano.
Dentre eles estão: desmatamento de espécies nobres; aumento das áreas sem cobertura vegetal, portanto, sujeitas a uma violenta ação dos raios solares; caça desenfreada, sem respeitar fêmeas e filhotes, ao longo de todo o ano; eliminação de espécies predadoras de insetos e consequente aumento destes últimos, principalmente cupins, com um grande impacto sobre a vegetação e pinturas rupestres, entre outras.
A Serra da Capivara está situada entre os municípios de Canto do Buriti, São João do Piauí e São Raimundo Nonato, com área de preservação permanente de 135 mil hectares e foi criado com o objetivo de proteger os sítios de excepcional beleza, de valor científico/histórico e espécies db e fauna e flora ameaçadas de extinção.
O G1 buscou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM-Bio) para prestar os devidos esclarecimentos acerca do caso e da situação em que se encontra a Serra da Capivara, mas até a publicação desta matéria o órgão não havia enviado um posicionamento.