Irmão de Celso Daniel espera..
Bruno Daniel Filho, irmão de Celso Daniel, afirmou esperar que os jurados reconheçam que o ex-prefeito de Santo André (SP) foi morto a mando de Sérgio Gomes da Silva, “o Sombra”, após impor limites a um esquema de corrupção dentro da prefeitura do município, tese defendida pelo Ministério Público desde o início das investigações.
“Minha expectativa é que a tese do MP seja aceita, assim como ocorreu no júri do Marcos Bispo dos Santos. A morte de meu irmão não foi um crime comum”, afirmou Bruno. Ele também espera que os réus tragam elementos novos que ajudem a elucidar o caso.
Cinco acusados pela morte de Celso Daniel serão julgados a partir das 9h30 desta quinta-feira (10) no Fórum de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo). O ex-prefeito de Santo André foi morto a tiros em janeiro de 2002, e seu corpo encontrado em uma estrada de terra no município de Juquitiba, vizinho a Itapecerica. As circunstâncias do crime até hoje não foram totalmente esclarecidas.
Irão a júri os réus Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como “Monstro”; Elcyd Oliveira Brito, o “John”; Rodolfo Rodrigo dos Santos, o “Bozinho”; Itamar Messias dos Santos; e José Edson da Silva. Todos faziam parte da quadrilha da favela Pantanal, na divisa de São Paulo com Diadema, que sequestrou e matou Celso Daniel. A defesa arrolou 13 testemunhas para o julgamento; o Ministério Público, nenhuma.
Segundo Bruno, Celso Daniel era conivente com o esquema, mas quis impor limites a partir do momento que descobriu que integrantes do grupo estavam enriquecendo com o dinheiro desviado. Ele disse que Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República e secretário de governo da gestão Celso Daniel, lhe confessou que ele próprio havia transportado em seu carro R$ 1,2 milhão arrecadado no esquema.
QUEM FOI CELSO DANIEL
Celso Daniel nasceu em 16 de abril de 1951 em Santo André. Foi professor de economia e ciências sociais da FGV e PUC e participou da fundação do PT. Foi eleito prefeito de Santo André em 1989, 1997 e 2000, um ano antes de sua morte.
Em 1994, elegeu-se deputado federal com 97 mil votos. Pouco antes de morrer, havia sido escolhido para coordenar a campanha Lula à Presidência. Era cotado para ser um dos ministros do primeiro escalão do governo de Lula.
“Ele disse isso a mim e ao meu irmão João Francisco antes da missa de sétimo dia do Celso. Concluímos que ele fez isso como parte de uma estratégia para nos desencorajar a fazer a denúncia, já que isso poderia manchar a imagem de meu irmão”, afirma.
PT
Bruno, que era filiado ao PT, diz que não é possível relacionar o partido com a morte de Celso, mas acredita que integrantes e aliados da sigla, que participavam do esquema de corrupção, podem ter tido participação no crime. “O que posso dizer é que o PT atuou para encobertar o crime. O então deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, que acompanhou as investigações, desmentiu que o Celso havia sido torturado, sendo que isso ficou claro no laudo.”
O irmão do ex-prefeito exilou-se com a família na França, entre 2005 e o final do ano passado, após receber uma série de “ameaças, perseguições e intimidações”. “Foram várias, que relatei em um dossiê que encaminhei ao governo francês para conseguir o refúgio. Algumas dessas ameaças eu relatei à polícia, que providenciou segurança pessoal para mim”, lembra. A família decidiu voltar por saudades do Brasil e pelas dificuldades que passou na França.
Atualmente, Bruno é professor de economia da PUC (Pontifica Universidade Católica). Recentemente filiou-se ao PSOL, onde foi convidado a disputar a prefeitura de Santo André nas eleições municipais deste ano. “O partido me convidou, mas não aceitei. Entrei para o partido para dar minha contribuição no debate público sobre o país, com posições diferentes das hegemônicas”, afirma.
A reportagem procurou José Dirceu, Gilberto Carvalho e o atual presidente do PT, mas nenhum quis falar sobre o caso.