Da esq. para a dir., Adam Burns, Pete Johnston e David Bewick em sua caminhada até a Copa do Mundo
Imagem: Arquivo PessoalDa esq. para a dir., Adam Burns, Pete Johnston e David Bewick em sua caminhada até a Copa do Mundo
Três amigos que moram em Sydney estão conversando em um pub, começam a falar sobre a Copa do Mundo e decidem que viajarão ao Brasil para o torneio. Até aí, a história de Adam Burns, de 27 anos, David Bewick, de 31 anos, e Pete Johnston, de 29 anos, é parecida à de outros jovens estrangeiros apaixonados por futebol. A diferença é que eles resolveram fazer isso caminhando.
Os três britânicos, que moram juntos na Austrália, começaram a percorrer, no início deste mês, um trajeto de quase 2 mil km a pé. Eles saíram no último dia 3 de Mendoza, na Argentina, e vão passar pelo Uruguai até chegar a Porto Alegre.
Andam, em média, 30 km diariamente, mas já chegaram a percorrer 44 km em um só dia em pleno deserto. Costumam dormir em uma barraca de camping em terrenos abandonados ou no quintal da casa de pessoas que se oferecem para abrigá-los.
Em algumas ocasiões, ficam em hotéis para poder tomar banho e lavar roupas. Eles postam informações e fotos sobre a viagem na página do Facebook Walk to the World Cup.
Adam, Pete e David contaram ao G1 que planejaram a viagem durante um ano, período em que também aproveitaram para economizar. “Somos muito fãs de futebol. Todos jogamos em times quando éramos mais novos e assistimos às partidas o máximo que podemos”, diz Pete.
“Argentina, Uruguai e Brasil são três dos países mais apaixonados por futebol no mundo. Achamos que [a viagem] é uma boa maneira de nos animarmos para essa que pode ser a maior Copa da nossa geração”, completa Adam.
Nenhum dos dois conhece a América do Sul. David já esteve por aqui há alguns anos, em uma viagem de mochilão em que dava aulas de inglês em troca de comida e hospedagem, e afirma que agora quer muito conhecer mais da costa do país. “Ouvi dizer que tem praias lindas”, diz.
Eles também estão arrecadando dinheiro para doar para a ONG J de V Arts Care Trust (as doações podem ser feitas neste link).
O objetivo é conseguir 20 mil libras (mais de R$ 76 mil) para construir um poço de água na Bahia. Até agora, atingiram um quarto da meta.
Imagem: Arquivo PessoalPete, David e Adam caminhando pela região de deserto na Argentina De Mendoza a Porto Alegre
Os três amigos estão ainda na Argentina. Depois que saíram de Mendoza, passaram por Santa Rosa, La Paz, cruzaram o deserto entre La Paz e Desaguadero, e foram ainda para os municípios de Balde, Justo Deract, Washington e Vicuña Mackena.
Em Buenos Aires, outro amigo britânico deve se juntar à aventura – e eles dizem que estão abertos a receberem qualquer pessoa que queira acompanha-los no caminho.
O ponto final da caminhada é o Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. De lá, querem tentar ir para São Paulo na época da abertura da Copa e conhecer um projeto social em Curitiba. O restante do torneio eles ficarão no Rio de Janeiro e, depois do encerramento, pretendem ir para a Bahia.
Imagem: Arquivo PessoalDavid, Pete e Adam usando camisas de jogadores argentinos Sem ingressos para os jogos
Apesar da jornada de mais de três meses para chegar ao país da Copa, eles ainda não possuem ingressos para nenhum jogo do torneio. Dizem que estão se esforçando para conseguir algum, mas não deu certo até agora. “Nosso sonho é assistir à Inglaterra jogando, mas ficaríamos felizes de ver qualquer partida. Seria uma vergonha danada a gente andar tudo isso e não conseguir assistir aos jogos, mas conseguir ingressos tem sido muito difícil”, diz David.
Segundo ele, até agora a viagem tem sido uma “montanha-russa de emoções”. “Os primeiros dias correram incrivelmente bem e encontramos muitas pessoas generosas”, diz.
Mas o grupo passou alguns momentos de apuro, como uma caminhada de 3 dias pelo deserto entre as cidades de La Paz e Desaguadero, onde tiveram que dormir em estações de trem abandonadas, foram ameaçados por dois touros e encontraram cobras, tarântulas e “os mosquitos mais famintos conhecidos pelo homem”, segundo descreve David.
Outro momento citado pelos três como “um dia infernal” foi quando se perderam entre as cidades de Justo Deract e Washington. Chovia torrencialmente, restava pouca água e comida e eles acabaram perdendo a estrada de vista. “Quando vimos estávamos no meio do campo. Andamos seguindo uma linha de trem por 5 km e a situação foi ficando insegura”, diz Pete.
David e Adam chegaram a ser eletrocutados pela cerca elétrica de uma fazenda, mas eles acabaram conseguindo voltar à estrada principal. Para não ter que caminhar 18 km no escuro até o próximo destino nem acampar com as tendas molhadas na estrada, abriram uma exceção na ideia de fazer toda a viagem a pé e pegaram carona. “Ficamos decepcionados de termos que ir de carro, mas estávamos em sérios apuros e tivemos que colocar a segurança em primeiro lugar”, diz Adam.
Mas ele emenda que a maior parte do tempo a viagem rendeu boas lembranças. Na cidade de Balde, por exemplo, jogaram bola com um time local que é considerado um exemplo bem-sucedido de como o esporte pode ajudar a melhorar.
“Encontramos o Teto, um homem incrível que fundou esse time para reduzir os índices de criminalidade e abuso de drogas na região. Em dez anos, o time já ganhou 79 troféus e tem mais de 60 jogadores”, diz Adam. Eles também foram convidados para comer um típico churrasco argentino na casa de Teto.
Pete lembra ainda o momento em que eles puderam ver a Cordilheira dos Andes, ao saírem de Mendoza. “A Argentina é um país muito bonito, e as pessoas têm sido generosas e prestativas”, afirma. .
Ele e David falam espanhol e Adam está aprendendo o idioma “devagar”. “Quando chegarmos ao Brasil confiamos em nossa mistura especial de espanhol, português básico e inglês lento”, brinca o britânico.