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Egípcios voltam a lotar praça

Inconformados, dezenas de milhares de egípcios voltam a lotar praça Tahrir.

Publicada em 02 de Junho de 2012 �s 20h57


 Dezenas de milhares de egípcios prometem passar a noite deste sábado (02/06) na praça Tahrir em protesto contra o resultado do julgamento do ex-presidente Hosni Mubarak e a presença de Ahmed Shafiq, ex-premiê do mesmo regime, no segundo turno das eleições presidenciais do país.

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Mubarak foi condenado nesta manhã à prisão perpétua em razão da morte de manifestantes durante os protestos da Primavera Árabe egípcia que teve início em janeiro de 2011 e culminou com a sua renúncia, no dia 11 de fevereiro do mesmo ano. O ex-ministro do Interior Habib al Adly também foi condenado à mesma pena.


Vista aérea da Praça Tahrir, símbolo das manifestações populares no Cairo.

Após o anúncio da sentença, ainda pela manhã, a praça Tahrir foi fechada. Apesar do forte calor, as autoridades já esperavam um grande afluxo de pessoas, o que foi confirmado durante o dia. Às 23h locais (17h em Brasília), milhares de pessoas de todas as idades e ideologias políticas lotavam a praça mitificada pela revolução de janeiro de 2011. As ruas adjacentes também foram tomadas por bandeiras e caras-pintadas com as bandeiras do Egito.

Além de não se conformarem com a sentença – os manifestantes gostariam que o ex-presidente fosse condenado à morte, como pediu a Promotoria – os manifestantes também não se conformavam com a absolvição de seis agentes de segurança por falta de provas e também dos filhos de Mubarak, por prescrição dos crimes. Os manifestantes temem que, se eleito, Shafiq consiga revogar a prisão de Mubarak.

“Estou indignada com o resultado do julgamento. Mubarak foi condenado, mas seus cúmplices não. Estas eleições não são justas, estão nos enganando. O SCAF (Conselho Supremo das Forças Armadas) está por trás deste processo, por isso (Ahmed) Shafiq conseguiu tantos votos”, explica Fatma, engenheira de 26 anos. “Não há independência nestas eleições. Votei em Hamdeem Sabahy [Partido da Dignidade, esquerda] no primeiro turno, mas vou boicotar o segundo turno”.


Manifestantes nos limites da Praça Tahrir; à direita, um muro criticando Mubarak e Shafiq.

Na última segunda-feira (27/05), algumas centenas de pessoas já haviam se concentrado em Tahrir para protestar contra o resultado do primeiro turno. O candidato preferido por 34% dos eleitores do Cairo – Hamdeem Sabahy – não passou à etapa seguinte, o que provocou indignação na capital egípcia. A adesão ao protesto foi menor do que a esperada e os manifestantes foram perdendo gás durante a semana.

“Hoje é diferente porque estamos todos na mesma causa. Estou frustrado. Voto em qualquer um que seja a favor da revolução. Não quero que Ahmed Shafiq ganhe, seria muito triste”, revelou o estudante Saleh, de 22 anos.

Jovens cantavam os hinos da revolução, muitos deles adaptados com ofensas a Shafiq, Outros se aventuravam nos postes para poder bradar suas convicções políticas. “Shafiq kosomo, Shafiq kosomo” (“Shafiq vagina”, em tradução livre), gritava um grupo de cem jovens que carregava tambores e fogos coloridos.


Shafiq, outro alvo dos protestos, não venceu no Cairo, onde a vitória ficou com a esquerda.

“Não é justo. Mubarak deveria ser morto. Se Shafiq ganhar, o Egito vai entrar em ebulição. O que estamos fazendo neste país desde janeiro (de 2011)? Para que tantas lutas e mortes se temos um candidato que seria a continuação do regime de Mubarak?”, perguntou à equipe de Opera Mundi o advogado Mohamed, de 38 anos.

A corrida eleitoral para a presidência havia fragmentado as manifestações no Egito, mas a situação política atual, com o candidato Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, e o antigo ministro do regime de Mubarak, Ahmed Shafiq, no segundo turno podem mais uma vez unir a população em um projeto comum – salvar a esperança da revolução.

"É uma vergonha que a nossa luta tenha terminado desta maneira, com Shafiq no segundo turno. Vamos voltar à situação anterior à revolução", explica Ahmed, um pipoqueiro de 32 anos que aproveita a movimentação para complementar a renda familiar.

“Obviamente não quero que Shafiq ganhe, mas também não acho que um governo islâmico vá colocar o Egito em uma situação muito boa. Não vou votar no segundo turno e estou convencendo os meus amigos a um boicote geral”, explica, resignada, uma mulher que se intitula “ex-manifestante” e preferiu não se identificar.

"A revolucao era a nossa esperança, mas as pessoas não estão entendendo o processo. Para a maioria da população, nada mudou na vida deles e acabam votando nos nomes conhecidos. Shafiq no segundo turno demonstra que não sabemos o que toda esta luta significa, onde queremos e podemos chegar", diz a ativista Mona, 38 anos, que trabalhou na campanha de Sabahy.
Tags: Egípcios voltam... - Cairo - Mubarak e Shafiq.

Fonte: UOL �|� Publicado por: Da Redação
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