Primeira constatação: em São Paulo, há mais eleitores identificados com valores conservadores do que liberais. Mas não em quantidade suficiente para formar maioria, pois um contingente considerável deve ser enquadrado na categoria mediana, nem conservador, nem liberal.
Segunda constatação: são os conservadores que estão dando impulso ao candidato Celso Russomanno (PRB), líder isolado na disputa pela prefeitura com 35% das intenções de voto.
No segmento dos conservadores, o maior na escala que classifica os eleitores em cinco grupos conforme suas inclinações políticas, Russomanno atinge 41%.
Todos esses dados foram apurados pelo Datafolha, na pesquisa de 18 e 19 de setembro com 1.802 pessoas e margem de erro de dois pontos.
Esta é a primeira vez que o Datafolha posiciona os paulistanos numa escala de conservadorismo e liberalismo.
O trabalho foi feito a partir de um conjunto de questões envolvendo valores sociais, políticos e culturais, como a influência da religião na formação do caráter e o entendimento sobre as causas da criminalidade, por exemplo.
A partir das respostas, o instituto agrupou os eleitores em cinco categorias. Os extremamente conservadores representam 10% do eleitorado. Conservadores são 34%. Medianos, 23%. Liberais somam 27%. E extremamente liberais, 6%.
Entre os eleitores simpáticos ao tucano José Serra (21% das intenções de voto), também há predominância conservadora. O recorde de Serra ocorre entre os extremamente conservadores, 24%.
Já o petista Fernando Haddad (15% das intenções de voto) aparece com destaque no polo oposto. Se a eleição fosse feita apenas entre as pessoas identificadas como extremamente liberais, Haddad seria o líder, com 24%.
PERFIL
Num debate sobre conservadorismo no fim de agosto na USP, o cientista político André Singer citou algumas características que, no seu entendimento, são definidoras do conservadorismo.
Entre elas estão uma tendência forte ao individualismo, a concepção de que os problemas sociais se resolvem por meio da iniciativa privada e a rejeição a qualquer forma de intervenção social pelo Estado. O liberalismo, portanto, seria o oposto disso.
Nos perfis apurados pelo Datafolha, as distinções mais evidentes ocorrem nos extremos, como era de se esperar.
A fatia de extremo-conservadorismo é a única que tem mais homens que mulheres (61% masculina), a de eleitores mais velhos (média de 49 anos) e a com o maior contingente de pessoas com ensino fundamental (42%).
Já os extremamente liberais são os mais ricos (24% têm renda familiar superior a R$ 6.220), os mais jovens (37 anos) e os mais escolarizados (58% têm ensino superior).
Outras pistas estão nas respostas às perguntas usadas para fazer os agrupamentos.
A questão que mais dividiu os paulistanos é a que trata da pena de morte. Para 56%, "não cabe à Justiça matar uma pessoa, mesmo que ela tenha cometido um crime grave". Outros 41% acham que a pena de morte "é a melhor punição" nesses casos.
A frase com maior vantagem sobre sua alternativa foi "o uso de drogas deve ser proibido porque toda a sociedade sofre com as consequências", com 81% de aceitação. Ganhou de "Acreditar em Deus torna as pessoas melhores", aprovada por 79%.