A vitória ou derrota da presidente Dilma Rousseff na eleição presidencial de outubro vai determinar se a bolsa brasileira vai cair ou disparar até o fim de 2014, com uma diferença de mais de 10 mil pontos no principal índice da Bovespa entre os dois cenários, mostrou uma pesquisa da Reuters.
O Ibovespa acumulou alta próxima de 4 por cento no ano até o fechamento de 25 de junho, sustentado principalmente pelo ingresso de investidores estrangeiros.
O mercado acionário brasileiro iniciou o ano em baixa e se recuperou a partir de meados de março, depois que o Ibovespa atingiu seu menor nível em quase cinco anos. De lá para cá, a valorização acumulada ficou perto de 19 por cento.
Um dos catalisadores da alta vista a partir de março, segundo especialistas, foi a possibilidade de mudança no governo atual, que muitos participantes do mercado acusam de ingerência sobre empresas estatais.
Diferentemente de outras pesquisas recentes, analistas questionados pela Reuters na semana passada não conseguiram estimar o patamar em que a bolsa deve encerrar 2014 sem levar em conta o desfecho da eleição de outubro.
De 16 analistas consultados, 15 forneceram, cada um, duas projeções para o Ibovespa, considerando vitória ou derrota de Dilma. Apenas um analista tinha uma estimativa seja qual for o resultado da eleição presidencial.
Se Dilma for reeleita, o Ibovespa deve encerrar o ano a 51.250 pontos, queda de 4 por cento em relação ao fechamento de 25 de junho, segundo a mediana das previsões obtidas pela Reuters. Contudo, caso perca, o índice pode chegar a 62 mil pontos no fim de dezembro, com valorização de 16 por cento frente ao patamar atual.
"Se ela perder, o mercado se recupera, porque vai acabar ocorrendo um choque de credibilidade com a alternância de poder", disse o sócio da Órama Investimentos, Álvaro Bandeira.
Alguns participantes do mercado, no entanto, mostraram cautela sobre possíveis mudanças na política econômica, independentemente do vencedor. "O próximo governo vai ter que implementar uma série de reformas e, até isso acontecer, vai demorar um pouco. Não estou contando com muitos ajustes", disse o gerente de renda variável da H. Commcor, Ariovaldo Santos.
Santos afirmou que uma eventual derrota de Dilma levantaria ações como a da estatal Petrobras, que atualmente é desfavorecida pela disparidade de preços dos combustíveis entre os mercados doméstico e internacional. Mas ele questiona como mudanças efetivas seriam implantadas, como uma nova política de preços para a companhia. "Que mágica vai ser feita para não aumentar a inflação?", perguntou.
As ações preferenciais da petroleira acumulam alta de 7,5 por cento em 2014, beneficiadas por pesquisas eleitorais que mostram que, embora Dilma continue na liderança, há maior chance de segundo turno. A também estatal Eletrobras subiu 21,3 por cento no ano e Banco do Brasil avançou 8,4 por cento.
Alguns analistas alertaram ainda que problemas estruturais do Brasil de longo prazo continuarão pesando sobre o humor do mercado independentemente da eleição. Os principais são a alta inflação, que pode levar a um novo ciclo de aperto monetário, e a fraqueza da economia.
Outras preocupações são as indicações do banco central norte-americano Federal Reserve sobre quando pode elevar os juros, o que reduziria a atratividade de investimentos em países emergentes como o Brasil, e a desaceleração do crescimento da China, principal parceiro comercial brasileiro.
Ainda assim, relatório recente do Credit Suisse afirmou que o crescimento econômico global pode acelerar mais tarde neste ano, o que favoreceria mercados mais cíclicos, como o Brasil.
Diante dos múltiplos cenários, até o segundo turno da eleição, em 26 de outubro, só há uma certeza entre os analistas: a volatilidade do Ibovespa em reação às pesquisas eleitorais deve continuar.
MÉXICO
No México, o índice IPC, que está quase estável no ano, deve encerrar 2014 a 45.519 pontos, alta de 6 por cento em relação ao fechamento de 25 de junho, segundo analistas consultados na pesquisa.
"A performance que estamos esperando depende de maior crescimento econômico nos Estados Unidos e no México após a desaceleração que vimos recentemente no México", disse o analista Arturo Espinosa, do Santander México.
A demanda por ações mexicanas foi afetada pelo crescimento abaixo do esperado na segunda maior economia da América Latina. O governo do México cortou as previsões de crescimento para cerca de 2,7 por cento neste ano, e muitas ações parecem caras diante das expectativas de resultados corporativos.