Imagem: Clique para ampliar A duas semanas do início da Copa do Mundo, muitos dos hospitais situados no entorno dos estádios — considerados como de retaguarda — sofrem com os problemas de sempre: a superlotação, obras inacabadas e aparelhos que não funcionam. Apesar disso, as secretarias estaduais de Saúde parecem seguras de que estão prontas para atender a demanda que virá junto com o campeonato de futebol.
Em Fortaleza (CE), alguns dos hospitais que fazem parte da rede de urgência e emergência do plano que foi traçado para a Copa são alvo de denúncias que vão de goteiras à falta de medicamentos, passando pela escassez de leitos e profissionais de saúde. O GLOBO visitou os hospitais distritais Maria José Barros de Oliveira e Evandro Ayres de Moura, mais conhecidos como Frotinhas de Parangaba e Antônio Bezerra, e instalações precárias e pacientes que esperavam há cinco dias por um leito. No caso mais grave, um homem recebia transfusão de sangue no corredor. saiba mais Paes desiste de criar regras para ordenar manifestações na cidade PM terá mais 1.600 soldados nas ruas a partir desta segunda-feira Brasileiro cria de café do Maracanã a tanga com bojo para lucrar com Copa A 14 dias da Copa, diárias de imóveis para alugar caem 25% no Rio, diz Creci MP do Trabalho vê pressão dos grevistas devido à Copa. Leia mais sobre Copa do Mundo 2014
— Não temos condições de dar retaguarda a ninguém na Copa, tendo em vista a redução de pessoal, e a demanda crescente — disse o cirurgião Roger Ximenez, no Frotinha de Antônio Bezerra: — Nossos corredores vivem lotados, pois não temos leitos suficientes. Hoje, existem cinco pacientes no corredor, mas já tivemos 47.
Infiltrações na Neurocirurgia
No Frotinha de Parangaba, pacientes se espalhavam sobre macas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
— (Deixar macas) representa um prejuízo para o serviço — afirmou Ximenez.
A situação precária já foi identificada e consta num relatório do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec) em parceria com o Conselho Regional de Medicina. O documento já foi levado ao prefeito Roberto Cláudio, que prometeu iniciar obras nessas instalações em 2015.
De acordo com o plano de ação em saúde da Copa, poderão ser encaminhados para essas unidades pacientes que apresentarem um quadro que não pode ser resolvido nos postos de saúde e nas unidades de pronto-atendimento distribuídas no entorno dos estádios.
No Rio de Janeiro, o principal hospital de retaguarda, pela proximidade com o Maracanã, é o Souza Aguiar. Numa visita ao local, a reportagem constatou buracos no teto, rachaduras nas paredes, infiltrações, fios desencapados e banheiros sujos na enfermaria da Neurocirurgia. Na ala de Radiologia, três aparelhos de raio-x estavam em manutenção, gerando fila para exames no corredor.
Procurada para comentar a situação, a assessoria de imprensa da Secretaria municipal de Saúde disse que a unidade está sendo reformada e que os reparos serão feitos assim que possível. Quanto aos aparelhos quebrados, disse que não faltam equipamentos para atender aos pacientes.
Para a subsecretária estadual de Vigilância em Saúde do Rio, Hellen Miyamoto, a previsão é de que 98% dos problemas de saúde durante a Copa sejam resolvidos dentro do Maracanã pelos polos de atendimento móveis criados sob a responsabilidade do Comitê Organizador Local. Por isso, será “mínimo” o volume de pacientes transferidos para hospitais da região. Segundo Hellen, o Rio não contratará mais médicos ou novos veículos e equipamentos para os hospitais da rede pública.
Em caso de acidentes com múltiplas vítimas, o Estado colocaria em ação o plano de contingência, ativando todos os recursos das unidades de saúde municipais, estaduais e federais. Segundo Hellen, cada uma delas já foi treinada para saber como atuar.
Em Recife, o governo se sente igualmente preparado para atender às eventuais demandas de saúde dos 230 mil turistas que são esperados na cidade. A Secretaria Estadual de Saúde, Ana Maria Albuquerque, informou que 3.500 profissionais foram capacitados para atuar em situações de emergência.
— Estamos montando uma grande estrutura e acreditamos que ela é bem maior do que a demanda — disse ela.
A rede de hospitais particulares de Recife lançou uma ouvidoria bilingue para atender possíveis pacientes. O GLOBO testou o serviço e teve sucesso no contato. As opções em inglês e espanhol, no entanto, só estarão em funcionamento nos dias em que a cidade recebe jogos da Copa.
Em São Paulo, o hospital mais próximo do Itaquerão é o Santa Marcelina. Ele seria a primeira opção para encaminhamento de vítimas. Às vésperas do mundial, seu pronto-socorro ainda tem obras para ser ampliado e modernizado. Outros 14 hospitais gerais podem atender as ocorrências. A maioria deles, no entanto, enfrenta diariamente filas de espera de cerca de cinco horas e sofre com a falta de clínicos gerais, pediatras e ortopedistas. No Hospital Geral de São Mateus, por exemplo, há déficit de pediatras, clínicos e neurologistas.
‘Proteção divina’
Mas tanto prefeitura quanto o estado prometem dar conta dos atendimentos “extras” da Copa em hospitais de suas respectivas redes. Segundo Rejane Calixto Gonçalves, coordenadora da Secretaria Municipal de Saúde, haverá 360 plantões adicionais para médicos e 600 para equipes de enfermagem:
— A área de vigilância em saúde funcionará 24 horas por dia. Teremos também um centro integrado de operações conjuntas em saúde, que vai funcionar na sede do Samu na Copa. Ali teremos um representante de cada área, desde central de regulação de vagas à vigilância em saúde.
Em Manaus, o Samu estará com toda estrutura de pessoal, equipamentos e ambulâncias pronta para atuar. São 42 ambulâncias e 984 profissionais médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e condutores socorristas. Manaus deve receber cerca de 80 mil turistas. Por lá, o temor são as doenças tropicais, como dengue e malária.
Os principais hospitais particulares da cidade e as operadoras de planos de saúde já anunciam que focarão seus esforços nesse sentido. Seus plantões serão redobrados nos dias de jogos. Profissionais bilíngues foram contratados.
Geraldo Ferreira, presidente da Federação Nacional dos Médicos, criticou o governo federal por nunca ter criado uma rubrica para Saúde na Copa e diz que “o brasileiro tem que confiar na proteção de Deus” diante desse cenário.
— Dados oficiais indicam que, em dia de jogo, 100 mil pessoas circulam perto dos estádios e que até 2% delas precisarão de atendimento. Entre esses pacientes, 0,5% estará em caso grave. Juntando isso ao que vemos nos hospitais, temos mesmo que contar com a proteção divina.